Obras de arte de alguns dos mais importantes artistas contemporâneos do Brasil e da Europa e livros raros com dedicatórias e anotaçoes pessoais do poeta modernista Murilo Mendes estarao em exposiçao a partir da próxima terça-feira em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A mostra é a mais abrangente exposiçao do acervo do poeta mineiro já realizada em sua terra natal e marca o início de um árduo trabalho da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para transformar Centro de Estudos Murilo Mendes (CEMM) em centro de referência nacional para a pesquisa e divulgaçao da obra do autor.

Os 78 livros que estarao expostos no Centro até 31 de agosto, ao lado de algumas cartas e cartoes postais de Murilo Mendes, pertenciam à coleçao pessoal do poeta e foram doados à universidade pela viúva do escritor, Maria da Saudade Cortesao Mendes, em 1976, um ano depois da morte de Murilo. Entre os 2 mil livros doados, há muitos exemplares de ediçoes de tiragens reduzidas, ediçoes especiais, primeiras ediçoes, obras com ilustraçoes originais de artistas consagrados e livros com dedicatórias manuscritas de autores ilustres, além de diversas anotaçoes feitas a lápis pelo poeta e que indicam seu processo de criaçao literária.

Os visitantes do CEMM poderao fazer um passeio pela vida e obra do poeta através dessas anotaçoes. Ao final de um livro do poeta francês Francis Ponge, por exemplo, Murilo Mendes anotou: ``poema composto com várias palavras inventadas'. O pequeno comentário, que pode passar despercebido, coincide com o lançamento por Murilo Mendes do livro Convergência, em 1970. Muitos dos poemas do livro lançam mao do artifício da invençao de palavras, o que pode revelar certa influência de Ponge na poesia muriliana.

Raridades como um exemplar de Luis de Camoes acompanhando de um comentário de que um dos versos do poeta português nao é decassílabo ou uma bíblia com uma oraçao escrita por Murilo Mendes em um pedaço de papel anexo também estarao presentes na mostra, para deleite dos leitores apaixonados pela poesia modernistas deste mineiro nascido em 1901 e falecido em Lisboa em 1975. Entre as dedicatórias dadas ao poeta - demonstrando os relacionamentos intelectuais e o caráter cosmopolita de Murilo Mendes -, estarao em exposiçao as de Clarice Lispector em Alguns Contos, de Manuel Bandeira feita em forma de verso, de Antônio Houaiss e de Lasar Segall, em um livro sobre ele escrito por Pietro Bardi.

Acompanhando os livros que povoaram a vida de Murilo Mendes, estarao ainda expostos no Centro 71 quadros e gravuras que faziam parte de sua coleçao particular e que também chegaram a Juiz de Fora pelas maos de Maria da Saudade. O viúva do poeta modernista recebeu na última segunda-feira, dia da instalaçao dos conselhos consultivo e curador do CEMM, o título de professor Honoris Causa da UFJF, em reconhecimento à doaçao de tao importante acervo de Murilo Mendes à sua terra natal. Há cinco anos, ela entregou à universidade aquela que é considerada a maior coleçao de arte moderna estrangeira em Minas Gerais: cerca de 200 obras de arte que eram uma das paixoes do escritor.

Apesar do grande números de obras, o valor do acervo está em sua importância artística, representada pelo grandes nomes que a compoem. Estarao na mostra duas gravuras de Picasso, duas de Braque, outras três de Miró, além de telas de Magnelli e da artista portuguesa Vieira da Silva. Duas telas de Marx Ernest - entre elas uma que foi emprestada pelo Centro para a última Bienal de Arte de Sao Paulo - e três Portinari (um deles um retrato de Murilo) também compoem o acervo que será mostrado ao público mineiro.

A possibilidade de ver e ouvir Murilo Mendes também fazem parte dessa visita ao mundo muriliano. Estará sendo mostrado na exposiçao um curta-metragem de Alexandre Eulálio, de 15 minutos de duraçao, sobre a vida do poeta, com imagens dele feitas em Roma um ano antes de sua morte. Além disso, uma fita com o próprio Murilo declamando suas poesias, feita na década de 50, estará à disposiçao dos apaixonados pela obra de Murilo Mendes.