Os estoques das montadoras voltaram a crescer, atingindo em outubro o maior patamar desde novembro de 2008. O setor automobilístico contabilizou 374.342 veículos zero-quilômetro parados nos pátios das fabricantes ou das lojas, o que correspondeu a 40 dias (ou seja, esse é o período necessário para a desova desse volume, pelo ritmo atual de vendas). Há três anos, chegou a 52 dias.

Os dados foram divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Por esse levantamento, em setembro, embora o total estocado fosse maior (378.891 unidades), o número correspondia a 36 dias para a comercialização.

O crescimento dos estoques refletiu, por um lado, a queda de 10% no número de carros licenciados em outubro frente ao mês anterior e, por outro, o ligeiro aumento, de 1,7%, na produção no mesmo período.

Para o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, a quantidade alta de veículos estocados - que poderia levar as empresas a demitir - não assusta, já que, segundo ele, em novembro e dezembro, com a entrada do 13º salário, as vendas tendem a crescer. Além disso, o dirigente avalia que as recentes decisões do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros colaboram para a melhora nas taxas na ponta, ao consumidor. Ele cita ainda que o crédito vem crescendo, e de acordo com projeção do BC, terá alta de 17% em 2011 frente a 2010. Até o mês passado, a autoridade monetária previa expansão de 15%.

O consultor automotivo Paulo Roberto Garbossa avalia ainda que, com o cenário de redução dos juros, as montadoras têm de manter estoques, caso haja aquecimento na demanda no fim do ano, para ter produtos para vender.

DO EXTERIOR - Apesar da retração em outubro, a comercialização de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) nos primeiros dez meses do ano está 5,6% maior do que a do mesmo período de 2010. Com esse resultado até agora, a Anfavea manteve a projeção de que o setor atingirá 3,6 milhões de unidades vendidas no ano todo. Isso significará crescimento de 5% frente ao ano passado.

No entanto, o ritmo do mercado tem sido ditado pelos importados - boa parte trazida pelas próprias fabricantes instaladas no País. De janeiro a outubro, a comercialização dos carros produzidos no Exterior cresceu 33,3%, enquanto os nacionais tiveram retração de 0,5%.

O setor, que até agora registra expansão de 1,7% na produção, deve fechar o ano com alta de apenas 1,1% frente a 2010, segundo a Anfavea.

Alta do IPI em dezembro só terá impactos em 2012

Para especialistas, os efeitos da medida de elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados para os carros importados - que entrará em vigor em dezembro - só deverão ser sentidos a partir de janeiro ou fevereiro do ano que vem.

O consultor Paulo Roberto Garbossa, avalia que as importadoras devem acumular estoques para diminuir o impacto da tributação mais alta, no curto prazo.

O decreto do governo federal, publicado no Diário Oficial da União em setembro, elevou em 30 pontos percentuais o IPI de montadoras sem fábricas no País - excluindo o México, que tem acordo automotivo com o Brasil - e para as que não têm 65% de conteúdo nacional ou do Mercosul (ou seja, de peças fabricadas no Brasil ou dentro do bloco comercial, nem seis de 11 itens (produção nacional de motores, chassi, câmbio e estampados, por exemplo), e para as que não contam com investimento em inovação correspondente a 0,5% do faturamento.

No entanto, pela exigência constitucional de que mudanças na tributação têm de levar 90 dias para entrar em vigor, o Supremo Tribunal Federal adiou a entrada em vigor para dezembro.

CRISE - Enquanto o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, Sérgio Reze, avalia que a queda de 10% nas vendas de carros em outubro ocorreu, em parte, pela confusão gerada pela entrada e depois o adiamento do IPI mais alto, o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, responsabiliza a crise europeia. Para ele, além do dia útil a menos no mês passado e do fato de o Dia do Funcionário Público ter sido em outubro, as notícias de endividamento na Grécia afetaram a confiança do consumidor.

Exportações crescem 17% em outubro

A Anfavea reviu para cima suas projeções de exportações de veículos para este ano. A estimativa agora é de crescimento de 7,4%, com o qual, serão 340 mil unidades embarcadas ao Exterior. Até o mês passado, a entidade previa queda de 3,4% no volume destinado ao mercado internacional.

Segundo o presidente da associação das montadoras, Cledorvino Belini, a América Latina está puxando para cima as vendas. Com a demanda aquecida nesses países, o segmento registra alta de 17% nas exportações em outubro frente a setembro e, no primeiros dez meses do ano, expansão de 4,1% na comparação com igual período de 2010.

Apesar disso, o total das encomendas no acumulado de 2010 até agora (438,2 mil unidades) ainda está 27,1% abaixo do volume alcançado de janeiro a outubro de 2005, auge da inserção do setor nacional no Exterior. "A recuperação tem sido lenta, em 2005 éramos muito mais competitivos", diz Belini.

Os números também contrastam com o total importado neste ano (681,1 mil unidades licenciadas no mercado interno). Com isso, o setor ampliou o deficit comercial - ou seja, a diferença entre os carros que desembarcam do Exterior e os que são produzidos aqui e vendidos lá fora - para 242,9 mil unidades. Nos dez primeiros meses de 2010, o deficit estava em 90,1 mil veículos e, no mesmo período de 2009, eram 100,8 mil.