No Dia Nacional de Combate à Hipertensão não há muitos motivos para comemoração, segundo especialistas. De acordo com a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), aproximadamente 32% da população adulta brasileira tem a doença, o que significa incidência de um caso em cada três pessoas. As causas são multifatoriais e estão relacionadas, principalmente, à obesidade, histórico familiar, sedentarismo e má alimentação.

Os últimos dados do Ministério da Saúde sobre mortalidade nos municípios brasileiros é de 2009. Na região, foram 427 mortes naquele ano. No entanto, os números podem ser muito maiores, considerando que muitos óbitos registrados como infarto ou derrame, por exemplo, têm relação direta com hipertensão arterial. Só no ano passado, 1.142 pessoas foram internadas em hospitais públicos do Grande ABC com sintomas da doença. A média é de três internações diárias. No ano passado, Santo André, São Caetano e Diadema somaram 156 mortes relacionadas à hipertensão. As demais cidades não enviaram dados.

As recomendações para evitar ou controlar a doença são simples e bastante divulgadas atualmente. Não é necessário cirurgia, os remédios são distribuídos gratuitamente nas Farmácias Populares, é preciso controlar o peso e evitar o sedentarismo com prática regular de exercícios. Álcool, apenas sem abuso. Já o consumo excessivo de sal, vilão das dietas, é responsável por causar complicações cardiovasculares. "O ideal é não ingerir mais do que cinco gramas de sal por dia", recomenda o cardiologista e diretor científico do departamento de hipertensão arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Heno Lopes.

Hoje, entre 9% e 19% do total dos hipertensos brasileiros têm a doença controlada. "É uma porcentagem muito pequena. Mas não é problema só nosso. Os Estados Unidos mantêm hoje 37% dos seus hipertensos controlados, o que também é número baixo", explica. Geralmente a doença se manifesta entre 35 e 55 anos.

JOVENS
Entre crianças, a incidência é de cerca de 5%. Maus hábitos alimentares e sedentarismo são apontados como fatores de risco. Mas, diferentemente dos adultos, as complicações geralmente não são cardiovasculares. "É mais comum o surgimento de problemas renais. Há inflamação, a criança perde proteína, incha e tem pressão elevada. O excesso de sódio na alimentação é problema grave e precisa ser corrigido na infância", aconselha o diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado e cardiologista da Faculdade de Medicina do ABC, José Luís Aziz.

Segundo o especialista, atualmente os brasileiros consomem três vezes mais a quantidade de sal recomendada por dia. São cerca de 14 gramas ingeridas no período.

Cerca de 15% não sabem que têm a doença

Hoje, aproximadamente 40 milhões de brasileiros adultos são hipertensos. Desses, de 10% a 15% sequer sabem que têm pressão alta. A explicação é que a doença, silenciosa e assintomática, muitas vezes só é descoberta em situações de crise. Nesses momentos, os sintomas divergem. Podem surgir dores de cabeça, peso na nuca, tonturas e sangramento nasal. "Dor no peito e formigamento de membros dificilmente são sinais de hipertensão, mas sim de complicações que podem ter sido agravadas por ela", explica o diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado e cardiologista da Faculdade de Medicina do ABC, José Luís Aziz.

Hoje a doença é principal fator de risco para ocorrência de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Cerca de 70% das pessoas que tiveram derrame têm elevação de pressão.

Aos diagnosticados, a recomendação de exercício física é fundamental. "Quanto mais magro, menor é a pressão arterial. Exercício ajuda a emagrecer e é um vaso dilatador natural."

As prefeituras da região mantêm programas que ajudam a controlar a incidência da doença. A principal estratégia é realizada por meio dos agentes do Programa Saúde da Família, que fazem visita casa a casa e ajudam a manter a doença sob controle. Em 2011, apenas nas cidades de Santo André, São Caetano e Diadema, 2 milhões de comprimidos foram distribuídos gratuitamente nas unidades das Farmácias Populares.

Em São Bernardo, é realizado desde 2010 nas 32 unidades de Saúde o programa De bem com a vida, que inclui atividades esportivas no dia a dia dos pacientes da comunidade, como caminhada, danças circulares e ioga.

Paciente demorou 26 anos para iniciar tratamento

Carolina Garcia
Especial para o Diário 

A falta de informação sobre os perigos da doença acaba adiando o início do tratamento de alguns pacientes. Foi o caso do aposentado Edmir Azevedo Cleto, 66 anos, morador de Santo André. Ele descobriu ser hipertenso em 1983. "Só comecei a me tratar em 2009. Fiquei todo esse tempo sem me cuidar por negligência, e isso me rendeu problema renal. É silencioso. Você não dá tanta importância." Os remédios passaram a ser tomados diariamente e os exercícios foram incluídos na rotina há 15 dias. "Estou dormindo melhor."

Já a aposentada Maria Rosa Ribeiro Borges, 71, também de Santo André, resolver banir o consumo excessivo de sal e há quatro anos pratica hidroginástica. "Também evito massas e como bastante fruta. Faço avaliação toda semana. Minha disposição melhorou, não sinto mais o cansaço de antes." Ontem de manhã, ambos se exercitavam no Parque Celso Daniel, em Santo André.

CAMINHADA
A Secretaria Estadual da Saúde promove hoje, na Capital, caminhada contra a pressão alta que deve reunir 200 idosos. A partida será às 9h, no Centro de Referência do Idoso, Rua Voluntários da Pátria, 4.310, Santana. O evento é gratuito e voltado às pessoas com 60 anos ou mais. Não é necessária inscrição. No local também haverá palestras sobre a doença e aferição da pressão arterial.