Cultura & Lazer Titulo
Mulheres reais e fortes
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
09/08/2008 | 07:00
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Calcada em experiências femininas reais e diversificadas, a Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes estréia hoje no Teatro Célia Helena, em São Paulo, As Três Graças - Uma Sátira Menipéia, escrita por Luís Alberto Abreu e dirigida por Ednaldo Freire. O espetáculo fica em cartaz até 28 de setembro, todas as sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. Os ingressos custam de R$ 10 a R$ 20.

Apesar de o título remeter às figuras mitológicas que representavam a amizade, a dança, e a beleza, o ponto de partida do roteiro não tinha muitas definições claras quando a parcela feminina do elenco da Fraternal,criada em 1993, saiu a campo a fim de coletar histórias e linguagens para o 18º espetáculo do grupo. Segundo o estilo criativo de Abreu, o texto foi produzido com a colaboração de todo o elenco.

No caso específico de As Três Graças foram destacadas as atrizes, de maneira que as entrevistadas se sentissem mais à vontade para revelar aspectos por vezes muito íntimos de suas rotinas."A tradição da dramaturgia, desde os gregos, está calcada na saga do herói guerreiro, portanto numa cultura milenar patriarcal. Queríamos investigar possíveis traços de matrilinearidade (quando apenas o nome da mãe concede privilégios aos filhos)",conta o diretor Ednaldo Freire.

Mas se a idéia inicial era que as atrizes Isadora Petrin, Márcia de Oliveira, Luciana Viacava e Mirtes Nogueira trouxessem rico material cômico relacionado às mulheres, a dupla de fundadores da companhia se deparou com depoimentos com forte carga que conduzia exatamente ao gênero oposto. Nada que frustrasse os planos. "O processo nos conduziu a uma forma que transcendeu a questão de gênero dramático, levando para uma mistura denominada pelo autor de sátira Menipéia, ou seja, a mistura de gêneros", explica Freire.

Em quase todos os depoimentos, um detalhe chamou a atenção dos pesquisadores. "Notou-se uma ausência muito grande da figura masculina na vida delas, seja do pai, seja de um companheiro. Elas se vêem muito sozinhas, inclusive para criar os filhos", diz Abreu.

Embora o perfil social não tenha sido fator determinante na escolha das entrevistadas, Abreu diz que a companhia procurou instituições femininas. "Em geral falamos com mulheres mais simples. Em um primeiro momento, buscamos saber experiências marcantes de suas vidas", conta.

Para compor o roteiro, Abreu condensou todas as histórias em três personagens tragicômicas: a primeira tem uma vaga idéia do que foi o seu passado, já que se lembra apenas de cinco fatos, a segunda é considerada uma tola por todas, já que o marido a engana e é casado com outra, e a terceira vive a renegar as dificuldades de seu cotidiano enquanto sonha em encontrar a mãe biológica. Assim como as mulheres que inspiraram o roteiro, todas sofrem as ausências e/ou a violência masculina.

"O que marcou demais nessas histórias é a força dessas mulheres, mesmo quando não há esperança. A sociedade é um ambiente muito hostil, que não permite a expressão da feminilidade", afirma Abreu. O nome da peça, definido depois de escrito o texto, se inspirou na figura mitológica das Três Graças (ou Cárites), que seriam filhas de Zeus com Eurínome. "São figuras muito bonitas, animadas", explica Luís Alberto de Abreu.

Além do quarteto de atrizes, atuam no espetáculo os atores Aiman Hammoud, Edgar Campos, Fernando Paz e Marcio Castro.

As Três Graças - Uma Sátira Menipéia. Peça. Com a Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes. Hoje a 28 de setembro. Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h. No Teatro Célia Helena - rua Barão de Iguape, 113, Liberdade. Tel.: 3209-0470. Ingr.: R$ 10 (meia-entrada) a R$ 20.




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