Nem só festivais e passeios turísticos marcam a história da Vila de Paranapiacaba. A neblina típica da Serra do Mar parece esconder os áureos tempos em que o local era ponto central de uma das principais ferrovias do Brasil. Justamente para revelar, homenagear e questionar esse passado é que surge o curta-metragem 'Neblina Sobre Trilhos', que tem estreia hoje. As sessões ocorrem às 11h e às 18h30 no Auditório da Fafil (Faculdade de Filosofia), na Fundação Santo André (Avenida Príncipe de Gales, 821. Tel.: 4979-3300). A entrada é franca.

O objetivo é desvendar essa história que marcou o distrito andreense por tantos anos e que, apesar do local ser tombado como patrimônio da humanidade, parece estar esquecida. Para aquecer a discussão sobre o tema, as exibições contarão com a participação dos responsáveis para um bate-papo com o público.

O projeto foi concebido pela fundação municipal e conta com parceria com a Universidade Federal do ABC, além de ter sido financiado pelo Ministério da Educação por meio de edital. A ideia do documentário nasceu em 2008 com um grupo de pesquisa da FSA formado pelos então estudantes Soraia Oliveira Costa, Demócrito Nitão Júnior e Marina Rosmaninho.

"A nossa pesquisa era sobre a ferrovia e o processo de urbanização no Grande ABC. Então resolvemos estudar sobre a trajetória de Paranapiacaba, que é um símbolo dessa história", diz Soraia, de Santo André, que assina a direção do título. "Abordamos como a vila surgiu, a história da ferrovia que se instalou ali, a questão do tombamento e misturamos tudo isso por meio de diversos depoimentos. Acho que pegamos bem essa passagem do tempo e o passado e o presente estão sempre na narrativa."

PRODUÇÃO
As mais de 30 horas de material contam com entrevistas de moradores, ferroviários, especialistas e até mesmo turistas. "Demos uma dinamizada nas conversas ao buscar referências que comprovassem as histórias que estávamos ouvindo. Não ficamos só com o material audiovisual, mas também contamos com fotos, textos e poemas. Como misturamos tudo, o filme se tornou uma obra didática", explica.

Um dos principais obstáculos vencidos para as filmagens foi a desconfiança dos entrevistados locais. Por se tratar de um trabalho acadêmico, a comunidade está cansada de servir como fonte de pesquisa e nunca receber algum tipo de retorno. Segundo Soraia, "não só devolvemos uma obra material, estamos levando pessoas para a vila. Sempre estamos em contatos com os colabores chaves e fazemos questão de dialogar com essas pessoas".

A apresentação de 'Neblina Sobre Trilhos' faz parte da terceira fase projetada pelo edital. Algumas pré-estreias especiais ocorreram no ano passado no tradicional Clube União Lyra-Serrano e, neste ano, a versão final do curta começa a entrar em cartaz. As próximas sessões estão programadas para ocorrer na Casa da Palavra, no Espaço de Artes e Convivência Gambalaia e na UFABC, todas entidades de Santo André.

De acordo com o edital, o documentário deverá ser exibido em 50 instituições representativas do entorno da ferrovia entre as cidades de Santos e Jundiaí, como escolas, museus e bibliotecas. Espaços no Grande ABC terão preferência na agenda do filme. Todos os locais a serem visitados ganharão cópia do DVD para que a saga da lendária vila ferroviária não se perca.

A ideia de recordar a história de Paranapiacaba parece ter agradado ao Ministério da Cultura, tanto que o próximo passo da equipe é transformar as informações obtidas em livro. "Devido ao projeto ter alcançado seus objetivos iniciais, conquistamos essa fase adicional no edital. Com o livro, a ideia é focar a questão do trabalho dos ferroviários", ressalta a diretora.