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Grito de socorro

Alunos da Fundação das Artes da cidade de São Caetano protestam durante concerto na Sala São Paulo

Miriam Gimenes
27/04/2018 | 07:00
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Divulgação


O que era para ser uma noite de festividade terminou em protesto. É que os alunos da Fundação das Artes de São Caetano fizeram manifesto durante o concerto de 50 anos da instituição, quarta-feira, na Sala São Paulo. Com cartazes em punho e discurso da aluna de canto lírico Paula Aviles, 36 anos, eles pontuaram os problemas que a Cultura enfrenta no município, com destaque para a Fundação.

Paula, que estuda há seis anos na instituição, disse que o coletivo de alunos – representando os 1.500 que estudam nas escolas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro – buscou brecha na programação a fim de que pudesse ser ouvido, inclusive pelas autoridades presentes no local. O prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), no entanto, foi embora um pouco antes do manifesto acontecer. Mas, segundo informações, ficou sabendo do ocorrido em tempo real. “A gente viu um belo concerto, cheio de músicos, mas grande parte daqueles alunos sequer era da Fundação. Não dá para a gente se apresentar e dizer que está tudo maravilhoso, porque eles não estão oferecendo estrutura há tempos”, reclama.

Durante o período que frequenta a Fundação, Paula disse já ter visto inúmeros amigos deixarem de estudar por não conseguirem bolsa. “Teve gente que, mesmo sem condições, foi obrigado a pagar duas mensalidades (cerca de R$ 640) para, só então, saber se seria bolsista. E quem não teve condições, saiu. É injusto.” Ela também reclama que poucas vezes eles foram ouvidos pela diretora.

Outro problema enfrentado por lá, inclusive descrito em um dos cartazes levantados pelos alunos na Sala São Paulo, é o valor da hora-aula dos docentes, que custa R$ 11,85. “Os professores não conseguem ter porta-voz lá dentro por medo de retaliações”, diz. Em reportagem do Diário publicada no domingo, um professor, que preferiu não se identificar, disse que o valor passou de ser “indecente” e que profissionais com a mesma função na Capital chegam a receber R$ 50 pela hora-aula.

O Teatro Timochenco Wehbi, que fica na instituição, também sofre com o descaso. Tem infiltrações e agenda comprometida por problemas estruturais. “Estamos passando por todos esses momentos de luta, a Fundação, como um todo, está sendo esvaziada. Chegar em um concerto desses e poder falar tudo isso é extremamente importante. É um pedido de socorro”, analisa Paula.

Apesar de o pedido por melhorias vir de várias vozes, não apenas dos artistas de dentro da Fundação, o prefeito José Auricchio Júnior garantiu, em nota, que a instituição está com “todas as suas atividades em pleno funcionamento, como sempre”. Ele destacou que, em 2017, a cidade “passou por forte ajuste econômico”, mas “que nada parou”. Sobre o baixo salário dos professores, generalizou o problema: “Atinge a todo o funcionalismo, portanto, é uma pauta que estudamos como um todo. É injusto tratar isoladamente apenas a situação dos professores de lá”.

A diretora da Fundação, Ana Paula Demambro, também comentou com o Diário sobre o ocorrido. “Recebi manifestações de alunos e professores que se disseram desrespeitados com o protesto.” Sobre as bolsas, disse que fizeram “novo procedimento para concessão, estritamente técnico, e que há bolsas à disposição”.

Segundo ela, não existe “mais farra de distribuição de bolsas”. A diretora admitiu que o valor da hora-aula é baixo, mas que é preciso considerar “outros benefícios que compõem a remuneração dos professores”. E complementou: “Nossa direção já encaminhou pedidos de estudos ao RH e setor jurídico da Prefeitura. Estamos empenhados pela melhoria salarial”.

Consultado, o secretário de Cultura, João Manoel da Costa Neto (PSDB), afirmou que não “há desmonte na Cultura da cidade” e que ouve as demandas. “Seguiremos abertos ao diálogo e com a mesma dedicação ao trabalho”, finaliza. 




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