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Maluf promete concluir fura-fila
Paulo Carneiro
Da ARN, em Sao Paulo
02/09/2000 | 19:07
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Administrar é reduzir a violência e criar empregos. Esse é o mote com o qual o candidato do PPB à Prefeitura de Sao Paulo, Paulo Maluf, tenta passar para o segundo turno. Seu modelo de administrador é o prefeito de Nova York, Rodolph Giuliano, que, segundo afirma, reduziu "drasticamente" os índices de criminalidade e revitalizou o turismo na maior cidade dos Estados Unidos. "Com a violência controlada, surgem os investidores e os empregos", afirma o ex-prefeito.

O tempero do discurso sao as críticas à ex-prefeita Luiza Erundina e ao vice-governador licenciado, Geraldo Alckmin. Os três estao embolados no segundo lugar nas pesquisas de intençao de voto, ao lado do senador Romeu Tuma, o que caracteriza empate técnico.

Maluf acusa Geraldo Alckmin e o governador Mário Covas de ser responsáveis pelo aumento da criminalidade. "Essa dupla foi a maior desgraça que a Sao Paulo já teve na área da segurança", disse em entrevista exclusiva ao Diário.

Para justificar a afirmaçao, exibe dados da Secretaria da Segurança Pública sobre o aumento do número de carros roubados ou furtados no Estado no primeiro semestre do ano: "Foram roubados 120 mil veículos. Mais do que a Volkswagem consegue produzir".

Maluf também acusa a candidata do PT, ex-deputada Marta Suplicy, que lidera a corrida sucessória, de nao entender o suficiente de adminstraçao pública para governar a maior cidade do país. "Uma pessoa inexperiente pode até dar certo, mas é muito difícil". Segundo ele, Marta Suplicy, que é sexóloga, entende de sexo, mas isso nao "ajuda a administrar Sao Paulo".

O ex-prefeito afirma porém que nao é contra o projeto de uniao civil entre homossexuais, proposto pela ex-deputada. "Nao critico o fato de homem gostar de homem ou mulher gostar de mulher. Só acho que isso nao é prioridade para quem quer ser prefeito de Sao Paulo". Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Diário - O senhor venceu o PT com relativa facilidade no segundo turno em 1992, mas este ano o quadro é inteiramente diferente do existente há oito anos. Caso o senhor passe para o segundo turno e tenha como adversária a candidata do PT , Marta Suplicy, como será a correlaçao de forças?
Paulo Maluf - O PT teve na cidade de Sao Paulo uma administraçao que nao deixou saudades. Entre 1989 e 1993, o PT ficou no governo nomeando funcionários, levando a CMTC à falência e paralisando todas as obras iniciadas por Jânio Quadros, por isso perdeu a eleiçao para mim e perdeu também a eleiçao para o Senado. Em 1996, o PT tentou novamente voltar à Prefeitura e perdeu. A história se repetiu em 1998, quando houve eleiçoes para o governo do Estado. A votaçao do PT foi muito fraca, sofrida. Evidente que queremos ir ao segundo turno e, pelo que indicam as pesquisas, nosso adversário será mais uma vez o PT. Nao será um embate difícil. No momento em que a populaçao se lembrar de que o PT parou a cidade, acredito que vá me eleger.

Diário - Mas o senhor deixou na Prefeitura um sucessor que nao é bem visto nem bem avaliado pelos eleitores, o prefeito Celso Pitta. Isso nao pode ser fatal para sua candidatura?
Maluf - Pelo contrário, isso me beneficia. Se o meu sucessor nao está bem visto nem bem avaliado, nao é por causa disso que a populaçao de Sao Paulo vai querer eleger por quatro anos um prefeito pior ainda. Minha força eleitoral decorre do fato de eu ter saído da Prefeitura bem avaliado. O eleitor, o cidadao de Sao Paulo, nao vai querer sofrer mais quatro anos. O Pitta passa, mas os problemas ficam, e com eles a grande questao que é saber quem irá resolvê-los. Quem tem competência e experiência para resolver isso tudo sou eu.

Diário - Ao contrário da última campanha, agora o senhor retoma a segurança pública como tema em vez das grandes obras. Isso significa que o programa de obras que caracterizaram suas administraçoes anteriores será abandonado?
Maluf - Nao se trata de abandono, mas de uma aceitaçao às exigências do momento. Cada administraçao tem uma prioridade. Quando fui prefeito e governador, tive uma prioridade para cada um desses períodos. Agora, a prioridade da cidade é segurança. A criminalidade em Sao Paulo está tao grande que já ultrapassou o Rio de Janeiro. Mas isso nao é nada, é só uma amostra do estado de abandono a que chegamos. Veja só: no primeiro semestre deste ano, foram roubados 120 mil carros em todo o Estado. Isso é um número maior que a produçao de veículos da Volkswagen em Sao Bernardo. Ou seja, a maior montadora do país produz menos do que o que os ladroes conseguem roubar.

Diário - Mas a sua propaganda coloca o combate ao crime como condiçao para a criaçao de emprego. A lógica nao seria o contrário, ou seja, a criaçao de emprego reduziria a criminalidade?
Maluf - Uma cidade com baixos índices de criminalidade atrai mais investimentos e, conseqüentemente, gera mais empregos. Nao dá para assistir calado a esse crescimento da indústria do roubo de carros. Entao, para ter mais empregos, precisamos ter mais segurança.

Diário - O combate ao crime é atribuiçao do prefeito ou do governador?
Maluf - Isso é atribuiçao do prefeito, sim. Em Nova York, a atuaçao do prefeito Rodolph Giuliani foi decisiva para a reduçao da criminalidade em 70%. O prefeito é responsável pela segurança, nao o governador. Para dar uma idéia aproximada do que se passa por lá, o número de turistas aumentou de 29 milhoes por ano para 37 milhoes por ano, tudo graças ao aumento da segurança. O fato de ter mais segurança gerou tanto emprego que hoje Nova York é obrigada a importar mao-de-obra de cidades vizinhas.

Diário - O que o senhor pretende fazer com os ambulantes e os perueiros de Sao Paulo? Vai enquadrá-los na economia informal?
Maluf - Todo indivíduo que trabalha merece respeito. Nunca persegui nem nunca vou perseguir trabalhador, seja ambulante ou perueiro. Mas tem de haver uma regulamentaçao. Nao é justo que na rua 25 de Março (tradicional centro de comércio) existam quatro ambulantes em cada calçada. Temos de fazer regras, mas nao cobrarei impostos deles. Quanto ao perueiro é a mesma coisa. Ele presta um grande serviço à populaçao entrando em ruas onde os ônibus nao entram. Mas ele deve ter uma disciplina de atuaçao.

Diário - O prefeito Celso Pitta prometeu aliviar a situaçao com o fura-fila, que nao foi concluído. O senhor concluirá esse projeto, se for eleito?
Maluf - Concluirei nao só o fura-fila mas todos os projetos iniciados. Nao vou fazer como Luiza Erundina, que aterrou dois túneis iniciados por Jânio Quadros e demitiu 40 mil trabalhadores.

Diário - O próximo prefeito herda uma dívida de R$ 16 bilhoes. Existe receita suficiente para saldar os compromissos com a dívida e administrar a cidade?
Maluf - Trata-se de uma dívida muito menor do que a do governo do Estado e a do governo federal, proporcionalmente. Vou dizer mais: teremos 30 anos para pagar. O ministro Malan foi muito generoso com Sao Paulo.




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