Santo André, que nos anos 1980 foi um dos principais endereços do blues no Estado, volta a ser o epicentro do gênero nesta semana, com a realização do festival Sesc’n’Blues. O evento, feito em parceria com a unidade de Ribeirão Preto – outro município tradicional nesse estilo – ocorre de quinta-feira a domingo e tem como atração principal o guitarrista norte-americano Eddie C. Campbell. Os ingressos começam a ser vendidos nesta terça. No interior, o festival será realizado de quarta-feira a sábado.

Diversidade, experimentalismo e ineditismo são algumas das marcas do festival. O gênero será representado em diversas vertentes.

O experimentalismo é garantido pela Guitar Blues Night, um trio de guitarristas não necessariamente originários do blues para uma noite de muita improvisação em cima de clássicos. Nessa banda estão Luiz Carlini (Tutti Frutti), Marcos Ottaviano (Blue Jeans) e Andreas Kisser (Sepultura).

O ineditismo fica por conta da vinda ao Brasil do veterano Campbell. “O blues teve uma primeira fase de novidades no Brasil a partir de 1989, quando os grandes nomes vieram ao país. Depois disso, o gênero passou a ter releituras, e esse é um quadro que persiste até hoje. O show de Eddie C. Campbell é uma oportunidade de se reaproximar do bom e velho blues”, afirma o curador do festival, Sílvio Alemão, que é também baixista e acompanhará o norte-americano em sua turnê nacional.

O festival, que será todo com 'dobradinhas', começa com o homem-banda andreense Vasco Faé e participação especial do guitarrista André Christovam. “Ambos apresentam blues cantado em português”, afirma Alemão.

Entre as curiosidades do festival está o blues cantado em espanhol pelo guitarrista argentino Miguel Botafogo, que toca na sexta-feira, mesma noite dos brasileiros do Blues Etílicos. Outro argentino, Danny Vincent (radicado no Brasil), será atração junto com o Guitar Blues Night, no sábado.

O domingo será dos norte-americanos. Primeiro, com J.J. Jackson, que há anos mora no Brasil, e que não é exatamente um bluesman. Seu repertório é diversificado, com músicas como My Girl e Stand By Me.

Sobre Campbell, Alemão diz: “por ter tocado com Willie Dixon e ter convivido com outros grandes nomes do blues, ele é partidário do conceito de que menos é mais. Diferentemente de músicos como Stevie Ray Vaughan, que enche de notas e tem um som mais nervoso, Campbell não é um virtuose. Ele é um mestre do shuffle”.

Segundo o curador, cada artista fará show com pouco mais de uma hora de duração. “Depois, deve haver uma jam session”, afirma.

Alemão acredita que este festival talvez possa servir como incentivo para que a cidade retome sua vocação como celeiro do blues. “O Jazz’n’Blues, no bairro Jardim, era uma meca de músicos do jazz e do blues nos anos 1980. A parede do bar exibia assinaturas de pessoas importantes, como Buddy Guy e Pat Metheny. Na época dos shows na cantina do Paço, a Irmandade do Blues (do qual participava) chegou a reunir mais de mil pessoas. E, recentemente, o guitarrista Nuno Mindelis foi responsável por um dos maiores públicos na Concha Acústica, com, calculo eu, cerca de 3 mil espectadores”, diz.

Para o curador, o Sesc’n’Blues era um sonho, que ganhou a simpatia de outro entusiasta, o gerente do Sesc de Ribeirão Preto, Sérgio Lago, e do gerente de Santo André, Felipe Mancebo. “A cidade tem um grande potencial para o blues. Acho que os bares de toda a região deveriam apostar no gênero”.

Sesc’n’Blues – Festival de blues. De quinta-feira a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. No Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Ingr.: R$ 5 (comerciários), R$ 7 (idosos e estudantes com carteirinha), R$ 10 (usuários matriculados) e R$ 14.