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Em apenas cinco meses, morte de ciclistas na região supera total de 2018

Foram sete óbitos entre janeiro e maio de 2019 contra quatro no ano passado, segundo o Estado

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
01/07/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


O número de ciclistas mortos em acidentes de trânsito nos cinco primeiros meses do ano no Grande ABC já supera em quase duas vezes o total de óbitos do tipo observado em 2018 na região. Conforme os dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo), foram sete registros entre janeiro e maio de 2019 contra quatro casos em todo o ano passado. O cenário é reflexo da falta de infraestrutura adequada às bikes – faixas segregadas e sinalizadas – somada ao desrespeito entre os cidadãos, sejam eles pedestres ou condutores dos diversos tipos de veículos, motorizados ou não, no sistema viário, avaliam os especialistas.

As mortes de ciclistas neste ano ocorreram em janeiro (três casos), março, abril e maio (dois) em cinco cidades: Santo André, São Bernardo, São Caetano (dois), Mauá (dois) e Ribeirão Pires (veja arte ao lado). As vítimas são majoritariamente masculinas (seis homens e uma mulher) com idade entre 14 e 72 anos. Os tipos de acidente foram tombamento (três), choque (dois) e colisão (dois) e, dos endereços disponíveis, apenas dois eram rodovias (SP 122-Santo André/Paranapiacaba e SP 150-Anchieta) – os demais óbitos aconteceram em vias municipais. Quatro casos foram observados às segundas-feiras, dois aos sábados e um na quinta-feira.

Integrante do núcleo de ciclismo da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), George Orlando acredita que embora haja crescente uso da bicicleta na região, tanto para o lazer e esporte quanto para o trabalho, uma infraestrutura adequada para o ciclismo no trânsito é capaz de salvar vidas. “Hoje não temos, por exemplo, vias que me levem em segurança do Grande ABC a São Paulo de bike. Falta uma malha cicloviária.” Proprietário de empresa de entregas com bicicletas, ele observa que somente no seu modelo de negócio a quantidade de ciclistas saltou de 12, em 2018, para 20 neste ano. “Além das ciclovias, precisamos da conscientização dos motoristas e ciclistas, que também têm de cumprir regras, usar equipamentos obrigatórios. As pessoas precisam se enxergar e se respeitar no trânsito.”

Organizador do grupo de ciclismo Corujas Bike Team, Levi Maximiano chama atenção para a qualidade das ciclovias existentes na região. “Não adianta pintar o asfalto e não fazer uma manutenção, deixar a faixa segregada suja. Em alguns pontos, notamos que os detritos ficam acumulados nos cantos das pistas, o que oferece risco, fura o pneu da bike”, ressalta. A falta de diálogo entre o poder público e os cicloativistas também incomoda o ativista. “Às vezes, até são feitas algumas consultas, mas não quer dizer que nossas sugestões são acatadas. Os governos estão muito preocupados com estatísticas, números. Mas será que as ciclovias são usuais?”, questiona. 

Um terço vai de bike para o trabalho

Levantamento inédito feito pela Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), em parceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio) Santo André, em 2017 – o mais recente –, aponta que 31,66% dos ciclistas da região utilizam a bicicleta como meio de transporte. De acordo com o relatório, de um total de 319 pessoas ouvidos no Grande ABC – participantes de dez grupos de pedais –, 101 disseram usar pelo menos uma vez na semana a bicicleta como meio de transporte. Em toda Região Metropolitana de São Paulo, 997 ciclistas opinaram sobre o assunto.

Das pessoas que aderem ao uso contínuo da bike, a maioria justificou praticidade, rapidez e qualidade de vida como fatores principais para deixarem seus veículos em casa. A pesquisa aponta ainda que quase metade deste grupo – 42% – faz o uso da bicicleta combinado com meios de transporte públicos, como ônibus e trens.

A falta de espaço destinado exclusivamente para ciclistas é apontada pela maioria dos participantes como fator decisivo para o não uso da bicicleta todos os dias da semana. A ausência de segurança no trânsito e desrespeito de motoristas também são citados.

Levi Maximiano, organizador do grupo de ciclismo Corujas Bike Team, comenta que uma das vias evitadas pelos usuários de bicicletas é a Avenida dos Estados, principalmente no trecho entre São Caetano e a Capital. “Infelizmente, o motorista ainda não vê um ser humano em cima de uma bicicleta, vê uma bike atrapalhando o trânsito”, lamenta.

