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Greenpeace quer banir brinquedos de PVC
Do Diário do Grande ABC
12/01/1999 | 15:15
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Se dependesse dos ambientalistas do Greenpeace os brinquedos de vinil estariam banidos do mercado. Segundo pesquisa da ONG, eles podem causar câncer e outros problemas, sobretudo para crianças pequenas, capazes de pôr na boca tudo que têm nas maos. A avaliaçao, porém, é contestada por alguns estudos e pela indústria produtora de PVC, sigla sinônimo do vinil.

O Greenpeace prega o boicote aos brinquedos alegando que, por ser feito à base de cloro, o PVC exige maior quantidade de aditivos químicos que os outros plásticos. Entre essas substâncias estao metais pesados como o chumbo e cádmio, que, em quantidades impróprias, trazem uma série de riscos à saúde.

No caso do chumbo, a ingestao pode prejudicar o cérebro e, conseqüentemente, o desenvolvimento mental das crianças. E mais: o metal pode atrapalhar o funcionamento do sistemas digestivo e reprodutor, causar pressao alta e mutaçoes genéticas, diz a coordernadora a bióloga do Greenpeace Cristina Bonfiglioli. No caso do cádmio, a lista de problemas nao é mais animadora: câncer, doenças no rim e no sistema reprodutivo.

Além dos dois metais, utilizados como estabilizantes, sao também alvo do Greenpeace os ftalatos - plastificantes adicionados ao PVC para dar flexibilidade ao produto. Eles atingem o funcionamento do rim, fígado e sistema reprodutivo, sustenta a ONG.

Se é consenso de que doses altas dos aditivos sao sinônimo de problemas, o que nao falta é divergência quanto à possibilidade de contaminaçao no caso das quantidades registradas nos brinquedos. Na luta para sustentar seus pontos de vista, tanto a indústria quanto os ambientalistas se munem de estudos.

Segundo pesquisa feita a pedido do Greenpeace pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 18% de 131 brinquedos testados foram registrados no vinil níveis de chumbo superiores ao recomendado pela Comissao de Segurança de Produtos de Consumo dos Estados Unidos. No caso de cádmio, cinco de seis produtos estavam em desacordo com a legislaçao da Califórnia.

Em Sao Paulo, cerca de 1% dos brinquedos de vinil disponíveis do mercado testados pelo laboratório Falcao Bauer, a pedido do Inmetro, traziam chumbo e cromo em quantidades acima das permitidas pela legislaçao, mais rigorosa que a norte-americana. No caso do teste para cerficaçao, pré-requisito para o lançamento dos produtos, há de 3% a 5% de reprovaçao.

O laboratório paulista, porém, nao tem tecnologia para detectar se os metais vem da tinta ou dos aditivos adicionados ao vinil. ``Existe 90% de probabilidade de que a origem está nas tintas', diz o gerente responsável pelas pesquisas, Osvaldo Kinochita. ``A maior parte dos problemas ocorre com brinquedos de madeira justamente por conta dos pigmentos', diz ele.

``As tintas sao as maiores responsáveis pelos altos níveis de metais pesados', concorda Esmeraldo Assis, presidente do Instituto do PVC, entidade que reúne empresas fabricantes e consumidoras do produto. ``Nao há motivos para abolir o PVC, o importante é controlar a quantidades de aditivos', acrescenta. ``É na dosagem que está a diferença entre o remédio e o veneno.'

Plastificantes - Já no caso dos ftalatos, para sustentar que há motivos para preocupaçao, o Greenpeace argumenta que a substância pode atingir até 40% da massa dos brinquedos de vinil. Seu uso é proibido na fabricaçao de produtos para crianças na Dinamarca e, para menores que três anos, também na Austria, argumenta a entidade. A ONG também cita estudo da agência ambiental da Holanda, que demonstrou que a migraçao de um dos tipos de ftalatos, o DINP, pode ser substancial em itens como mordedores de vinil.

Coincidentemente, também vem da Holanda o estudo utilizado pela indústria como prova da segurança dos brinquedos de vinil. Em pesquisa realizada a pedido do Comitê Científico para Toxicidade, Ecotoxicidade e Meio Ambiente da Uniao Européia, o Instituto de Saúde Pública holandês nao registrou nenhum caso de ingestao de ftalatos acima do nível tolerável em crianças acima de 12 meses.

Para os mais novos, foi constatada segurança em 99% dos casos. No 1% restante, a possibilidade de contaminaçao é tao pequena que nao pode ser estimada, diz o estudo. Mesmo com os resultados, o Comitê recomendou aos países do bloco o desenvolvimento de um método para avaliaçao comum para determinaçao de padroes de segurança no uso de plastificantes.

No caso do Brasil, os ftalatos podem ser utilizados sem restriçao na fabricaçao de brinquedos, com exceçao de um deles, o dioctil-ftalato, proibido. A substância nao foi detectada nos brinquedos disponíveis nas prateleiras do País, segundo amostras analisadas pelo Instituto Falcao Bauer. ``Mas já achamos até 48% de dioctil-ftalato em testes para certificaçao', diz Kinochita. ``Se os plastificantes permitidos fossem perigosos, eles nao seriam usados na fabricaçao de bolsas para sangue e catéteres cirúrgicos', defende Assis. ``É impossível imaginar uma sala cirúrgica sem PVC.'




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