Punhos, suor e insistência. Parece puro clichê, mas a combinação de elementos segue como força motriz do boxe brasileiro na disputa de mais um de Campeonato Mundial. Composta por seis pugilistas (entre eles Paulo Carvalho e Yamaguchi Falcão, da AD São Caetano, que representam o Grande ABC), a seleção - que treina em Santo André - embarcou ontem para Milão (Itália), sede do evento que começa amanhã e vai até 13 de setembro.

Na bagagem, porém, as tradicionais histórias de superação inerentes ao pugilismo já mudam de conotação com o aumento gradativo de apoio e estrutura que a modalidade recebeu nos últimos tempos.

"Tudo mudou de panorama com o bolsa-atleta (salário mensal do governo para atletas de alto nível). Hoje em dia, entre esta cota e patrocínios, os pugilistas de nível olímpico chegam a tirar cerca de R$ 4.000. Isso possibilita a dedicação exclusiva ao esporte, e uma vida de atleta bem mais digna", comentou o técnico João Carlos Soares.

"As dificuldades nos esportes amadores brasileiros sempre vão existir. O boxe sempre é associado ao povão e à favela e isso faz parte da essência do esporte. Mas o futuro, certamente, é bem mais promissor do que há três anos, por exemplo", completou.

Bom exemplo que ressalta esta mudança de perfil é justamente Paulo Carvalho, da categoria mosca-ligeiro (48kg). Até pouco tempo, conciliava o trabalho de faxineiro com os árduos treinamentos diários.

O quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Pequim (China) ano passado, e o ouro no Pan-Americando de Boxe do México, no mês passado, porém, deram ao atleta nova perspectiva para prolongar a carreira com decência. "Trabalhar o dia todo e depois ter de aplicar mais de 1.000 socos nos treinos era bem complicado. Voltava para casa arrastado, e começava tudo de novo no dia seguinte. Mas consegui resultados expressivos. Agora, como, bebo e respiro só boxe. Enxergo minha profissão de lutador com outros olhos, muito mais abertos e otimistas", ponderou o atleta.