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Bruno Patriani: ‘O tijolo ainda é moeda muito forte’
Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
02/12/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Diretor da Construtora Patriani, da região, Bruno Patriani não esconde otimismo com a retomada do mercado imobiliário no Grande ABC. Ele lembrou do período de forte queda após o boom vivido entre os anos 2008 e 2012 – justamente quando a empreiteira foi criada – e a recuperação do setor, até porque, segundo o empresário, o imóvel tem um diferencial: não desvaloriza. “Tijolo ainda é moeda forte. Nunca vi ninguém perder dinheiro com imóvel”, declarou. “Todas as cidades da região têm economia quente e potencial para investir na construção civil. Apesar de algumas travas, as administrações públicas tendem a ajudar o desenvolvimento urbano e nós fazemos parte disso.”


Quais as principais diferenças entre o cenário econômico de 2012, quando a Patriani foi criada, e o atual?

Em 2012, a construção civil registrou números expressivos provenientes de resultados superpositivos do setor entre 2008 e 2012, quando aconteceu o boom imobiliário. Consequentemente, toda a indústria da construção vinha acelerada, com altos indicadores de resultados, que foram expressivos para o PIB (Produto Interno Bruto) do País. Em 2014, começamos a sentir os sinais dolorosos das crises política e econômica no Brasil, com instabilidade de decisões econômicas e muitos outros fatores que desarrumaram tudo, nos levando a vários momentos de recessão técnica. Vimos o PIB despencar e o poder de consumo das pessoas cair. O sonho de comprar um imóvel foi ficando para trás, provocando o esfriamento do mercado imobiliário. Houve falta de investimentos públicos e o encolhimento de muitas construtoras. Muitos traumas aconteceram ao mesmo tempo. Hoje ainda lutamos para recuperar o desempenho da construção civil, mas já podemos considerar, mesmo de maneira tímida e lenta, que essa retomada tem elevado os indicadores, que o mercado investidor está mais confiante, as políticas econômicas têm estimulado taxas de juros mais atrativas e a geração de emprego tem acontecido. O caminho ainda é longo. Devemos lembrar que a construção civil tem enorme representatividade social em vários aspectos. A Patriani ter nascido exatamente no turbilhão da crise econômica nos fez amadurecer e criar plano de gestão criterioso para a solidez da empresa. Atualmente, estamos vivendo a taxa de juros mais baixa da história. Isso faz com que os nossos clientes optem por investir no mercado de imóveis, já que os investimentos de renda fixa mais seguros não estão dando resultado. Tijolo ainda é moeda forte. Nunca vi ninguém perder dinheiro com imóvel.

O mercado imobiliário passa novamente por período de crescimento. Os números de lançamentos dobraram na região no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado. A que se deve esse reaquecimento do mercado?

Desde o início do ano estamos tendo boas notícias com relação às condições para financiamento imobiliário. A primeira e a mais importante nesse aspecto é a redução da taxa Selic e dos juros. Com isso, os bancos baixaram as taxas de financiamentos, o que facilitou para o reaquecimento do mercado imobiliário. A redução da Selic para 5% ao ano fez com que as pessoas deixassem de investir em renda fixa para apostar em outros tipos de investimentos, como é o caso do mercado imobiliário. No Grande ABC, entre 2017 e 2018, quase não houve lançamentos. É natural que dois ou quase três anos sem novos empreendimentos, a demanda social por imóveis começou a acontecer e as construtoras foram voltando a colocar seus projetos no mercado. Todas as cidades da região têm uma economia quente e potencial para investir na construção civil. Apesar de algumas travas, as administrações públicas tendem a ajudar o desenvolvimento urbano e nós fazemos parte disso.

Santo André registrou o melhor resultado desde 2010 para o período (908 unidades). Por que a cidade despontou como destino ‘queridinho’ das incorporadoras?

Todas as cidades do Grande ABC têm potencial promissor na construção civil e populações que gostam de morar nelas. Santo André tem um papel forte na busca pelo desenvolvimento urbano e o mercado imobiliário contribui nesse processo. Além disso, observamos grande vontade da administração em agilizar e desburocratizar todo o processo de aprovações das áreas, outorgas etc. Naturalmente, as construtoras, inclusive a Patriani, vão para as cidades que mais nos abraçam e incentivam o nosso negócio. Santo André é uma cidade com um público que é a cara da Patriani, porque é uma cidade grande, com 718 mil habitantes, desenvolvida, e o mais importante, que busca melhorar seus padrões de tecnologia, segurança e qualidade de vida, consequentemente, favorecendo o crescimento imobiliário dentro do equilíbrio necessário para o desenvolvimento econômico.

Mesmo com os 1.062 apartamentos novos anunciados no Grande ABC no primeiro semestre, as vendas acabaram não acompanhando essa perspectiva. Foram comercializadas 769 unidades, queda de 48%. A que se deve esse cenário?

Se considerarmos que o mercado da construção civil viveu um forte e longo período de paralisação, com falta de renda e crédito, e havia um número grande de estoque, vejo com bons olhos esse desempenho. No fim do ano veremos a diminuição dos estoques. Historicamente, o segundo semestre sempre foi melhor que o primeiro. Teremos números muito melhores no fim deste semestre. Paralelamente a isso, a Patriani teve duas experiências fora da curva, com a venda em 30 dias do Allure Patriani, na Vila Assunção, em Santo André, em junho. Um empreendimento de alto padrão, com localização privilegiada num bairro tradicional da cidade, itens de sustentabilidade, vista para o Parque Central, com vaga para carro elétrico e depósito, ótima disposição dos espaços e com um público bem específico, algo fundamental nos dias de hoje. É muito importante entender o estilo de vida das pessoas, para oferecer o produto que elas realmente precisam. Outro lançamento que bateu recorde de vendas em setembro foi o Kiruna Patriani, em São Caetano. Ele foi vendido em apenas 12 horas. Esse tempo recorde chega a causar surpresa, mas a explicação para esse alcance está nos diferenciais inteligentes e a qualidade do imóvel.

