Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bingos, a radialista e deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ) confirmou nesta terça-feira que as casas de bingo do Rio de Janeiro repassavam mensalmente R$ 1 milhão "aos grupos" de Waldomiro Diniz, quando ele exercia, em 2002, o cargo de presidente das Loterj (Loterias Estaduais do Rio de Janeiro), bem como ao do ex-deputado federal Bispo Rodrigues, que renunciou ao mandato esta semana.

Cidinha Campos informou que a Loterj, por sua vez, pagou nada menos do que R$ 15 milhões, pelo período de 12 meses, à empresa de comunicação JOB, com sede em Niterói, no Rio de Janeiro, para veiculação de propaganda que, segundo ela, "nunca existiu". Todo o dinheiro, garantiu a deputada, era desviado para os esquemas de Waldomiro Diniz e do Bispo Rodrigues. Ela estima que Rodrigues possui cerca de US$ 42 milhões nas Ilhas Cayman.

"O Bispo Rodrigues era o chefe de Waldomiro Diniz e sempre controlou todo o esquema de corrupção. Aliás, o chamado 'mensalão' começou na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Todos os deputados tinham que dar dinheiro ao Bispo Rodrigues. Aqueles que não deram ou se rebelaram, perderam os mandatos ou foram mortos, a exemplo do deputado Valdeci Paiva de Jesus, assassinado a mando do bispo", denunciou.

Cidinha Campos chegou a detalhar todo o esquema de corrupção na gestão de Waldomiro Diniz que, observou, foi indicado para a presidência da Loterj pelo então governador Antonhy Garotinho, depois que o Bispo Rodrigues - que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus - não aceitou escolher um nome para ocupar o cargo, alegando razões religiosas, segundo a deputada.

Ela afirmou que, ao assumir a Loterj, Waldomiro Diniz autorizou de imediato a entrada em funcionamento de 13 casas de bingo, "escancarando a jogatina em todo o estado". Nos mês seguinte teve início, segundo a deputada, o pagamento do dízimo de R$ 1 milhão para o grupo, através de Renato Granado, presidente da Associação dos Bingos, que repassava os recursos a um pastor de nome Domingos.

Cidinha Campos chegou a aconselhar a CPI a ouvir o funcionário Jorge Luiz Dias, que trabalha na Assembléia Legislativa do Rio. Ela garantiu que Jorge Luiz tem cópias dos cheques desviados para Waldomiro e Rodrigues, em ambos os esquemas de corrupção. A deputada também propôs aos senadores que colham depoimento de Baltazar José de Souza. A seu ver, "pelo apetite criminoso do empresário", ele pode ser o "elo que leve ao esclarecimento de uma vez por todas do brutal assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel".

Cidinha Campos, deputada federal por dois mandatos, compareceu à CPI com o objetivo de auxiliar os trabalhos da comissão nas investigações da prática de crimes de lavagem de dinheiro e a participação de políticos com o crime organizado no Rio. Segundo o senador Leonel Pavan (PSDB-RJ), autor do requerimento de convocação da radialista, ela é profunda conhecedora da política do Rio de Janeiro e ajudou, em muito, a CPI a abrir caminho para elucidar atos de corrupção.