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Poluiçao por ozônio em Sao Paulo passou 79 vezes do limite
Do Diário do Grande ABC
22/04/2000 | 16:09
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A poluiçao por ozônio vem atormentando a vida do paulistano. Em 1999, o padrao aceitável para o poluente foi ultrapassado durante 79 dias, de acordo com dados preliminares do novo Relatório de Qualidade do Ar da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). A qualidade do ar esteve inadequada em cerca de 15% dos dias do ano e em cerca de 5% deles foi decretado estado de atençao.

Enquanto outros poluentes, como o monóxido de carbono e o dióxido de enxofre, apresentam tendência de queda, o ozônio, uma das substâncias mais agressivas à saúde, tem aumentado. Os gases, emitidos durante a combustao pelos cerca de 6 milhoes de veículos em circulaçao na regiao metropolitana de Sao Paulo, sao os principais responsáveis pela violaçao dos padroes de qualidade do ar.

O ozônio nao é emitido diretamente no ar, mas formado pela reaçao de poluentes primários. Compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio emitidos na queima incompleta de combustíveis ou pelo manuseio incorreto no abastecimento em postos de gasolina sao os formadores do gás. Quando concentrado a cerca de 20 quilômetros da superfície, tem açao protetora ao filtrar os raios ultravioleta. No nível do solo, forma uma névoa seca e é um dos maiores agressores do sistema respiratório e imunológico.

Vento - O ozônio nao fica restrito à área em que foi formado, podendo ser transportado pelo vento a vários quilômetros de onde seus componentes formadores foram emitidos.

Por isso, nem mesmo em parques ou áreas verdes as pessoas estao livres do problema. De acordo com o relatório, no Parque do Ibirapuera ocorreram os piores episódios. A qualidade do ar esteve má ou inadequada nos 50 dias em que foram registradas no parque ultrapassagens do padrao.

Representante do Greenpeace no Brasil, o físico Délcio Rodrigues acusa o governo de omissao. "Falta vontade política para resolver o problema." Segundo Rodrigues, programas como o da inspeçao veicular e até mesmo o retorno do rodízio poderiam ajudar. "O programa de inspeçao está há mais de dez anos na gaveta."

Com o programa de inspeçao, os veículos teriam de passar por teste que mede o nível de emissao de poluentes na época do licenciamento. Se o nível estiver acima dos padroes, o dono do veículo terá de providenciar os reparos para adequar o carro às normas ambientais.

O secretário estadual do Meio Ambiente, Ricardo Tripoli, garante estar dialogando com a sociedade para que o problema seja resolvido. "Temos conversado com ONGs e entidades ambientais para buscar soluçoes." Ele descarta a volta do rodízio. "Os custos nao justificaram os resultados."

Regulagem - Para o secretário, a inspeçao veicular e o uso de um protetor que impeça o desperdício de combustíveis durante o abastecimento sao opçoes mais adequadas. "É preciso que as pessoas colaborem, regulando seus carros e abastecendo no início ou no fim do dia para evitar evaporaçao excessiva do combustível", disse. "Temos tido algumas dificuldade para regulamentar a inspeçao, mas ainda este ano teremos uma soluçao para o caso."

Segundo o gerente de Qualidade Ambiental da Cetesb, Cláudio Alonso, há uma diminuiçao progressiva na emissao de vários poluentes. Embora ainda mereça atençao, a reduçao nos índices do monóxido de carbono é considerada um avanço. Mas a emissao de dióxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos ainda é alta. "O ozônio é uma preocupaçao em todo o mundo e nosso grupo está empenhado para melhor entendê-lo."

O aumento de internaçoes hospitalares e atendimentos de emergência por crises asmáticas e problemas respiratórios está relacionado ao crescimento dos índices de ozônio. Sua açao danifica as células do sistema respirátório, provocando irritaçao e dificultando a respiraçao. Quando inalado, mesmo em baixas quantidades, causa problemas respiratórios agudos, agrava a asma e provoca inflamaçao dos tecidos pulmonares, além de danificar o sistema imunológico.

Gastos - Só em Sao Paulo sao gastos anualmente cerca de US$ 2 milhoes com mortes causadas por doenças relacionadas à poluiçao e US$ 1,1 milhao com internaçoes e tratamentos. O poluente pode provocar uma reduçao temporária de 15% a 20% na capacidade respiratória em adultos saudáveis. De acordo com pesquisas da Agência Norte-Americana de Proteçao Ambiental, os picos do poluente sao acompanhados por uma aumento de até 20% nos atendimentos hospitalares.

No último relatório da World Resources Institute (WRI) sobre as condiçoes de saúde das crianças no mundo, Sao Paulo fica ao lado da Cidade do México e de Pequim, na China, como as que apresentam as condiçoes ambientais mais hostis para o desenvolvimento sadio na infância. Um estudo da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Harvard concluiu que a poluiçao reduz a expectativa de vida em até dois anos e meio.




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