O monumento ao Bom Jesus, ou Capela do Protetor da Boa Viagem, em Santo André, pede socorro para não ser esquecido. Localizada no km 47,5 da Rodovia Adib Chammas, em Campo Grande, próxima à entrada da Parte Baixa da Vila de Paranapiacaba, a igrejinha está isolada no alto de um morro. Não é possível avistá-la da estrada, e não há qualquer placa que indique que ali há um patrimônio tombado em 2011 pelo Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André), mas ainda aguardando a homologação.
Para quem se aventura a subir a pequena estrada de terra, o cenário é triste. A capela, inaugurada em 18 de abril de 1913 e onde até casamentos da comunidade local foram celebrados, está com as paredes pichadas e cercada de lixo. A porta de madeira em formato de arco quebrou e vândalos invadiram o interior do templo religioso, onde é possível ver velas, roupas, restos de alimentos e até mesmo preservativos.
A responsabilidade pela conservação da capela é da Paróquia São Sebastião, de Rio Grande da Serra. No entanto, a distância atrapalha. "Fizemos seis mutirões de limpeza nos últimos três meses. Vamos fazer outro no domingo, mas não vence limpar. As pessoas não respeitam", disse a secretária paroquial Inácia Bernadete Neto de Araújo, que foi criada em Paranapiacaba e se lembra da época em que a capela era um símbolo religioso importante para a comunidade. "Chorei a última vez em que estive lá, porque o que está acontecendo é triste. Queríamos consertar a porta que está quebrada, mas como a capela é tombada, tudo é complicado porque precisa ser feito por especialistas."
O conselheiro do Comdephaapasa e vice-presidente do Instituto do Patrimônio do Grande ABC, Adalberto Dias, acredita que o isolamento da capela prejudica a conservação. "Antes havia missas por lá, mas hoje não há mais. Os idosos que conheciam a história do local foram embora ou morreram, e os mais novos não se interessam em manter o patrimônio porque não tem identificação com ele."
Inácia afirma que as missas deixaram de ser realizadas em 2007 porque a comunidade não mais comparecia ao serviço religioso. "Muitos moradores foram embora com o fechamento da estação (ferroviária de Campo Grande). Por isso, os padres passaram a realizar a pregação na casa das poucas famílias que restaram."
HISTÓRIA
A Capela da Boa Viagem foi construída pelo padre Luiz Capra. No topo da edificação está a imagem de Cristo, um monumento comemorativo ao Jesus Redentor, como é usual na Itália, França e Espanha. Para construção, o padre usou suas economias e até fez dívidas. Ele vinha de Ribeirão Pires para celebrar missas e casamentos na capela.
Antigos moradores contam que entre 1930 e 1935, Angelin Arnoni deu um tiro na imagem, arrancando-lhe dois dedos. Após 25 dias seguidos de chuva, que prejudicaram o transporte de madeira e lenha até a estação ferroviária para comercialização com outras cidades do Grande ABC, Capital e Baixada Santista, o sol surgiu pela manhã. Enquanto os motoristas se preparavam para sair com o material, porém, voltou a chover, o que deixou Arnoni irritado e o teria motivado a atirar na imagem.
Por coincidência, a chuva cessou logo depois e o sol voltou a brilhar, para alegria dos trabalhadores que dependiam da ferrovia.
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