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Corte de água afeta 132 imóveis por dia no Grande ABC

Inadimplência, segundo companhias, é o principal motivo para a interrupção do serviço

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
30/11/2017 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Média de 132 imóveis da região tem o abastecimento de água interrompido a cada dia, em sua maioria por falta de pagamento. É o que aponta levantamento feito por companhias responsáveis pelo serviço em seis municípios do Grande ABC – com exceção de São Caetano – a pedido do Diário.

Autorizada pela legislação brasileira, por meio da Lei 11.445/07, a interrupção por inadimplência, feita após notificação da concessionária responsável pelo serviço, foi realizada neste ano em 48.507 imóveis da região. O balanço, que leva em consideração dados de janeiro a outubro, foi feito com base em estatísticas divulgadas pela Sabesp (Companhia Estadual de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e BRK Ambiental, responsável pelo serviço em Mauá.

Embora o índice apresente redução de 1,92% em relação aos 49.456 cortes de água realizados pelas companhias no mesmo período de 2016, especialistas em economia destacam o cenário alarmante que o indicador pode representar para a economia local. “Se essa família deixou de pagar a conta de água, que na prática é um serviço básico para todos, isso já nos mostra que antes desse episódio outras contas devem ter sido deixadas de lado”, avalia José Carlos Garé, gestor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

Com orçamento apertado e sem noção básica de gestão financeira, segundo o especialista, boa parcela da população da região acabou encontrando dificuldades em lidar com a instabilidade econômica enfrentada pelo País nos últimos anos. “Muitas pessoas acabam não tendo a dimensão de quanto ganham e quanto gastam por mês, o que leva a grande maioria para o endividamento”, explica.

Na análise do economista Agostinho Pascalicchio, professor do Mackenzie, o problema pode estar atrelado diretamente à crise econômica e aos recentes reajustes feitos no serviço de abastecimento de água, que, neste mês, ficou 7,88% mais cara em quatro municípios da região gerenciados pela Sabesp (São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra).

“O que se nota, em nível nacional, é que serviços básicos para famílias, como água e luz, continuam com preço elevado e sem qualquer perspectiva de investimento para que este índice reduza. O resultado acaba sendo esse, sem emprego e dívidas, moradores acabam tendo que escolher o que pagar”.

Por mais que o cenário econômico tenha apresentado uma leve melhora, na visão do especialista a situação tende a piorar. “A alta do custo desses serviços é constante. Dificilmente teremos redução dessas taxas. Cabe saber se a população conseguirá arcar com esses custos”, frisa.

Em junho, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, da Câmara dos Deputados, chegou a aprovar proposta que impede o corte no abastecimento de água e de energia elétrica de usuários de baixa renda e em locais de serviços públicos essenciais à população.

O projeto, no entanto, ainda será analisado conclusivamente pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

 

NÚMEROS

Santo André lidera hoje o ranking de inadimplentes da região. De janeiro e outubro, segundo o Semasa, 17.425 imóveis tiveram a água cortada em decorrência do atraso no pagamento.

No caso da Sabesp, foram 15.808 cortes até 31 de outubro. Os números, que não fazem recorte de inadimplentes, levam em consideração dados de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Em Mauá, conforme a BRK Ambiental, o número de cortes foi de 15.274.

 

ENERGIA

A inadimplência de moradores da região também tem sido frequente quando o assunto é o pagamento do serviço de luz. Segundo a AES Eletropaulo, somente no terceiro trimestre deste ano cerca de 7.000 clientes realizaram negociações referentes a valores devidos à concessionária.




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