Economia Titulo
Habib's declara guerra contra o McDonald's
Valmir Zambrano
Da Redaçao
16/10/1999 | 18:37
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A concorrência entre McDonald's e Habib's está se acirrando. Parece audácia da rede brasileira de comida árabe enfrentar a gigante mundial dos hambúrgueres, mas as estratégias de expansao de ambas apontam para um saudável confronto, no qual a vantagem, ao menos em tese, seria do consumidor.

Desde que instalou-se no Brasil, em 1979, com uma loja no Rio de Janeiro, o McDonald's transformou-se em um fenômeno de aceitaçao popular. Em 20 anos, o faturamento anual da rede cresceu mais de mil vezes, pulando de US$ 861 mil para US$ 953 milhoes, número que lhe confere a liderança das empresas de fast food no Brasil.

Nascida há dez anos, de uma simples unidade no bairro paulistano de Pompéia, o Habib's já ocupa o segundo lugar nesta lista. Apesar de nao divulgar faturamento da rede em geral, a empresa trabalha com um número médio de R$ 150 mil ao mês por unidade, o que daria R$ 216 milhoes ao ano para toda a rede. Com o dólar a R$ 1,96, o faturamento, anual em dólar, do Habib's atinge US$ 110,2 milhoes.

Ainda há uma grande distância entre líder e segundo colocado. O faturamento do McDonald's supera o do rival em mais de oito vezes, mas ninguém está de braços cruzados esperando o próximo passo do concorrente. "Estamos trabalhando para crescer nesse mercado e a concorrência nao nos atrapalha. Ao contrário, tem nos ajudado. Há lugares em que o McDonald's vem se instalar ao nosso lado e o movimento cresce, porque a loja deles ajuda a atrair os consumidores para a mesma regiao", diz Alberto Saraiva, fundador e presidente da rede Habib's.

Tabu - Pelos lados do McDonald's, o assunto concorrência é tabu. Oficialmente, a empresa posa como líder de mercado e nao se manifesta sobre as outras cadeias de fast food. Mas na prática, um importante executivo da rede declarou ao Diário que o Habib's é a rede que mais preocupa o McDonald's dentro do mercado brasileiro.

O crescimento da marca Habib's é motivo de sobra para a preocupaçao. A rede tem crescido entre 25% e 35% ao ano desde que foi fundada e esse percentual deve subir este ano. Ela fechou 1998 com 102 lojas no Brasil. Dez meses depois elas já sao 120 em pleno funcionamento. Outras 11 estao abrindo as portas por esses dias e, até o fim do ano, o logotipo Habib's deverá estar ocupando 145 fachadas em todo o país. Em resumo, serao 43 novas lojas em 12 meses, um aumento de 42% no número de unidades em relaçao ao ano passado.

A última inauguraçao da companhia de comida árabe no Grande ABC ocorreu há uma semana, em Santo André. No contra-ataque, o McDonald's abrirá seu 29º ponto de venda (entre restaurantes e quiosques) na regiao, mais especificamente em Mauá, até o fim deste ano. O mercado regional é estratégico para as duas redes.

Quase 10% das unidades Habib's estao no Grande ABC, sendo que a mais rentável de todas as 120 lojas em funcionamento no Brasil fica em Santo André. Na mesma cidade está a loja do McDonald's recordista em atendimento no drive-thru. Em 21 de agosto deste ano, passaram pelo caixa nada menos do que 358 carros em uma hora. No Grande ABC estao mais de 5% das unidades do McDonald's no Brasil.

Expansao - A estratégia das duas redes passa pela expansao do número de unidades, inclusive no Grande ABC, mas a briga entre elas tem novos componentes. O primeiro deles é a concorrência ombro a ombro, no mesmo lugar. Em Sao Paulo, as últimas inauguraçoes têm se caracterizado pela proximidade entre as lojas, que antes mantinham-se longe.

Dentro dessa nova diretriz, o Habib's passou a priorizar também as lojas em shoppings. Duas das últimas unidades da empresa na regiao seguem esse conceito. Uma está no Shopping Metrópole e outra no Shopping ABC, ao lado do concorrente.

Saraiva diz que esse novo nicho obrigou a empresa a mudar alguns conceitos básicos de seu trabalho. Se as lojas de rua precisam de 400 m² para obedecer ao padrao, as de shopping exigem 150 m². Mas a mudança maior está no sistema de atendimento. As lojas de shopping possuem a tradicional área com mesas servidas por garçons, mas agora estao acompanhadas de um balcao de auto-atendimento.

Nele, existe o serviço de atendimento rápido, no estilo clássico do McDonald's, incluindo até as atendentes que já adiantam o pedido do cliente na fila do caixa. "Os resultados dessa experiência têm sido excelentes. Existem realmente os clientes que priorizam a rapidez e agora estamos contemplando-os com esse novo perfil de loja", afirma o presidente da rede.

Ele confirma a semelhança com o sistema da rede rival, mas nao fala em disputa aberta pelo mercado. Nem mesmo admite que a entrada nos shoppings seja prioridade. "Nossa prioridade sao as lojas de rua, mas como está havendo boas ofertas de pontos em shoppings, vamos aproveitar para, se possível, instalar uma unidade em cada um deles." Essa maior oferta de pontos seria explicada pelo fechamento de algumas redes de fast food.

Ainda que negue a briga pela clientela, Saraiva afirma que estará lançando, em breve, uma nova modalidade de loja, a ser batizada como Habib's Express. Serao lojas menores, com até 100 m² de área e com mix de produtos reduzido. Qualquer semelhança com os quiosques do McDonald's é mera coincidência.

A rede dos hambúrgueres também nao está deixando por menos. Ela reconheceu que um dos pontos diferenciais em favor do Habib's seria a maior diversidade de produtos oferecidos nas lojas. As recentes campanhas do McDonald's divulgando novos lanches indica essa tendência, confirmada por um franqueado da marca no Grande ABC.

Como nao se manifesta sobre a concorrência, o McDonald's se recusa a comentar aquele que seria a melhor arma do Habib's no momento: os preços mais baixos. Sem contar que trabalham com produtos diferentes, as redes têm batido firme nesta tecla, cada qual anunciando seus slogans. Os hambúrgueres estariam com preços congelados e a comida árabe teria seus preços começando com zero (leia reportagem nesta página).




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