Política Titulo
Um mercado imobiliário muito particular
Alceu Luís Castilho
Especial para o Diário
13/02/2007 | 22:27
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Da carência à fartura: em um país com déficit de moradia estimado em 7 milhões de unidades, 503 deputados federais eleitos têm juntos mais de 3 mil imóveis urbanos, no valor de R$ 214 milhões. Mais da metade (1.654) são lotes e terrenos sem construção. A partir dos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a reportagem constatou que há área declarada por até R$ 16,72. Distribuídos em cidades de 11 Estados, 50 desses lotes foram estimados pelos deputados em R$ 22 mil, numa média de R$ 440 cada – valor aproximado de uma televisão de 20 polegadas.

O TSE não forneceu dados sobre 10 dos 513 parlamentares eleitos. Foram considerados neste levantamento os deputados que tomaram posse no dia 1º de fevereiro. Esses 503 eleitos possuem 568 apartamentos, 473 casas e 51 prédios, além de 208 imóveis comerciais, 13 barracões e 5 galpões, entre outros especificados apenas como ‘imóveis’.

O apartamento mais caro, segundo a declaração de Carlos Bezerra (PMDB- MT), está localizado na rua Presidente Marques, em Cuiabá, e custa mais de R$ 15 milhões. Fica no Edifício Fontana di Trevi, nome da fonte romana consagrada pelo filme La Dolce Vita, de Fellini.

A série ‘Câmara Bilionária’, iniciada segunda-feira, mostra que os 503 deputados reúnem uma fortuna de R$ 1,25 bilhão, maior que o orçamento anual de Roraima.

Os imóveis urbanos são o segundo investimento mais comum entre eles, atrás das empresas e à frente dos imóveis rurais (excluídos os equipamentos agrícolas), do dinheiro guardado ou aplicado (em bancos ou ações) e dos veículos – a reportagem de terça-feira mostrou que, à exceção do Gol, os modelos mais consumidos por eles são a Pajero, o Corolla e o Hilux.

Pelo Brasil - Cinqüenta e nove imóveis foram estimados em mais de R$ 500 mil cada. Mas entre as residências há três declaradas por menos de R$ 1 mil. O deputado Armando Abílio (PTB), um dos 15 que trocaram de partido antes mesmo da posse, possui 1/3 de casa de R$ 555 em Diamante (PB); Roberto Balestra (PP), 7/8 de uma de R$ 693 em Inhumas (GO); e Manoel Salviano (PSDB), uma estimada em R$ 968, em Juazeiro do Norte (CE). Outras 14 valem menos que R$ 10 mil – pouco mais que o salário líquido dos parlamentares.

Entre os apartamentos, a discrepância em relação aos valores de mercado não chega a tanto. Mas há caso de um prédio inteiro declarado por R$ 4,2 mil, pelo deputado Inocêncio de Oliveira (PR-PE). Valores mais altos, porém, também passam longe da realidade observada nas imobiliárias – por mais que nas declarações de bens não seja, desde 1998, necessário fazer alguma correção monetária (isto no caso de imóveis que não tenham recebido algum tipo de benefício).

Assim, na lista dos parlamentares é possível achar mais de um apartamento em Brasília por R$ 30 mil, em regiões onde são vendidos por mais de R$ 300 mil. Por motivos evidentes, a Capital Federal é o destino mais procurado entre os deputados de outros Estados: são 43 casas e apartamentos declarados, o dobro dos 21 pertencentes aos oito representantes do Distrito Federal. O Rio vem em seguida, com 17 imóveis entre os parlamentares estrangeiros e 122 entre os fluminenses.

Mesmo nas praias, sonho de consumo de tanta gente, não é difícil achar lotes por valores irrisórios. Um lote do deputado Pinotti (PFL-SP) na Praia do Léo, em Ubatuba, no condomínio Sertãozinho, foi declarado por R$ 357,28. Em Guarapari (ES), a deputada Rose Freitas (PMDB) possui 10 lotes por R$ 850 cada. Um terreno de 360 m2 na praia de Jacumã, em Conde (PB), está nas mãos do deputado Fernando Ferro (PT-PE) por R$ 6 mil. Outro lote na Praia do Barco, em Osório (RS), foi declarado por Onyx Lorenzoni (PFL) por R$ 2,4 mil.

Os mais caros - Sete deputados paulistas aparecem entre os 21 que mais reúnem patrimônio imobiliário urbano. Entre eles estão Pinotti (PFL) e Paulo Maluf (PP), com R$ 3,6 milhões e R$ 2,82 milhões, respectivamente. Caso a defasagem de valores observada na declaração de diversos parlamentares valesse para todos os demais, os dois imóveis de Maluf na rua Costa Rica, no Jardim América, estimados em R$ 462 mil (no número 126 da rua) e R$ 1,34 milhão (número 146) poderiam ultrapassar R$ 100 milhões.

Após o apartamento de R$ 15 milhões de Carlos Bezerra, o imóvel mais valioso é um lote declarado por Alfredo Kaefer (PSDB-PR), na rua Lapa, em Cascavel, por R$ 2,6 milhões – 155 mil vezes mais que o lote de R$ 16,72 de Pedro Henry (PP-MT) em Mirassol do Oeste. Além de Pinotti e Maluf, o paulista Valdemar Costa Neto (PR), de volta à Câmara após o escândalo do mensalão, aparece duas vezes na lista dos imóveis mais valiosos, com dois imóveis em Mogi das Cruzes de R$ 1,1 milhão e R$ 1 milhão.

O multimilionário Camilo Cola (PMDB-ES), deputado mais rico do país com uma fortuna de R$ 259 milhões, aparece somente em nono lugar na lista dos imóveis mais caros, com uma casa de R$ 1,05 milhão em Cachoeiro do Itapemirim (ES) – terra de Roberto Carlos e de seu império rodoviário. O segundo deputado mais rico, Odílio Balbinotti (PMDB-PR), está na lista dos que mais investem, mas seu imóvel de maior valor foi declarado por R$ 350 mil, um apartamento de cobertura em Maringá.

Os 24 lotes de Balbinotti em Rondonópolis (MT), declarados por R$ 720 mil no total (média R$ 30 mil cada), valem bem mais que os dois terrenos de Wellington Fagundes (PR-MT) na mesma cidade, estimados pelo deputado em R$ 416,38.

A casa mais valiosa em São Paulo foi declarada por Pinotti por R$ 1,8 milhão, na avenida Brasil, nos Jardins; a de menor valor pertence ao próprio médico: metade de um apartamento na rua Rocha, por R$ 9,3 mil. Em seguida vem o apartamento em construção de José Mentor (PT), na rua Balzac, na Vila Formosa, avaliado por ele em R$ 20 mil.




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