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Peregrinação hindu ganha grandes dimensões políticas
Das Agências
05/01/2001 | 10:53
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A grande peregrinação hindu, que começa na próxima semana em Allahabad (Norte da Índia), além do aspecto religioso, possui também uma dimensão marcadamente política.

Dirigentes fundamentalistas esperam aproveitar a manifestação que reunirá —milhões de pessoas entre 9 de janeiro e 22 de fevereiro — para anunciar as datas da construção de um templo hindu sobre as ruínas de uma mesquita destruída por extremistas em 1992, na localidade de Ayodhya.

A campanha para a construção deste templo em homenagem ao deus Rama agitou mais uma vez a classe política indiana nas últimas semanas.

Esta campanha é dirigida em particular pela organização fundamentalista Vishwa Hindu Parishad (VHP, Conselho Mundial Hindu), que mantém vínculos com o BJP, partido no poder em Nova Déli.

‘‘Nossos dirigentes religiosos celebrarão seu ‘dharam sansad’ (reunião parlamentar) durante a ‘Maha Kumbha Mela’ (peregrinação de Allabahad), em cuja ocasião serão anunciadas as datas de construção do templo’’, declarou um dirigente do VHP, Acharya Giriraj Kishore.

Para a grande ‘‘Maha Kumbh Mela’’, que é celebrada a cada 12 anos, os organizadores esperam a chegada de 30 milhões de pessoas em 24 de janeiro, ‘‘dia da lua nova’’, no local, onde os rios Ganges e Yamuna se encontram.

Para a multidão de ‘‘sadhus’’ (homens santos) e para os peregrinos comuns vindos de toda a Índia (um bilhão de habitantes), a ‘‘Kumbh Mela’’ é uma ocasião única para lavar todos os pecados através de mergulhos na água.

A manifestação de 2001 tem uma importância particular, pois coincide com uma conjunção de planetas que não se repetirá em menos de 144 anos. O livro dos recordes, Guinness, descreveu a última grande Kumbh Mela, que reuniu mais de 15 milhões de pessoas em 1989, como ‘‘o maior número de seres humanos já reunido, com um objetivo comum, em toda a história da humanidade’’.

As organizações fundamentalistas hindus querem aproveitar a ocasião para promover sua ideologia, estimando contar com excelentes contatos no poder em Nova Délhi, dominado pelos nacionalistas do partido BJP.

O BJP, partido do primeiro-ministro indiano Atal Behari Vajpayee, pediu ao VHP que desista de seu projeto de anunciar as datas da construção para não provocar tensões religiosas no país. O pedido foi desconsiderado por Kishore, que declarou sua ‘‘firme’’ decisão de construir o templo em questão.

A destruição da mesquita histórica Babri em Ayodhya (Norte da Índia) há oito anos provocou enfrentamentos entre hindus e mulçumanos que deixaram mais de 2 mil mortos.

O caso de Ayodhya voltou à tona no mês passado, depois das declarações ambíguas de Vajpayee sugerindo que não é contrário à campanha pela construção do templo.

Em 14 de dezembro passado, seu Governo derrotou uma moção de censura na câmara baixa do parlamento, que exigia a destituição de três ministros nacionalistas hindus acusados de terem incitado seus partidários a destruir a mesquita Babri.

Posteriormente, o primeiro-ministro matizou suas declarações, afirmando que a questão será decidida pela justiça ou será alvo de um acordo negociado entre hindus e muçulmanos.

O BJP conseguiu acordos com outros partidos para formar o Governo, e o debate do mês passado no parlamento provocou alguns problemas para a coalizão no poder em Nova Déli. Segundo a opinião de especialistas, é pouco provável que o BJP sacrifique suas possibilidades de ficar no poder apenas por causa da questão do templo.




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