Economia Titulo
Aviaçao brasileira perde passageiros na rota Brasil-EUA
Do Diário do Grande ABC
11/03/2000 | 15:16
Compartilhar notícia


As empresas aéreas brasileiras perderam mais de 336 mil passageiros em 1999 na rota Brasil-EUA, segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Aviaçao Civil (DAC). O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), brigadeiro Mauro Gandra, calcula que a perda de receita em relaçao a 1998 é de pelo menos US$ 200 milhoes. "O ano de 98 até que foi normal, mas ano passado foi barra pesada. A Varig já teve 70% do tráfego Brasil-EUA (obteve 29% em 98 e 23,4% em 99). Está complicado", lamenta Gandra.

Segundo o DAC, as brasileiras Varig, Vasp, Transbrasil e TAM transportaram 1,024 milhao de passageiros entre os dois países no ano passado contra 1,286 milhao das quatro empresas americanas - American, United, Delta e Continental. Com as reestruturaçoes que as brasileiras se viram obrigadas a fazer para enfrentar a alta do dólar logo no início de 1999, a participaçao brasileira nesse mercado caiu para 687 mil passageiros - 32,86%.

As americanas também sentiram os efeitos da alta do dólar, mas praticamente repetiram o desempenho de 1998 transportando 1,279 milhao passageiros, apenas sete mil a menos (0,57%). Atualmente, de cada três passageiros na rota, dois viajam pelas companhias americanas (65,22%) e apenas um pelas brasileiras (34,78%).

Uma das explicaçoes para o surpreendente desempenho das americanas num ano em que os brasileiros fugiram de qualquer despesa calculada em dólar é que, mesmo sofrendo prejuízos, as empresas americanas mantiveram suas 105 freqüências semanais estipuladas pelo acordo bilateral entre os departamentos de aviaçao dos dois países.

As brasileiras, por sua vez, cortaram os vôos menos lucrativos e operam atualmente com apenas 55 dos vôos aos quais têm direito. A Varig, que tem uma cota de 49 vôos semanais - igual à da American Airlines -, cortou 15 dos 45 que utilizava em 1999 e acabou perdendo 210 mil passageiros, caindo de 671 mil para 461 mil, segundo números da própria empresa. A Varig deixou de fazer o vôo diário para Washington e Atlanta e passou a fazer Nova Iorque apenas uma vez por dia em vez de duas.

A Vasp, que recentemente devolveu metade de seus oito avioes MD-11 à empresa de leasing Tombo Aviation, afirma que transportou 118,5 mil passageiros em 1999, 40,2% a menos que os 198 mil no ano retrasado. A empresa paulista tem direito a 21 vôos semanais para os EUA, mas faz atualmente apenas oito - quatro para Miami e quatro para Nova Iorque, vôo que será suspenso a partir deste domingo por causa do início da baixa temporada.

A Transbrasil iniciou sua reestruturaçao no segundo semestre de 1998, sem saber que se antecipava à crise cambial. "Por isso sobrevivemos bem", diz o assessor da empresa, Jorge Honório. Dos 21 vôos semanais pelo acordo bilateral, a empresa faz apenas um vôo diário para Miami e Orlando. Nova Iorque, Washington e parte dos vôos para Miami foram cortados entre setembro e outubro de 1998.

Apesar de alegar queda de 74.700 para 43.377 passageiros entre Brasil e EUA, a Transbrasil garante que os cortes nao só evitaram prejuízos como também possibilitaram lucro. "Os vôos estao mais rentáveis", garante Honório. Na mesma ocasiao, a empresa cedeu seus vôos para Londres à Varig em troca de Lisboa, o que possibilitou vôos diários para a capital portuguesa.

A TAM, a caçula em vôos internacionais, começou a voar para Miami em dezembro de 1998 e conseguiu 105 mil passageiros ao longo de 1999 com uma freqüência diária. A previsao inicial era que a empresa iniciasse sua segunda freqüência diária em dezembro passado, mas o presidente Rolim Amaro só a autorizou em 16 de fevereiro deste ano. "Só começamos o segundo vôo após constatar a consolidaçao do primeiro. Estamos fora desse desastre", afirma o diretor de comunicaçao da TAM, Mauro Guimaraes. A empresa aposta na nova frota dos Airbus A330 para melhorar seu desempenho este ano. "Estamos melhores que no início de 1999", diz o diretor.

O consultor de transporte aéreo Mário Sampaio, também representante da Airbus no Brasil, lamenta o corte de vôos e teme que a fatia de mercado perdida pelas empresas brasileiras seja difícil de recuperar. "Diminuíram os vôos para economizar, mas perderam um espaço para as americanas. Mesmo sem lotar os vôos, eles estao investindo em market share (parcela de mercado), com custos muito mais baixos. Agora vao apenas conservar o que conquistaram", diz Sampaio.

Nas rotas européias, as brasileiras também estao economizando, usando apenas 67 de suas 98 freqüências semanais, enquanto as rivais européias utilizam todas. Na Asia, o cenário é parecido. Desde janeiro de 1999, o Brasil faz apenas sete de seus 13 vôos semanais.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;