Cultura & Lazer Titulo
Estandarte do samba
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
11/02/2009 | 07:00
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Quando criança, a diversão de Luís Ferron no Carnaval era assistir pela TV aos desfiles das escolas de samba de São Paulo. Entre aquelas imagens, ainda em preto-e-branco, uma, em especial, saltava-lhe aos olhos: a dança dos mestres-salas e porta-bandeiras. "Eu achava lindo", conta o bailarino, coreógrafo e diretor do grupo de Dança Mão na Roda, de Diadema. Há dez anos, surgiu a oportunidade de se tornar mestre-sala da Unidos da Vila Alice, em Diadema - posto que continua seu. Mas é a partir de hoje que Ferron retribui esse amor de longa data com a estreia, no CCSP (Centro Cultural São Paulo), de Sapatos Brancos.

No palco, Ferron reúne sambistas de fina estirpe para recontar, de forma cênica, as origens dessa dança até sua evolução nos anos 1940. Entre eles, está sua parceira de avenida há sete anos, a porta-bandeira de Vila Alice, Zélia de Oliveira (neste ano, convidada da Rosas de Ouro). Mestre André, embaixador do samba de São Bernardo, é outro que participa desse espetáculo - que mistura teatro e dança - , assim como Maurici Brasil, do grupo Baque Bolado, o ritmista Jorge Nascimento e o Mestre Ednei Marciano (convidado em 2009 da Rosas de Ouro), além do bailarino Tony Siqueira.

"Eu optei por uma dramaturgia simples e honesta. Organizei cenicamente a naturalidade encontrada nos ensaios", diz Ferron. Da mesma maneira que dá indícios ao público de todas as matrizes culturais que compõem a dança desse casal sambista - congada, jongo, umbigada, tiririca, capoeira e religiosidade - o coreógrafo brinca com símbolos atuais. Inclusive com pitadas de bom humor, como na cena em que é dada a nota à escola: ‘noota, ooito!", diz, no palco, com a voz grave e firme.

Nada é contado de forma cronológica, mas sim, sensorial. E a música, apesar das bases eletrônicas que permeiam a apresentação, é tocada ao vivo, pelo mesmo grupo que compõe o elenco.

O título, conta Ferron, é uma referência ao calçado usado pelos negros no samba, símbolo da adesão deles à cultura branca. Mas também pode ser o contrário: do branco que bebe dessa rica cultura negra. Como o próprio Ferron, que durante dez anos mergulhou nesse universo para entender a arte dos mestres-salas e porta-bandeiras. E para conceber o espetáculo que hoje leva ao CCSP.

Sapatos Brancos - Dança. De hoje a sábado, às 19h30; domingo, às 18h30. Centro Cultural São Paulo (sala Adoniran Barbosa) - Rua Vergueiro, 1.000. Tel.: 3397-4002. Grátis. Ingressos disponíveis uma hora antes.




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