Os dados divulgados recentemente pela Fundação Seade e retratados na edição de hoje deste Diário sobre o número de cesáreas no Grande ABC são mais do que preocupantes, sobretudo quando a Organização Mundial da Saúde recomenda que apenas 15% dos partos sejam realizados por meio de cirurgias. Afinal, o levantamento aponta que nada menos do que 63,38% das mulheres que deram à luz na região, em 2015, decidiram se submeter à operação para trazer seus filhos ao mundo.

A medida pode até ser mais cômoda para elas, que têm a possibilidade de agendar o nascimento, mas especialistas desaprovam porque a cesárea significa riscos, como o surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e de morte materna e infantil. Para além da comodidade, apontam que muitas mulheres preferem recorrer ao procedimento cirúrgico porque têm medo da temida dor do parto, passada de geração em geração.

Obviamente não se trata de condenar aquelas que optam pela cesárea, até porque, é direito de cada ser humano fazer as escolhas que lhes dizem respeito. Mas infere-se, pelo que preconiza a importante entidade de Saúde mundial, que é preciso adotar medidas mais incisivas para tentar convencer cada vez mais mulheres a recorrer ao parto normal.

No Brasil aparecem, de quando em quando, campanhas para incentivar o parto vaginal, e o SUS tem trabalhado para reduzir o assustador índice de cesáreas, mas é fundamental intensificar as ações junto às gestantes, em particular, e às mulheres de modo geral. Aliás, são iniciativas que devem incluir as adolescentes, inclusive para orientar sobre os meios de prevenção, de modo a evitar a gravidez precoce.

No caso do Grande ABC, o que os dados da Fundação Seade revelam é que a estrutura que a rede pública tem criado para incentivar o parto normal de pouco tem adiantado. Comodidade, medo da dor ou falta de conhecimento. Não importa o motivo. O fato é que algo tem de ser feito para que menos crianças venham ao mundo por meio de cirurgias.