O músico Paulo Miklos já tinha experiência como ator em cinema e TV quando estreou nos palcos em 2016. O desafio foi grande: encarnar o genial trompetista norte-americano de jazz Chet Baker (1929-1988). Agora, Miklos retorna com o espetáculo Chet Baker, Apenas Um Sopro, com direção de José Roberto Jardim e dramaturgia de Sérgio Roveri, que está rodando o País - já passou por Salvador, Vitória, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre e, agora, chega a São Paulo, com espetáculos entre esta quinta, 22, e domingo, 25, no Teatro Faap.
A vida de Chet Baker foi marcada por momentos dramáticos, como o episódio que mudou o rumo da sua vida e carreira para sempre. E é justamente esse episódio o ponto de partida do espetáculo. O músico era viciado em heroína. No final dos anos 1960, ele foi encurralado e espancado em uma rua de São Francisco, porque estaria devendo para um traficante. Chet perdeu vários dentes, o que afetou a forma de tocar trompete que o tornou célebre. Ele precisou interromper a carreira até se recuperar - e se reinventar como trompetista.
Na peça, Paulo Miklos interpreta Chet Baker nesse recomeço. Na primeira sessão de gravação após sua recuperação, o músico está inseguro em relação à sua volta. Seus companheiros de estúdio, um contrabaixista, um baterista, um pianista e uma cantora, também. Mas o produtor, amigo de Chet, confia no seu retorno.
"Temos esse lado trágico do drama sobre o Chet Baker, mas a verdade é que isso está envolvido na música fabulosa, divina que ele produziu e interpretou. Canções e temas tão importantes do jazz daquela época, de seus contemporâneos. Então, essa música maravilhosa está como contraponto ao longo do espetáculo", conta Miklos, ao Estado. "É muito interessante quando tudo isso, toda aquela tensão que se cria no palco se materializa numa canção maravilhosa, que leva todo mundo para outro lugar."
Segundo o ator, seu personagem é uma peça central do drama, e da expectativa que se cria em torno do personagem e da música. Para ele, essa ponte foi fundamental. "A minha estreia no teatro se deu a partir desse personagem, que, na verdade, é um músico. É muito interessante, porque o dramaturgo Sérgio Roveri escreveu esse personagem não necessariamente para um músico interpretar, porque é exatamente o único personagem da peça que não exatamente canta ou toca algum instrumento", diz ele. "Costumo brincar que eu toco teatro na peça, enquanto os outros músicos e atores tocam muita música ao longo do espetáculo, embora não seja um musical. É um drama, um espetáculo teatral, com muita música."
Para Paulo Miklos, esse personagem traz muito do universo que ele conhece tão bem, "que é o universo de uma banda, da relação entre os músicos, da música em si". "E também traz esse universo do superstar, das drogas, do alcoolismo", conta. "Você mostra o lado humano também desse grande gênio da música. Revela também as fraquezas, as dúvidas, a situação dramática dele em um momento muito específico de sua carreira. Foi muito importante fazer esse personagem denso como Chet Baker, com essa profundidade, como a minha primeira experiência no teatro."
E como foi a preparação para interpretar esse personagem real? "Foi muita discussão com o meu diretor, José Roberto Jardim, e com os músicos. Também li muita coisa, como as biografias, vi o documentário maravilhoso sobre ele. Eu já conhecia a música dele há muito tempo, desde cedo. Sei da influência dele para a geração da Bossa Nova. Então, os ecos da genialidade do Chet Baker já tinham chegado até mim há muito tempo por meio dessa geração fabulosa anterior à minha da música popular brasileira."
Especial
Miklos conta que começou a tocar flauta transversal aos 14 anos. Depois, passou ao saxofone aos 20 anos. "Toquei instrumentos de sopro ao longo desse tempo todo da minha carreira, inclusive com os Titãs. Sempre gostei muito. Mas ouvi jazz desde muito cedo, ouvi de tudo. E o Chet Baker chegou junto com esses músicos maravilhosos, improvisadores fantásticos, cada um com sua característica e sua personalidade", afirma.
"É muito interessante entrar em contato com essa personalidade tão especial do Chet Baker, que, na verdade, me remete a muitos outros personagens do rock, do blues, da música brasileira - como Noel Rosa -, que realmente me influenciaram como músico e também como ser humano, como exemplo de desenvolvimento e de entrega, mas também dos perigos de você colocar a sua sensibilidade na realidade da sua arte. É muito interessante para mim viver esse personagem com esse viés da entrega, das fraquezas, do lado humano de um grande ídolo."
CHET BAKER, APENAS UM SOPRO
Teatro Faap. R. Alagoas, 903, tel. 97185-9332. De 22 a 25/8. 5ª a sáb., às 21h; dom., às 18h. R$ 60.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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