Apesar da recuperação de investimentos em Santo André e Diadema, que possui destaque por conta das unidades lançadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, as demais cidades ainda não apresentaram alta nos números. São Bernardo e Mauá, por exemplo, não tiveram lançamentos no período. O que falta para alavancar o mercado nestas e nas outras cidades?

Tudo o que as administrações focam e querem desenvolver, de fato, desenvolvem. Algumas melhorias nas políticas para a verticalização, estudos mais detalhados das regiões de zoneamento e uma gestão mais rápida para aprovações nos possibilitam construir e colaborar para o desenvolvimento das cidades. Por enquanto, a Patriani não tem plano de atuar no programa Minha Casa, Minha Vida. É um projeto importante, que precisa de estudos minuciosos dos governos para entender a demanda habitacional que cada cidade precisa, a fim de diminuir o deficit. É importante criar planos diretores que atraiam as empresas para o projeto. No momento em que percebermos viabilidade para entrar no Minha Casa, Minha Vida, entraremos.

Assim como na compra de veículos, atualmente o consumidor de faixa etária mais jovem não tem o sonho de casa própria. Como o setor deve lidar com este público?

Fazemos muitas pesquisas dentro e fora do mercado para entender o perfil do público antes de construir os prédios. Muitos jovens ainda não tiveram a condição de rentabilidade para comprar um apartamento, mas acredito que eles querem sim ter um imóvel próprio. Acredito que vem da nossa cultura, desde a antiguidade, querer um lugar para morar. Diferentemente do carro, que é sabido que se perde muito dinheiro, o apartamento não (há desvalorização). Essa geração é precoce em muitos aspectos. Ela formará renda, por exemplo, na área digital, justamente para se monetizar e mais à frente comprar um imóvel à vista. Somos startup da construção civil e atentos a esses novos comportamentos. Já estudamos apartamentos para que esse público se identifique, como, por exemplo, com a readequação de espaços, oferecendo inovação, praticidade, conforto, acesso fácil à mobilidade urbana e tudo que atenda aos anseios dessa geração, que é digital, conectada e que espera tudo na mão, pois tempo para ela é precioso. Já estamos trabalhando com produtos que alinhem ótimo custo-benefício, inteligência, segurança e toda modernidade que os jovens precisam e podem ter acesso.

A região tem cada vez menos áreas disponíveis para a construção de empreendimentos. Ao mesmo tempo, as prefeituras são pressionadas a adotar medidas de restrição de verticalização nas cidades. Como conciliar estes dois pontos, mantendo o crescimento econômico do setor sem inviabilizar a parte urbana dos municípios?

As cidades têm as leis de zoneamento, nas quais as prefeituras estudam onde caberá ou não a verticalização. Isso precisa ser revisto sempre que surja uma área suprimida e uma demanda social por habitação. Precisa ser um estudo vivo e rotineiro, de modo que uma determinada área não seja inflada e outra totalmente desguarnecida e pobre de desenvolvimento urbano. Precisa haver um equilíbrio nas cidades. A construção civil está ligada a esse desenvolvimento, a fim de diminuir o deficit habitacional. As pessoas precisam de casas; as empresas, de prédios, e assim por diante para gerar a economia. É uma árdua peregrinação. Conseguir áreas prontas está raríssimo. Como as construtoras devem fazer? Precisamos nos moldar ao momento, comprando um sobrado hoje, uma casa amanhã e assim formando o terreno onde desejamos construir um prédio. Sempre obedecendo a lei de zoneamento determinada pela prefeitura para construir em cada bairro.

O emprego na construção civil não acompanha o nível de lançamentos neste ano. Por que as vagas continuam estagnadas? Como reverter essa situação?

O ciclo de construção civil a partir dos lançamentos é de cinco anos, entre a compra do terreno, aprovação do projeto e entregar uma obra, que dura em média de dois a três anos. Em 2019, vimos a retomada do segmento. A partir do próximo ano, esses lançamentos irão virar canteiros de obras e aí sim serão abertas muitas vagas de emprego, em diversos níveis de conhecimento e qualificação. Com isso, teremos uma movimentação mais acelerada da economia, porque naturalmente haverá mais geração de emprego, porém, devemos entender que esse impacto demora um pouco para acontecer. As construtoras do Grande ABC ainda não colocaram o pé no acelerador, mas a expectativa para o primeiro trimestre é muito alta. Se parte disso virar realidade, podemos dizer que haverá o pleno emprego.  

RAIO X

Nome: Bruno Patriani

Estado civil: solteiro

Idade: 29 anos

Local de nascimento: São Caetano

Formação: Administração 

Hobby: Tênis

Local predileto: Nova Iorque, EUA

Livro que recomenda: Mindset, de Carol S. Dweck, e Super Cérebro, de Deepak Choppa

Artista que marcou sua vida: Os empresários Elie Horn e Steve Jobs

Profissão: Empreiteiro

Onde trabalha: Construtora Patriani




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