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Tremenda história, bicho!
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
21/10/2009 | 07:00
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Em vez de ficar "sentado à beira do caminho" na estrada do mercado fonográfico, o cantor e compositor Erasmo Carlos preferiu reatar a relação com o rock e presentear os fãs com livro e novo show. Aos 68 anos, o músico lança "Minha Fama de Mau" (Objetiva, 360 págs., R$ 44, 90), em que relembra fatos marcantes da vida pessoal e dos 49 anos de carreira.

Em tom bem-humorado e envolvente, o intérprete conta sobre a infância pobre na Tijuca - bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro -, onde arrumava confusões com Tim Maia. Já adulto, o Síndico continuava implicando com o amigo.

"Ele me chamava de ‘branco comercial' e dizia: ‘Você só faz m... Mas devo admitir que são m... bem-feitas'", conta Erasmo, aos risos.

O veterano recorda o início da paixão por ídolos como Elvis Presley e Bill Haley, os primeiros shows, a Jovem Guarda e o desbunde psicodélico na década de 1970, marcado por álcool e drogas. "A primeira intenção foi me divertir e dividir meus momentos com o mundo. Não consultei ninguém", garante.

O texto traz relatos sobre a parceria com Roberto Carlos, além de sutil referência ao TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) que aflige o Rei. Mas pode se frustrar quem procura outros "detalhes tão pequenos" sobre a intimidade do monarca da MPB, que conseguiu na Justiça a proibição da biografia Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo.

"Me confundem com o porta-voz do Roberto. Minha amizade com ele é uma linda passagem, mas minha vida é maior que isso", define.

Na lista de personagens importantes em "Minha Fama de Mau" destaca-se a ex-mulher de Erasmo, Narinha, que se suicidou em 1995. Não faltam divertidos causos sobre artistas como Juca Chaves - que compartilhou duas garotas com o Tremendão em orgia nos anos 1960 - e Wanderléa, que o cantor observava nua por uma fresta nos camarins do programa Jovem Guarda. Entretanto, ele jura que nunca passou disso com a Ternurinha.

SHOW - Na sexta-feira, às 22h, no HSBC Brasil, em São Paulo, o compositor apresenta o show do inspirado CD de inéditas Rock ‘n' Roll, indicado ao Grammy Latino. Além de canções da nova safra, como "Olhar de Mangá" e "Cover", ele interpreta estandartes das "jovens tardes de domingo", como "Quero que Vá Tudo para o Inferno".

Erasmo Carlos - Show. Sexta-feira, às 22h. No HSBC Brasil - Rua Bragança Paulista, 1.281, São Paulo. Tel.: 4003-1212. Ingr.: 80 a R$ 140

Trechos

"Depois de enchermos o bucho, Tim Maia pegava novamente o violão e voltávamos para Good Golly, Miss Molly, Jenny, Jenny, Little Darling e Bop-a-Lena (...). Foi num desses ensaios que me ensinou no violão os acordes Mi, Lá e Ré, abrindo para mim as portas do abençoado mundo da composição."(página 65).

"Meu pai não assumiu a gravidez da minha mãe, por isso passei toda minha juventude achando que ele, Nilson Ferreira Coelho, estava morto. Preferiram me dizer isso que a verdade. Quando comecei a aparecer na TV, ele me procurou." (página 66).

"Tinha 17 anos e vivia com minha mãe - e os gatos, os periquitos e os cágados - no quarto alugado da Rua Professor Gabizo. (...) Na porta, estavam Trindade, Arlênio e um outro cara, que eles queriam me apresentar. O sujeito morava no bairro Lins de Vasconcelos e se chamava Roberto Carlos. (...) Conversamos bastante sobre rock, bebemos água da moringa de barro que eu tinha no quarto e comemos biscoito Aymoré." (página 102).

"Após nossa sobremesa, Roberto e eu deixamos Nara e Miriam saboreando um morango com chantilly e fomos ao banheiro. Ao conduzir instintivamente minha mão para a maçaneta da porta, fui impedido por Roberto, que abriu usando o ombro: ‘Erasmo, evite sempre pegar em maçanetas de banheiro público. É um perigo, bicho. Tem micróbios de todo tipo.'" (página 139).

"Com a conivência maquiavélica da equipe, cheguei para Wanderléa e disse: ‘Léa, o pessoal vai nos homenagear. Passaram numa floricultura e compraram dois lindos buquês de testículos do campo. Ela, com carinha de curiosa e sem a mínima maldade, perguntou: ‘Tes.. o quê? Que flor é essa?'" (página 185).

"Castigos não funcionavam muito com Tim, que não tinha limites. Cansei de receber ligações dele que começavam com sua gravação de Descobridor dos Sete Mares em volume altíssimo, enquanto sua voz berrava: ‘E aí, seu p..., tá ouvindo? Isso é que é som, vê se aprende a fazer!' Meia hora depois: ‘Agora, Erasmo Carlos, você vai ouvir o som do amor que as gatinhas estão fazendo comigo', e vinha o flaft, floft, flaft, floft" (página 234).




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