A história da descoberta de Rodolfo Alcántara é o que torna o livro Uma História Simples (Record) uma pequena joia. Ali, Leila Guerriero confirma seu talento para narrar a trajetória e pessoas desconhecidas em verdadeiros épicos. Foi assim em Los Suicidas del Fin del Mundo, sobre jovens de 25 anos que misteriosamente deram fim à própria existência, em um ermo povoado petrolífero da Patagônia, e, em especial, nesse Uma História Simples. Alcántara é um jovem simples, enredado em uma rotina pacata e com apenas uma ambição: a de se tornar campeão do Festival Nacional de Malambo de Laborde.
"Eu fazia pesquisas sobre o festival quando, em um determinado dia, vi Rodolfo dançando. Não entendo das regras desse bailado, mas sua desenvoltura me surpreendeu - era alguém alimentado por um fogo interminável, algo que me provocou um fascínio só comparável à primeira vez que vi (o espanhol) Antonio Gades dançar", conta ela. Tal surpresa é perceptível no livro, que começa com uma descrição daquela região de Córdoba e de como funciona o malambo até o momento da descoberta. "É como se estivesse mostrando um filme, que começa com um plano geral sobre Laborde até a câmera descobrir Rodolfo e passar a focar unicamente seus passos."
Leila tornou-se conhecida por perfis e crônicas de estilo apurado, construídos após pesquisas exaustivas e sustentados por uma escrita apurada. E, além de narrar as desventuras de seus personagens, ela compartilha com o leitor seus anseios, tornando-o cúmplice com sua narrativa em primeira pessoa.
É o que se observa em um momento decisivo de Uma História Simples, título inspirado em um filme de David Lynch: aquele em que Leila revela suas dúvidas sobre o mal que poderia causar a Rodolfo ao, involuntariamente, alimentar sua expectativa pela vitória. Afinal, o rapaz não figurava entre os favoritos e seu sucesso seria inesperado. Leila titubeia, entre abandonar a história ou não, até preferir ficar.
"Eu teria um belo material mesmo se Rodolfo não vencesse", conta. "Perguntas não respondidas me atraem muito mais." Ao final, uma certeza: não apenas o bailarino, mas também o leitor sai ganhador.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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