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Eleiçoes influenciam taxas de câmbio no Brasil
Do Diário do Grande ABC
13/08/2000 | 21:19
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As eleiçoes do Brasil, sejam para eleger deputados e senadores, governadores ou presidentes, têm forte influência sobre a taxa de câmbio. A constataçao foi feita pelos professores Marco Bonomo e Cristina Terra, da Fundaçao Getúlio Vargas (FGV), que fizeram um estudo para descobrir até que ponto fatores políticos têm impacto sobre a taxa de câmbio (resultado da diferença entre o preço da moeda de determinado país em relaçao a de outro país). No Brasil, a taxa de câmbio, que na última sexta-feira fechou em R$ 1,79, deve ser compreendida como a quantidade necessária de reais para comprar um dólar.

Os pesquisadores descobriram que existe um ``ciclo eleitoral' da taxa de câmbio brasileira. De acordo com o estudo, entre os anos de 1964 e 1996 um cenário repetiu-se com freqüência: nos seis meses anteriores à eleiçao, a taxa de câmbio se apresentou em média mais valorizada, e no ano posterior à eleiçao houve incidência maior de uma taxa de câmbio desvalorizada.

Este resultado deve ser compreendido, segundo Marco Bonomo, partindo-se do princípio de que a taxa de câmbio influencia duas variáveis-chave da economia brasileira: a inflaçao e o balanço de pagamentos do país, que é o registro de todas as transaçoes econômicas dos residentes do país com o resto do mundo.

Popular - Quando a taxa de câmbio está valorizada, ou seja, sao necessários menos reais para comprar um dólar, as importaçoes ficam mais baratas e os preços dos produtos internos ficam mais baixos por causa da competiçao com os importados. ``Assim, conclui-se que isso é benéfico para controlar a inflaçao e, portanto, mais popular para vigorar em período pré-eleitoral', afirma Bonomo.

Por outro lado, quando a taxa está desvalorizada, ou seja, sao necessários mais reais para comprar um dólar, as exportaçoes do país ficam mais baratas, crescem em volume e o balanço de pagamentos tem melhor resultado. Aumenta também a margem de lucro das empresas exportadoras e fabricantes de produtos que competem com importados, porque os consumidores tendem a comprar produtos nacionais. No entanto, a tendência é que o consumidor pague preços mais altos no mercado interno.

``A taxa de câmbio tem efeitos distributivos. Se pressiona a inflaçao, tende a favorecer a maioria da populaçao. Mas caso se mantenha valorizada por muito tempo, tende a incomodar as firmas produtoras de bens comerciáveis (itens que competem com os importados), que vêem sua margem de lucro se reduzir. Essas empresas estao em sua maioria concentradas em Sao Paulo e nao era sem explicaçao que no final de 1998 os empresários paulistas e a Central Unica dos Trabalhadores estavam pressionando o governo para desvalorizar a moeda do país', explicou Bonomo.

A principal conclusao a que chegam os professores é que os governos vêm realizando intervençoes na taxa ao longo dos anos, de acordo com suas intençoes políticas, e o câmbio tem se mostrado importante instrumento eleitoral. O estudo, encomendado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi feito em outros países da América Latina, e em todos eles o cenário dos ``ciclos eleitorais' da taxa de câmbio se repetiu.




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