Deu a Louca na Chapeuzinho, uma dessas aberrações que só o modismo estético pode incentivar. Tem sua porçãozinha de Shrek, ao satirizar um conto de fadas, no caso o de Chapeuzinho Vermelho, e também dar com os burros n’água ao achincalhar os meios e não os fins; mas tem por outro lado uma porção das animações da Pixar, de Vida de Inseto a Procurando Nemo, quando procura aproveitar o mote de um filme clássico em sua composição estrutural. Seu alvo é Rashomon (1950), filme de Kurosawa que observava um mesmo ato de vários pontos de vista.

Um adendo: Deu a Louca na Chapeuzinho é o primeiro filme animado da Weinstein Company, recém-criada empresa dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, que ficaram conhecidos como o par que encabeçava a Miramax, produtora que lançou, por exemplo, Quentin Tarantino.

Cansaram um pouco essas paródias de nota única em que a nova animação se enquadra. Ninguém é o que parece: Chapeuzinho pode não ser um doce de neta, o Lobo pode ser vítima das circunstâncias, a Vovó parece exalar mais crueldade que Dom Corleone... Todos são investigados por uma tal polícia animal para saber o que realmente aconteceu na casa da Vovozinha.

Ademais, o filme começa pelo fim, o que caracteriza mais gordura narrativa que uma busca por linguagem própria, imune a invencionices de ocasião. Shrek já era bem fraquinho; o que dizer de um genérico dele, que ainda por cima é metido a esperto.

DEU A LOUCA NA CHAPEUZINHO (Hoodwinked!, EUA, 2005). Dir.: Cory Edwards,Todd Edwards, Tony Leech. Estréia nesta quinta-feira no ABC Plaza 6, Extra Anchieta 6, Central Plaza 7 e circuito. Duração: 80 minutos. Classificação livre.