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Região ainda sonha com centro de referência para população idosa

Embora 13,54% dos habitantes das sete cidades tenham mais de 60 anos, projeto estadual não avançou

Bia Moço
01/10/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 Hoje é o Dia do Idoso e o Grande ABC tem grande representação desta faixa etária. De acordo com a Fundação Seade, são 365,8 mil pessoas acima de 60 anos na região, número que corresponde a 13,54% dos 2,7 milhões de habitantes. A criação de centro de referência para esta população é o principal desafio do recém-criado GT (Grupo de Trabalho) do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC dedicado ao tema.

Para atender os idosos, as prefeituras informam investir em espaços destinados às atividades culturais, de lazer, de saúde e socioemocionais. No entanto, nem todo o público-alvo tem acesso ao que é oferecido. A equipe do Diário ouviu idosos da região e constatou que nem todos têm conhecimento sobre os serviços ofertados pelas sete cidades. Seis entre oito moradores consultados informaram buscar atividades em serviços particulares.

Plano plurianual de assistência social elaborado pelo GT da Pessoa Idosa – Diadema não faz parte do colegiado – prevê a viabilização do centro de referência regional como um dos cinco principais desafios para os próximos anos. Contudo o projeto, promessa do governo estadual desde 2012, está esquecido. A unidade custaria em torno de R$ 3 milhões e ficaria localizada ao lado do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Santo André, na Vila Vitória. Questionado sobre o tema, o Estado não retornou até o fechamento desta edição.

MELHOR IDADE
Idosos que frequentam os serviços públicos da região dizem que a ‘melhor idade’ é a vivida após os 60 anos. Eles alertam, entretanto, que de nada adianta a experiência, se não se exercitarem.

Berta Ramos Rai, 83 anos, ficou viúva em 2005. Os três filhos não a deixaram ficar parada e, por isso, ela procurou o Crisa (Centro de Referência do Idoso de Santo André). No dia 20, quando o espaço comemorou 20 anos, Dona Berta foi protagonista de peça de teatro que contou histórias reais da vida dos integrantes do grupo de teatro que frequenta. Com o mesmo véu de noiva usado há 60 anos na cerimônia de seu casamento, ela destacou aos colegas a história do seu matrimônio. “O Crisa me faz muito bem. Melhorei a memória. Tenho ocupação. Me divirto e fiz amigos. Esse envolvimento é o que não me deixa ficar em casa como uma velhinha”, brincou Berta.

SERVIÇOS
Em Santo André, o Crisa atende 350 andreenses da terceira idade por semana. Os idosos aumentam autoestima, aumentam a convivência e estimulam o cérebro e o corpo.

Já em São Bernardo há serviço de Saúde voltado aos idosos, denominado Cuidadoso, que funciona na UBS (Unidade Básica de Saúde) Rudge Ramos. Também há o programa De Bem com a Vida, que oferece atividades físicas, culturais e ocupacionais.

A cidade com a maior população idosa da região é São Caetano, com 30% dos habitantes. O município dispõe de quatro Cises (Centros Integrados de Saúde e Educação).

Os sete Cras (Centro de Referência de Assistência Social) de Mauá ofertam atividades para idosos dentro dos SCFV (Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos).

A rede municipal de Ribeirão Pires oferece o programa Hiperdia, com atendimentos específicos para este público.

As outras cidades não responderam até o fechamento desta edição.

Estudo diz que qualidade de vida é menor
Estudo da USP (Universidade de São Paulo) denominado Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento) avaliou que a população paulista como um todo está envelhecendo com mais doenças e limitações. A pesquisa acompanhou o envelhecer de São Paulo desde os anos 2000 e, a cada cinco anos, o grupo avaliado é renovado. Atualmente, são 1.400 idosos acompanhados.

A geriatra Maisa Kairalla, professora e coordenadora do ambulatório de transição de cuidados da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) diz que o resultado dessa pesquisa significa que as pessoas não envelhecem mais com tanta qualidade de vida, o que serve também para o Grande ABC.

De acordo com Maisa, embora haja muita tecnologia, é preciso se preparar para a velhice. “Envelhecer é um ganho e necessidade humana. O problema é que nem sempre se ‘chega bem’ na terceira idade. Falta conscientização, que deve começar quando nasce e, principalmente, na meia vida. É preciso criar consciência do envelhecimento e ter este enfrentamento, ou seja, se preparar”, explica.

Para geriatra, é “preciso educar para envelhecer o Brasil”. A doutora ressalta que o idoso tem medo da perda de qualidade de vida, o que só se obtém, se houver prevenção. “A maioria dos idosos não busca atividades, sejam físicas ou mentais. Não está na cultura, mas todo mundo precisa. Se envelhecer ativamente, envelhece melhor.”

Para isso, segundo ela, há os centros específicos de atendimento aos idosos. No entanto, nem todos sabem sobre o serviço e, por diversas razões, como preguiça, deixam de buscá-lo. “Se mudar a consciência, se muda o fim. Todos teriam de buscar atividades. Infelizmente nem sempre acontece.”




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