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Vírus da AIDS pode ser usado para tratar doenças genéticas
Do Diário do Grande ABC
04/05/2000 | 16:01
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O temível vírus da AIDS, tornado inofensivo artificialmente, poderá ser utilizado em breve como "transportador de genes-medicamentos", a fim de tratar enfermidades genéticas, cânceres e talvez a própria AIDS, anunciou nesta quinta-feira uma equipe de cientistas do Instituto Pasteur de Paris.

Este trabalho, cujos resultados sao publicados na revista científica norte-americana Cell, foi realizado por um especialista em genética, Pierre Charneau, 36 anos, na unidade de oncologia virótica dirigida pelo professor Luc Montagnier.

"Todos os genes do vírus serao substituídos por 'genes-medicamentos' e do vírus só guardaremos a maquinária que lhe permite entrar nas células", informou o dr. Charneau.

"Estamos cem por cento seguros de que nao há nenhum risco de transmitir acidentalmente a AIDS ao utilizar esta técnica, já que os instrumentos de que dispomos nos permitem afirmar que nenhum vírus residual subsistirá', acrescentou.

O cientista acaba de demonstrar a eficácia do vírus da AIDS para fazer chegar, ao organismo de uma paciente, genes que sirvam para substituir os que nao funcionam ou só funcionam parcialmente e que, por tal motivo, provocam enfermidades genéticas.

Para tentar corrigir uma enfermidade ligada ao defeito de um gene ou sua imperfeiçao total, dois tipos de vetores foram utilizados - derivados de retrovírus do câncer de ratos e de adenovírus como o vírus do resfriado - mas até agora só um teve êxito, registrado no hospital Necker de Paris.

Os retrovírus clássicos integram o gene terapêutico e nao sao rejeitados pelo sistema imunitário do paciente.

Mas só podem transferir esses genes a células em curso de multiplicaçao, o que compromete fortemente seu emprego já que as células que constituem o alvo privilegiado da terapia genética (células sangüíneas, neurônios, células musculares, células do fígado) sao em geral células que já nao se dividem, ou se dividem muito pouco.

O vírus do resfriado tem a vantagem de poder transferir genes em células que nao se dividem. Mas desencadeia ao mesmo tempo uma reaçao do sistema imunitário do paciente que elimina ao mesmo tempo esses ``intrusos' e as células tratadas.

``Estas desaparecem do organismo do doente em algumas semanas e o tratamento só é eficaz a curto prazo', frisou Pierre Charneau.

Até agora dos 397 programas de testes de terapia genética realizados no mundo, 252 concernem a câncer de mama, do pulmao, do sangue, da pele e do cérebro.

Vêm em seguida 53 programas realizados em quinze enfermidades monogênicas (devidas a um só gene deficiente), como a deficiência imunitária das crianças que vivem totalmente isoladas do ar exterior, e depois 33 programas sobre a AIDS. No total, 3.278 pacientes seguem esses tratamentos experimentais.




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