Sempre nesta época, um efêmero vento morno começa a soprar à beira do Lago Michigan, em Chicago. E com ele, há décadas, ecoam as notas do Ravinia Festival. Este ano, "The Season of the Century", como está sendo chamada a temporada, terá um certo tom tropicalista: Caetano Veloso mostrará um pouco do que tem a Bahia em um templo a céu aberto da música universal.

O Ravinia Park, na verdade, nao fica em Chicago, mas em Highland Park, charmosa e rica cidadezinha de 30 mil habitantes, a meia hora de trem ao norte da "cidade do vento". Durante todas as tardes, nos próximos três meses, nao há melhor programa sem pecado, do lado de cima do Equador.

Ravinia é a residência de verao da Orquestra Sinfônica de Chicago, hoje considerada a melhor do país. Sob a regência e direçao de Chistoph Eschenbach, a sinfônica terá este ano um programa excepcional, com dúzias de celebridades convidadas.

Apenas alguns destaques, por ordem cronológica. Dia 26, o cello brilhante de Yo-Yo Ma executará Haydn, Shumann, Brahms e Beethoven. A noite internacional será em 9 de julho, com a sinfônica regida por Semyon Bychcov e o duo de piano de Kátia e Marielle Lab que. No programa, "Concerto em Mi Maior para Dois Pianos", de Mendelssohn e a "Sinfonia em Dó Maior", de Schubert.

A Chicago Symphony Orchestra, quem diria, também faz seus vôos-solo pela Broadway. Dia 17 de julho, o vencedor de três Oscars Marvin Hamlisch, maestro e compositor, rege um tributo a Kern, Bernstein e Soudhein. A soprano Dawn Upshaw também apresenta Sondhein e Bernstein, além de Gershwin, dia 23 de julho - acompanhada pela sinfônica e sob a regência de Eric Stern.

O violoncelista brasileiro Antônio Meneses (virtuose reconhecido em todo o mundo e muito menos do que merece aqui, para variar) integra o Beaux Arts Trio, que tocará, dia 26 de julho, peças de Beethoven, Shostakovich e Dvórak.

Os balés estao concentrados em duas semanas do festival. De 16 a 19 será a vez de um clássico: The Joffery Ballet of Chicago. De 1 a 4 de setembro, na semana Ruth Page, apresenta-se o Hubbard Street Dance Chicago.

O Ravinia Festival é uma explosao veronil de cultura erudita e popular, envolta em incomparável atmosfera de convívio comunitário. Milhares de pessoas chegam a pé, de bicicleta, de trem, carregando crianças e cestas de piquenique. Para entrar no parque, pagam-se de US$ 8 a US$ 10. A novidade deste ano: a partir de agora é proibido fumar dentro do Ravinia Festival! Mais norte-americano e politicamente polêmico, impossível.

Por US$ 8, alugam-se duas cadeiras de praia e um banco que serve de mesinha. E, esticando uma toalha, a farofa chique está montada, com flores, vinhos, patês, queijos, paes, sushis e o que mais conseguir-se carregar. Os restaurantes do parque também preparam piqueniques ou jantares sofisticados, em pleno gramado. Para assistir formalmente aos concertos, no anfiteatro, paga-se de US$ 15 a US$ 50 dólares, dependendo do lugar escolhido e do espetáculo.

Quando anoitece, bem no lusco-fusco, lá pelas 20 horas, começa o show. Velas sao acesas por todo o parque. De preferência de citronela, porque mosquito americano, acredite, também ataca doído. O silêncio é denso. Homens em ternos negros passeiam entre a platéia cuidando para que só a música seja ouvida. Mas o rigor é só em dia de clássico.

A cada noite no Ravinia, há a invasao de uma tribo diferente. Além do erudito, o festival apresenta muito jazz e pop. Herbie Hancock e Wayne Shorter; Oscar Peterson, Noa, Doobie Brothers, Donna Summer; Al Jarreau, Peter, Paul & Mary, Buddy Guy, Natalie Cole - e Caetano Veloso, "o mais celebrado cantor e compositor do Brasil", segundo os organizadores. Deu também no "New York Times". No parque, em plena terça-feira, Caetano, acompanhado por uma banda com 17 integrantes, vai mostrar músicas do seu novo álbum, Livro, além de antigos sucessos e cançoes inéditas.

Ravinia é assim. Eclético, inesquecível. A lista de apresentaçoes impedíveis é interminável e por isso vale a pena consultar o site do festival na Internet. Mas o melhor mesmo é poder ler o programa estirado na relva, à sombra de um sol de verao, em Chicago.