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Machado decodificado

Livro traz coletânea de textos que retratam o homem por trás do escritor aclamado

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
09/05/2019 | 07:51
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Machado de Assis é quase uma unanimidade. O uso do advérbio nesta frase se dá porque embora seja classificado como o maior escritor brasileiro de todos os tempos, houve – e há – quem torcesse o nariz para suas obras, ainda que o classificasse como ‘mestre’ da literatura. Esta ‘heresia’ é mostrada no livro que acaba de ser lançado Escritor por Escritor – Machado de Assis Segundo seus Pares 1908-1939 (Imprensa Oficial, 408 páginas, R$ 80), de Hélio de Seixas Guimarães e Ieda Lebensztayn.

Resultado da abrangente pesquisa realizada na Fundação Casa de Rui Barbosa, Biblioteca Nacional, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Instituto de Estudos Brasileiros e Biblioteca Florestan Fernandes, a obra – ou o volume 1 dela – é uma coletânea de textos publicados pela imprensa e em livros que dispõem as percepções que pessoas próximas e outros literatos tiveram não só das obras de Machado como também de particularidades do fundador da Academia Brasileira de Letras.

“Organizados em ordem mais ou menos cronológica, eles (textos) contêm a história das leituras de Machado de Assis, que começam em meados do século XIX, atravessam todo o século XX e continuam sendo realizadas hoje. Foi a partir do convívio com esses cadernos que surgiu a ideia de estudar a recepção literária, ou seja, os modos como prosadores, poetas e dramaturgos, muitos deles também críticos literários, leram e se posicionaram diante da obra monumental de Machado de Assis”, explica Guimarães.

Segundo o autor, como vários dos escritores conheceram Machado pessoalmente, o livro traz a imagem surpreendente de um homem risonho, divertido, diferente daquele escritor sério, até um pouco sisudo, que pode ser visto nos retratos. “Nesse sentido, o depoimento da Júlia Lopes de Almeida (escritora carioca, que morreu em 1934) é muito curioso, porque se refere ao comportamento de Machado numa festa de salão, divertido e sedutor. Mas o mais surpreendente no conjunto é a variedade do que se diz sobre Machado de Assis. Os escritos variam entre o tom elogioso e a desfeita, entre o elogio franco e o despeito e a inveja, entre o amor profundo e a admiração desconfiada. O traço permanente é o espanto diante da estatura do escritor e da obra machadianas, que desde cedo se impõem como incontornáveis, a ponto de praticamente todos os escritores brasileiros do século XX terem escrito sobre Machado.”

Entre os ‘contra’ o Bruxo do Cosme Velho (apelido de Machado) estão Monteiro Lobato, Lima Barreto e Mário de Andrade. O autor de Paulicéia Desvairada, na ocasião do centenário de Machado, escreveu: “Acontece isso da gente ter às vezes por um grande homem a maior admiração, o maior culto, e não o poder amar.” Entre os críticos predominava a ideia de que escritor era frio e alheio às questões brasileiras, visão que começou a mudar na década de 1930.

O presidente da Imprensa Oficial, Nourival Pantano Júnior, diz que a escolha do escritor não foi por acaso. “Sempre digo que preciso de paixão para trabalhar, de propósito. Existe na Imprensa Oficial uma preocupação com a preservação da memória e com o incentivo à cultura por meio da literatura. Sou suspeito para responder à essa questão, pois o livro me fascina por inteiro, mas acho muito relevante destacar a sensação de estar debatendo Machado com os autores, por conhecer as perspectivas que os grandes nomes da nossa literatura trazem sobre ele.”

O próximo volume, em fase elaboração, cobrirá escritos de 1940 até o início dos anos 2000 e entre os autores estão Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Millôr Fernandes, “A ideia é completar o arco da recepção literária de Machado, de modo a se criar um painel de escritos que mostrem como a imaginação e a sensibilidade dos escritores brasileiros reagiu à figura machadiana e à sua obra”, finaliza Guimarães.  




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