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De Basra a Bagdá, iraquianos celebram o fim da era Saddam
Da AFP
10/04/2003 | 16:57
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A macabra sucessão de tanques iraquianos carbonizados na estrada 8 é o sinal indiscutível de que Bagdá está perto. Ao sul restam mais de 550 km, os mesmos percorridos pelas tropas anglo-americanas nas últimas três semanas, nos quais centenas de cidadãos celebravam esta quinta-feira a queda do regime.

Nas proximidades de Basra, a segunda maior cidade do país, a queda de Saddam Hussein era festejada na única loja com televisão, onde algumas pessoas contemplavam as imagens da destruição da estátua do presidente no centro de Bagdá, exibidas pela emissora kuwaitiana, a única que conseguem assistir há vários dias.

A incredulidade inicial passa dos tímidos sorrisos à euforia. "É difícil acreditar que tudo isto terminou. Sonhamos tantas vezes durante tanto tempo!", afirma Ahmed, comerciante na cidade ocupada pelas tropas britânicas há quatro dias.

Mais ao norte, na pequena cidade de Hatma, localizada no meio do deserto e com a paisagem de uma pobreza dolorosa, dezenas de cidadãos saíram às ruas carregando cartazes.

"Obrigado por tudo, mas não troquem um ditador por outro. Queremos uma verdadeira democracia no Iraque", afirmam os cartazes, dirigidos aos tanques, blindados e automóveis de imprensa que atravessam a pobre cidade.

Ao cruzar o rio Eufrates, surgem as crianças que vendem cigarros e dinares com a imagem de Saddam Hussein em troca de dólares. Os sinais da vitória e os inocentes agradecimentos aos soldados se tornam mais expressivos à medida que os automóveis se aproximam de Bagdá.

A paisagem vai mudando e, pouco a pouco, o deserto se transforma em jardins com palmeiras, árvores e pequenos oásis. Alguns automóveis passam no sentido contrário. Todos eles seguem para o sul, procedentes de Bagdá, com bandeiras brancas, carregados com pertences ou bens roubados nas últimas horas em meio ao caos provocado pelos bombardeios e a entrada dos blindados americanos na capital.

Em outro momento, dois tanques iraquianos carbonizados cortam a estrada e obrigam os automóveis a desviar para seguir viagem. Dez quilômetros adiante, na periferia de Bagdá, os saques se multiplicam e os postos de controle do exército americano são precisos e implacáveis.

"Não pararam de roubar como loucos nas últimas horas", afirma o sargento americano Fritz num dos postos de controle, contemplando de modo indiferente os saques na periferia sul de Bagdá, onde os oficiais tiveram de atirar para o alto durante todo o dia para dispersar as dezenas de ladrões. "Até quando os surpreendemos em pleno roubo eles se aproximam sorridentes e nos agradecem", explica o militar.

No momento da entrevista, vinte soldados se aproximam e apontam suas armas para todos os automóveis que se arriscam a entrar na cidade. Todos os passageiros são registrados, o veículo é examinado minuciosamente e a maioria é obrigada a voltar. O medo de todos os soldados, muitos deles de menos de 20 anos, é um grande ataque suicida desesperado, ante o iminente desaparecimento do regime.

Finalmente, Bagdá e seu aeroporto, completamente inoperante e invadido por soldados americanos, aparecem atrás de quatro impressionantes colunas de fumaça, provocadas pelos partidários do regime, que queimaram petróleo para dificultar a visibilidade das tropas estrangeiras.

"Que Deus retire todos vivos desse inferno", afirma uma mulher apontando com um dedo para a cidade, enquanto arrasta com seus filhos um enorme gerador elétrico roubado de um armazém próximo.




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