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Surpresa no Equador após 'fuga' de Gutiérrez para o Brasil
Da AFP
24/04/2005 | 16:22
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Surpresa e frustração foram os sentimentos de muitos equatorianos ao saber que o ex-presidente Lucio Gutiérrez, a quem esperavam ver julgado e preso, protagonizou o que consideram ser uma "verdadeira fuga".

Gutiérrez estava cercado por grupos de ativistas que haviam jurado não deixá-lo sair da residência do embaixador do Brasil, Sergio Florencio, onde estava desde quarta-feira, após ter sido deposto pelo Congresso, para responder pelo "flagrante delito" - segundo as leis equatorianas - por reprimir os protestos populares que provocaram a sua queda.

Usando uma espécie de toca ninja, o ex-presidente enfrentou sem problemas o frio da madrugada de Quito, na ausência de seus severos oposicionistas, sem ouvir as palavras de ordem que nos últimos dias não o deixavam descansar nem de dia, nem de noite.

Nas noites anteriores, um persistente grupo de pessoas, entre homens e mulheres, passava no local trocando opiniões e fazendo muito barulho com buzinaços no exclusivo bairro La Mariscal, no norte da capital equatoriana, onde fica a residência brasileira.

"Como? Já fugiu?!", indignou-se Carmen Díaz, uma dona-de-casa que, na manhã de domingo chegou à residência diplomática para protestar. "Isto é uma verdadeira fuga, aproveitaram uma falha da gente para escapar", queixou-se.

Desde a noite de sexta-feira os manifestantes demonstravam um certo cansaço, talvez porque esperassem que a entrega do salvo-conduto pelo governo equatoriano demorasse. O número de manifestantes foi diminuindo, o que chamou a atenção dos funcionários da embaixada brasileira de que teria chegado o momento para dar curso à partida rumo ao asilo.

Marco Morillo Trujillo, um comerciante da capital equatoriana, se disse decepcionado com a partida de Gutiérrez. "Sempre acontece o mesmo, todos os políticos fogem e não são julgados", disse, destacando que o governo fez mal em permitir a sua saída. "É verdade que o governo era obrigado a lhe dar o salvo conduto, mas não precisava fazê-lo imediatamente, podia ter esperado mais como uma forma de castigo por seu péssimo governo", avaliou.

O taxista Daniel Jiménez manifestou seu desencanto com os políticos equatorianos, afirmando que "todos são iguais" e que a classe costuma se proteger. Ele lamentou a existência de um círculo de políticos que domina o país e que nos últimos anos não ocorreu "nenhuma renovação", opinião que resumiu em uma frase que os equatorianos têm repetido em ruas e praças: "Que saiam todos".

Este é o grito de guerra repetido durante a revolta popular da semana passada, que terminou com a destituição de Gutiérrez e que, segundo analistas independentes, evidencia o repúdio ao que os cidadãos do país - e de outros países da América Latina - chamam com desprezo de "classe política".

"Claro, porque são os de cima os que sempre governaram o Equador. Todos saíram e ninguém responde. Se Gutiérrez saiu, restam outros que são do mesmo grupo", comentou Segundo Valdiviezo, um trabalhador de limpeza pública para quem aos equatorianos "só nos resta trabalhar".

Mas também há setores que defendem Gutiérrez, que pensam que ele não deveria ter sido deposto. O pedreiro José Caysaluiza disse que "agora os corruptos estão felizes", acusando os empresários de terem promovido sua destituição. "Estes empresários são os mesmos deputados que tiraram Gutiérrez", afirmou, considerando que o ex-presidente foi deposto porque ele "estava cobrando as dívidas dos poderosos".

Consumado o asilo diplomático, cerca de vinte agentes policiais continuavam cercando a residência do embaixador brasileiro para evitar possíveis atos hostis de parte dos manifestantes que compareceram ao local diariamente.

Na fachada restam apenas algumas pichações que dão testemunho da violência verbal dos últimos dias, como 'Lula, amigo, devolva a mula'.




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