O novo presidente da Câmara de Embu, na Grande Sao Paulo, Geraldo Leite da Cruz (PT), está sendo ameaçado de morte. Ele é o responsável pelas denúncias que provocou o afastamento, pela Justiça, de 18 dos 19 vereadores da Câmara, acusados de corrupçao. "Estao ligando para minha casa e em meio a palavras desconexas, dizem: 'Vamos eliminá-lo' ou 'Vamos dar um fim em você'", afirmou Cruz.

"Além disso, amigos vêm contar-me que comentam em alguns pontos da cidade que estao me assando para depois me eliminar", acrescentou.

Uma patrulha da Polícia Militar vigia a casa do vereador no Jardim Independência. "Nao temo pela minha vida, pois o meu maior segurança é Deus, que nao me larga", disse Cruz.

Os 18 vereadores foram afastados na segunda-feira (14) por decisao da Justiça. Eles sao acusados de desviar verbas e participar de congressos fantasmas em cidades turísticas, entre fevereiro e setembro de 1997. O total desviado é estimado em R$ 145 mil.

Esse é o segundo maior escândalo político da cidade. Em 1984, o ex-prefeito Nivaldo Orlandi (PMDB) ganhou as páginas dos jornais, depois de promover, em 29 de julho, uma churrascada de confraternizaçao com mais de mil passarinhos, entre tico-ticos, rolinhas e sabiás. Orlandi é irmao da vereadora Neide Orlandi (PDT), recém-afastada do cargo, acusada de corrupçao.

Na época, o ex-prefeito justificou a matança dos pássaros para manter o equilíbrio ecológico. "A superpopulaçao de pássaros, em determinadas cidades, destrói plantaçoes de milho e arroz", afirmou.

Como tinha maioria na Câmara, os pedidos de investigaçao do caso foram arquivados. Mas a Justiça condenou o prefeito e o pai dele, o comerciante David Orlandi, a pagar uma multa de dez salários mínimos e a um ano de prisao, que poderia responder em liberdade por "ser réu primário e possuir bom antecedentes".

Orlandi recorreu da decisao e em 29 de outubro de 1986 e foi absolvido, por "falta de provas suficientes", pelo Tribunal Federal de Recursos (TFR).

A Câmara, dois meses antes, por dez votos a cinco, havia cassado o mandato dele, sob a acusaçao de ter criado, em maio daquele ano, ilegalmente, duas secretarias municipais e nomeado os funcionários por portaria.

Orlandi ficou apenas um dia fora da prefeitura, pois conseguiu na Justiça uma liminar suspendendo a cassaçao de mandato. O ex-prefeito foi em outros processos, mas, ao recorrer conseguiu escapar de todos. Em 1992, candidatou-se a prefeito pelo PDT, mas foi derrotado. Nas últimas eleiçoes, em 1996, a candidatura dele foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por crime eleitoral, a poucos dias das eleiçoes.

As cédulas estavam impressas com o sobrenome dele, mas Orlandi conseguiu que fosse substituído pela mulher, Alba Orlandi. Ela obteve cerca de 18 mil votos, ficando em terceiro lugar. O vencedor foi o entao candidato Oscar Yazbek, com um pouco mais de 22 mil votos.

Desde que assumiu o cargo, Yazbeck vem sendo acusado de ter cometido várias irregularidades. Na Procuradoria-Geral do Estado, ele responde a 15 processos.

A primeira irregularidade apontada foi a da impressao das iniciais do nome dele no símbolo da administraçao. Ele também assinou contrato, sem licitaçao, com uma empresa de segurança e foi acusado de superfaturamento na construçao de uma escadaria no Jardim Pinheirinho. "A obra custou R$ 71 mil, ou seja, quase R$ 1 mil por cada degrau", disse Cruz. Há também a pintura das paredes externas da igreja do Convento dos Jesuítas. A obra custou R$ 23 mil.

Em março, a Justiça afastou-o do cargo, sob a acusaçao de dificultar os trabalhos da Comissao Especial de Inquérito (CEI) da Câmara. Ele ficou fora apenas por dois dias. Após negociar com os vereadores, conseguiu 11 votos que arquivaram o pedido de impeachment.