Problemas estruturais em ciclovias e ciclofaixas da região também são lembrados por ciclistas ouvidos pela pesquisa. Ao serem questionados sobre a nota que eles dariam para os espaços exclusivos de suas cidades, numa escala de zero a dez, 89,04% dos participantes deram avaliação até cinco.

Grande ABC tem 54,8 quilômetros de vias destinadas ao uso de bicicletas

A construção de um sistema cicloviário que integre as sete cidades da região é uma demanda das pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte, mas está longe de se tornar realidade. Sem integração, as cidades contam com 54,8 quilômetros de vias destinadas às bicicletas, entre ciclovias, ciclofaixas e ciclofaixas de lazer (que funcionam apenas aos domingos e feriados).

Santo André é a cidade com maior malha: 10,68 quilômetros de ciclovias e 16,5 quilômetros de ciclofaixas, sendo quatro quilômetros apenas para lazer. A cidade vai rever seu plano cicloviário, aprovado em 2006, apenas em 2020, quando será realizado plano de mobilidade urbana.

Em São Bernardo, são cinco ciclovias (3,8 quilômetros no total) e 1,22 quilômetro de percurso de ciclofaixa. A administração destaca que está em fase de execução a implantação de ciclovia na Estrada dos Alvarengas, que contará com 3,4 quilômetros de extensão, além da criação de ciclofaixas em outros projetos urbanísticos, mas ainda sem prazo para execução.

São Caetano tem 14,1 quilômetros de ciclofaixas (que funcionam apenas aos domingos) e 2,5 quilômetros de ciclovias. Em Mauá, são 3,5 quilômetros de ciclovias e nenhuma faixa de lazer – há estudos em curso para ampliar a quilometragem, informou a administração. Ribeirão Pires conta com três quilômetros de ciclofaixas de lazer, aos domingos, cujo funcionamento é ampliado durante o verão.

Diadema e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento desta edição.

Em 2013, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC chegou a apresentar projeto para implantação de 52,2 quilômetros de ciclofaixas de lazer nos sete municípios, mas a iniciativa foi abandonada três anos depois. Questionado pelo Diário, o colegiado não se pronunciou até o fechamento desta edição.

São Bernardo ganhará parque linear

A Prefeitura de São Bernardo oficializou ontem a intervenção de obras para a construção de Parque Linear, com 2,2 quilômetros de extensão, que integrará a Avenida Kennedy, Praça Ibrahim de Almeida Nobre e Avenida Barão de Mauá, na região do Caminho do Mar e da Chácara Inglesa. O projeto formou-se de parceria com o Shopping Golden Square, que destinará cerca de 80% do recursos e, a Prefeitura, o restante, em um total de R$ 3 milhões.

Prevista para ser entregue em novembro, a obra vai interligar essas vias com pista de caminhada, ciclovia e paisagismo – desde o Parque Raphael Lazzuri até a chegada da Avenida Barão de Mauá, tudo será transformado. Entre os serviços, haverá reformas dos canteiros, ciclofaixas e ciclovias, iluminação, além de alargamento de todo o viário.

“Nosso trabalho é motivado, a cada dia, por trazer melhorias para a cidade. Entretanto, a realidade financeira do País como um todo não possibilita realizar alguns sonhos. Mas nem por isso deixamos de ousar. Essas intervenções foram buscadas em parceria com a iniciativa privada”, destacou o prefeito Orlando Morando (PSDB).

Hoje, a Avenida Barão de Mauá, onde ocorreu o ato oficial, é um dos pontos de lazer do município, fechada aos domingos para atividades de recreação e esporte. O local também se caracterizou por promoção de cãominhadas, com muitos pets pela via.

“Entendemos a necessidade do município, que vai beneficiar todos os usuários, e os que passam por aqui. O shopping tem história com São Bernardo e vimos essa missão como fundamental para a nossa participação”, disse o superintendente do Golden Square, Carlos Galvão.

As intervenções vão promover melhor fluidez no trânsito. Na rotatória da Praça Ibrahim, mais uma faixa de rolagem será aberta aos veículos, melhorando o acesso para a Via Anchieta. Na saída da Avenida Lucas Nogueira Garcez ocorrerá também alargamento da via. Segundo o Paço, os serviços não interferirão no trânsito local.




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