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ESPECIAL LULA: as greves que mudaram o país
Do Diário do Grande ABC
27/10/2002 | 21:25
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Os movimentos grevistas nas indústrias do Grande ABC entre 1978 e 1980, que tiveram como um dos principais protagonistas o sindicalista Luiz Inácio da Silva, são considerados um marco histórico. Foram as primeiras paralisações depois de anos sem greve no país, em uma demonstração de resistência à ditadura militar que ajudou a trazer de volta a democracia.

As greves foram precedidas por uma manifestação dos metalúrgicos por reposição salarial, em 1977. O prefeito Maurício Soares, na época coordenador jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, afirmou que naquele ano, Mário Henrique Simonsen, quando assumiu o ministério do Planejamento, comentou que o ex-ministro Delfim Netto manipulava as estatísticas e Lula resolveu organizar atos para lutar e recuperar as defasagens.

O primeiro movimento grevista ocorreu em 1978 na Scania. O ex-prefeito de Diadema, Gilson Menezes, era diretor de base do sindicato na fábrica da montadora em São Bernardo e participou da mobilização na empresa, que começou na ferramentaria. “Começamos a propor a greve no dia 12 de maio e nesse mesmo dia pouquíssimas pessoas ligaram suas máquinas”, disse.

Para a biógrafa Denise Paraná, Lula, que era presidente do sindicato desde 1975, soube compreender aquele momento histórico e passou a organizar outras greves na região. Em 1979, houve uma série de paralisações, uma delas na Ford, que durou nove dias. O deputado federal Gilson Menezes (PT), que trabalhava na época na empresa, lembra que foi um momento importante na vida dos metalúrgicos.

“Marcávamos cartão e ficávamos lá dentro, esperávamos as 5h (da tarde) para ir embora. Quando exigimos a entrada de Lula na Ford, ele entrou, fez reunião em todos os departamentos da Ford, subiu com as reivindicações e tivemos a vitória mais expressiva, 11% de reajuste, que depois se estendeu para toda a categoria”, disse Menezes. Mas as conquistas não eram fáceis. A polícia do governo militar agia de forma violenta, para reprimir os movimentos.

No ano seguinte, a greve da campanha salarial se prolongou durante todo o mês de abril e teve como ponto alto a realização do 1º de Maio. Apesar da tentativa de setores conservadores em realizar o ato fora do Grande ABC com medo da represália da ditadura, o comando de greve dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema optou pela realização na praça da Igreja Matriz em São Bernardo.

No dia 19 de abril, as principais lideranças foram cassadas e nesses dias vários foram presos, entre eles, Lula. No 1º de Maio, a Polícia Militar cercou as entradas para o município, dificultando a chegada de manifestantes para o ato. Mas todo o aparato não foi suficiente para intimidar os mais de 150 mil manifestantes que compareceram pedindo a liberação dos presos e liberdade sindical. Com a iminência do confronto, o comando militar recuou e deixou a cidade, e os manifestantes rumaram em clima de vitória para o estádio da Vila Euclides.

Um dos episódios marcantes para o ex-diretor do sindicato Nelson Campanholo foi a liberação de Lula, preso no Dops, para ir ao enterro da mãe. “Arrumei uma sala na Beneficência Portuguesa de São Caetano e o Lula chegou. No outro dia, houve o sepultamento e ele voltou para o Dops.”




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