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Festival de Cinema de Brasília nao aponta favorito
Do Diário do Grande ABC
28/11/1999 | 19:12
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A 32ª ediçao do Festival de Cinema de Brasília termina nesta segunda-feira sem a menor possibilidade de se apontar um favorito. Pelo que se viu até sábado, o nível dos filmes está bem equilibrado, e a reaçao do público para com eles idem.

Filmes de mais apelo popular, como Gêmeas, de Andrucha Waddington, tiveram uma reaçao mais calorosa do que o cinema autoral de Julio Bressane (Sao Jerônimo), ambos exibidos na mesma noite de sexta, mas isso nao é suficiente para arriscar um palpite.

Entre os curtas, a situaçao se repete. O simpático Cao guia, filme de escola (o diretor Gustavo Acioli estuda cinema na UFF) rodado na Urca, foi tao aplaudido quanto o cult Deus é pai, de Alan Sieber.

A boa surpresa do fim de semana foi o longa-metragem Hans Staden, de Luiz Alberto Pereira. Ele reconta a vida do explorador alemao que conviveu durante meses com os índios tupinambás no início do período da colonizaçao, no século XVI. Esta produçao de US$ 1,6 milhoes é fruto de uma intensa e cuidadosa pesquisa, que passa por figurinos, rituais, sons e linguagem da tribo. O processo de preparaçao do elenco durou quase um ano e incluiu aulas de tupi (95% dos diálogos sao em tupinambá, e o restante em alemao e português arcaico) com um professor que acompanhou as filmagens.

A compositora Marlui Miranda, que há anos vem pesquisando sons indígenas, cuidou da parte musical e ajudou a preparar o elenco com exercícios corporais (inclusive visando a desinibiçao, já que quase todos passam o filme inteiro nus). Entre os índios, o capoeirista Beto Simas destoa dos demais por ser o único da tribo com abdômen tao malhado.

O diretor Luiz Alberto Pereira disse que a escolha de Simas nao foi uma opçao mercadológica para atrair uma legiao de curiosas para ver Simas nu. 'Ele soube do projeto e pegou um aviao até Ubatuba, onde filmamos, para se candidatar a um papel. Sua dedicaçao me impressionou, e acho que seu personagem, que se chama em português Tubarao Grande, está bem adequado a ele``. Embora sofra algumas quedas de ritmo, Hans Staden é claro, quase didático, sem ser óbvio. 'É uma ruptura com o tropicalismo. Nao quis fazer um filme colorido e cheio de alegorias``, define o cineasta.

Os dois curtas de sábado também agradaram, embora possa se estranhar a certa frieza com que Três minutos, de Ana Luiza Azevedo, tenha sido recebido. Afinal, seu filme, indiscutivelmente um dos melhores do festival, conta de forma enxuta e criativa uma história de forte teor emocional: isolada em um trailer no meio de um descampado, a mulher de um mágico vai ao orelhao da esquina deixar um recado de despedida para o marido ausente.

Já Tepê, de José Eduardo Belmonte, foi beneficiado por ser um filme de Brasília, mas é inegável a comunicabilidade do filme, que segue o estilo pop de seu diretor, o mesmo do ótimo Cinco filmes estrangeiros. Aqui ele mostra o inusitado encontro entre um sujeito ateu e Deus, encarnado (pelo veterano Rogério Fróes, forte candidato ao prêmio de melhor ator) na figura de um taxista.

O roteiro, baseado em um conto escrito em 1996 por Tarsila Messias, remete a filmes recentes de temas espirituais como O sexto sentido. A curiosidade é a inclusao de músicas de Roberto Carlos na trilha. Conhecido por seu fervor católico, o Rei dificilmente autorizaria o uso de sua obra. 'Como ainda nao pretendemos comercializar o filme, vamos correr trás dos direitos das músicas (há também Pixies e Sugarcubes na trilha)``, explicou o diretor.




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