Internacional Titulo
Mulheres presidem câmaras legislativas espanholas
Do Diário do Grande ABC
05/04/2000 | 11:49
Compartilhar notícia


Duas mulheres presidem, a partir desta quarta-feira, as duas câmaras legislativas espanholas, o Congresso e o Senado, fato sem precedentes na história política da Espanha e também inédito no panorama político europeu atual. Com Luisa Fernanda Rudi, 49 anos, e Esperanza Aguirre, 48 anos, a Espanha se tornou o primeiro país europeu e o quinto do mundo a ter mulheres presidindo as duas câmaras legislativas, seguindo o exemplo da Africa do Sul e das ilhas Antígua e Barbuda, além de Belize e Jamaica, na regiao do Caribe.

Luisa Fernanda Rudi, do Partido Popular (PP, centro-direita), se tornou a primeira mulher eleita presidente do Congresso espanhol, com 329 votos a favor, nenhum contra, 15 votos brancos e cinco nulos. Aos 49 anos, a deputada eleita em 12 de março por Zaragoza, Nordeste do país, substitui seu colega do PP Federico Trillo, que deve obter um ministério no próximo governo de José María Aznar.

Esperanza Aguirre, do PP, foi por sua vez reeleita presidente do Senado. Aguirre preside a câmara alta desde fevereiro de 1999.

As duas parlamentares pertencem ao Partido Popular de Aznar, que obteve a maioria absoluta nas duas câmaras, após as eleiçoes legislativas de 12 de março. Elas simbolizam a feminizaçao crescente na vida política espanhola, sem cotas nem paridade impostas por lei.

A presença de duas mulheres à frente das duas câmaras legislativas ``é um fato histórico, que reflete a realidade e a evoluçao da sociedade espanhola', disse o porta-voz do governo, Josep Piqué.

A participaçao das espanholas na vida política de seu país aumenta a cada votaçao: passou de 16% a 22% a quantidade de mulheres eleitas deputadas entre 1993 e 1996, ano em que o presidente Aznar chegou ao poder. Esta proporçao aumentou novamente, nas eleiçoes de 12 de março, chegando a 28,28% (99 eleitas sobre 350 deputados).

Com estes números, a Espanha - país de reputaçao machista, onde as mulheres votam desde 1931 - se aproxima da Alemanha (30,9%) e se transforma num exemplo a ser seguido por seus vizinhos latinos, como Portugal (18,7%), Itália (11,1%) ou França (10,9%), segundo estatísticas da Uniao Interparlamentar www.ipu.org .

``Nao acredito que se ocupem postos de responsabilidade só pelo fato de ser mulher. Estamos contra as cotas', havia dito antes de sua eleiçao Luisa Fernanda Rudi ao jornal El Mundo, de Madri.

``Nós, mulheres do Partido Popular, temos sido pioneiras. Fomos as primeiras a chegar ao Congreso dos Deputados, em 1986, e em seguida estivemos na vanguarda lutando ombro a ombro com nossos colegas masculinos', afirmou.

Para a nova presidente do parlamento, ``nao haverá mais igualdade entre homens e mulheres só porque uma mulher preside o Congresso, mas isso pode facilitar que outras mulheres possam ocupar postos de responsabilidade'.

Esperanza Aguirre, por sua vez, se tornou há um ano a primeira mulher a presidir o Senado espanhol, cargo que reassumiu nesta quarta-feira.

Sua eleiçao e a da Luisa Fernanda Rudi nao sao ``um gesto isolado', pois - segundo Esperanza Aguirre - é a demonstraçao ``da aposta contínua' do chefe de governo em favor da igualdade entre os sexos.

``Hoje, o que se pretende é que consigamos que já nao seja notícia que as mulheres estao ocupando as instituiçoes mais importantes do Estado', disse recentemente.

A proporçao de mulheres no Senado é atualmente de 23,69%, número que pode aumentar, quando forem eleitos os 10 senadores que faltam ser designados nas regioes autônomas.

Dentro da oposiçao esquerdista, a eleiçao de duas mulheres à presidência das duas câmaras foi bem recebida por socialistas e comunistas, apesar de certos defensores dos direitos das mulheres enxergarem, nesta escolha, uma operaçao de ``marketing político'.

A ex-deputada Pilar Rahola, da esquerda republicana catala, aplaudiu a decisao de Aznar, de apostar nas mulheres, afirmando sarcasticamente que ele nomeou duas parlamentares em dois ``postos muito importantes, mas praticamente sem poder'.

``O impacto destas nomeaçoes soou mais como uma propaganda política de Aznar do que uma revoluçao feminina', afirmou Pilar Rahola, que acaba de publicar um livro sobre o feminismo: ``Mujer liberada, hombre enojado' (``Mulher liberada, homem aborrecido').




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;