Economia Titulo Crédito
Taxas mínimas de juros são para poucos

Agências da região apresentam condições
diferentes do que as sedes afirmam estar em vigor

Erica Martin
Pedro Souza
24/04/2012 | 07:10
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Nas últimas semanas sete bancos anunciaram reduções em suas taxas de juros. As linhas atendem à demanda de consumidores e empresas. Cheques especiais e rotativos do cartão de crédito foram os destaques. Mas os empréstimos de valores maiores, como o financiamento de veículo, saem caros como sempre ao consumidor. Na região, agências informam condições bem diferentes ao que as matrizes afirmam estar em vigor. E o custo efetivo acaba destruindo as taxas mínimas encantadoras.

O Banco do Brasil, em sua segunda campanha de reduções no período, colocou taxa mínima no financiamento de carros em 0,95% ao mês. Neste caso, um automóvel de R$ 25 mil, com entrada de R$ 10 mil, custaria 24 parcelas de R$ 701,91, sem contar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e os custos adicionais cobrados pela instituição.

Mas conforme a equipe do Diário constatou, o percentual mínimo só é valido para quem tem conta-corrente salário no banco, pague entrada superior a 40%, e liquide o restante em apenas uma parcela, ou seja, um mês após a liberação do valor. Em simulação com entrada de R$ 10 mil, em 24 vezes, a taxa seria de 1,43% ao mês, com parcelas de R$ 759,70. A funcionária, por meio do sistema interno do banco, não soube informar a taxa efetiva, mas afirmou que o valor estava incluído nas novas taxas da instituição. A matriz do BB contestou. Garantiu que a taxa mínima de 0,95% é para financiamentos em até 24 prestações. E informou que o banco é gigante e que problemas pontuais podem acontecer.

A instituição anunciou também queda na taxa máxima da modalidade. Caiu de 3,79% ao mês para 2,65%. Significa que a operação para um carro de R$ 25 mil com entrada de R$ 10 mil pode custar até 24 prestações de R$ 852,65, sem contar o IOF e demais custos. A diferença de gastos entre as taxas mínima e máxima do mesmo financiamento seria de R$ 3.617,92.

"Estou entendendo quais clientes vão conseguir essas taxas. Serão aqueles com muitos negócios no banco. Com alto nível de relacionamento, no mínimo, ou com renda alta", disse o professor do Insper e vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, José Dutra Sobrinho.

No Bradesco não foi diferente. Funcionários de agências na região destacaram que a taxa mínima dos financiamentos de veículos, de 0,97%, é apenas para operações com entrada de 40% do valor e o restante em até quatro parcelas, ou seja, R$ 3.841,38 por prestação, sem contar IOF e custos adicionais.

A sede do banco privado contrariou a informação e garantiu que os juros mínimos são para operações de 40% de entrada e o restante em até 12 vezes, portanto R$ 1.330,21 por parcela. E afirmou que ainda orienta os funcionários, mesmo tendo anunciado na semana passada as reduções que entraram em vigor ontem.

"O Bradesco está reforçando a comunicação com sua rede de agências por meio dos canais corporativos internos, que mantém com a rede. Além disso, dispõe de uma estrutura de diretorias e gerências regionais que já foram preparadas e estão coordenando trabalhos de comunicação com os gerentes da rede de agências, em todo o Brasil."

Na Caixa Econômica Federal, o menor custo do financiamento, de 0,89%, é para clientes que parcelarem a dívida em até 12 meses e pagarem entrada de, no mínimo, 50%. A Proteste também constatou que o banco público apresenta taxas distintas, 1,92% em São Paulo e 1,7% no Rio de Janeiro, para a operação em 24 vezes.

Por outro lado, as novas taxas no Itaú Unibanco são apenas para clientes que mantêm conta com a instituição há, pelo menos, um ano. Os juros mínimos, neste caso, também são direcionados a operações com 50% de entrada e o restante em até 24 vezes.

 

Brasil tem cartão mais caro das Américas

O Brasil tem as maiores taxas no rotativo do cartão de crédito nas Américas, afirmou o professor do Insper e vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil José Dutra Sobrinho.

Após levantamento de dados nas instituições financeiras e nos bancos centrais dos países americanos feito no ano passado, o especialista verificou que a Argentina é detentora da taxa média que mais se aproxima ao Brasil.

Pesquisa da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) revela que os juros médios do rotativo do cartão de crédito está em 238% ao ano - o último estudo da entidade ainda não considerava a redução anunciada pelos bancos, que só terá refelxo na próxima pesquisa.

O levantamento de Dutra Sobrinho aponta que os argentinos pagam, em média, 50% ao ano no rotativo do cartão. A diferença, desconsiderando os tributos das operações, entre uma dívida de R$ 5.000 no plástico, em seis vezes, chega a R$ 1.410,98 de um país para o outro.

Neste caso, os brasileiros gastariam R$ 7.028,08 para liquidar a fautra. Por outro lado, o débito no vizinho do Brasil ficaram em R$ 5.617,11.

O professor elogia a postura do governo, que está pressionando as instituições financeiras pela redução dos juros. PS

 

Análise de crédito continua rigorosa em todos os bancos

O HSBC cobrou 3,15% ao mês em um empréstimo pessoal de um cliente do Grande ABC, que preferiu não se identificar. O consumidor mantém conta-corrente salário no banco há quase cinco anos e pediu a taxa mínima da instituição, 1,99%. Mas teve resposta negativa.

Questionado, o banco afirmou que os juros oferecidos ao consumidor têm como base a análise de crédito e risco do banco. "O HSBC informa que atribui suas taxas em função do relacionamento que o cliente possui com o banco. As taxas publicadas são taxas de referência e variam de acordo com a evolução do mercado financeiro", explicou por nota.

A avaliação do cliente não é exclusiva do banco privado. As instituições deixaram claro que não haverá afrouxamento na análise de crédito.

REFINANCIAR - Todos os bancos destacaram que as taxas de juros reduzidas são para novas operações. Portanto, o cliente detentor de um empréstimo em andamento poderá tentar o refinanciamento nas agências, que configura nova transação.

Mas na avaliação do professor Mário Amigo, que ministra aulas na Fipecafi, Fia e Saint Paul Escola de Negócios, o consumidor enfrentará dificuldades para realizar esse processo.

Ele explicou que os bancos estão em fase de reestruturação de sistemas e cobrar menos por empréstimos ou financiamentos em andamento, refinanciando-os, pode causar impactos negativos nos resultados das instituições. PS




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