Diarinho Titulo
Sem sair da linha
Por Marcela Munhoz
20/09/2009 | 07:44
Compartilhar notícia


Confira galeria de fotos

Eu sou uma pessoa como você/ Mas tenho coisas melhores para fazer/ Do que ficar sentado e fumar maconha/ Porque sei que posso lidar com a vida

O trecho da música Minor Threat, da banda punk norte-americana de mesmo nome, resume bem o straight edge (ou sXe). Nunca ouviu falar? Pois uma galera não só sabe o que é, como vive a filosofia do movimento.

Necessariamente os straight edges curtem punk e/ou hardcore (talvez por isso a maioria tenha piercings e tatuagens) e seguem o princípio máximo desses estilos musicais: a autonomia.

Acreditam que as substâncias químicas e códigos de conduta impostos pela sociedade - como o hábito de comer carne - os influenciam nas decisões do dia a dia e mascaram a realidade. Também são totalmente contra qualquer tipo de violência.

"Eu quis ter uma vida saudável, sem vícios. Sou uma pessoa livre e tenho direito de fazer minhas escolhas", acredita Carolina Soares, 17, de Santo André, que há três anos decidiu seguir o movimento.

A garota conta que os pais estranharam muito sua escolha, mas nem isso nem as piadinhas alheias interferem na sua convicção. "Tem gente que me chama de careta, mas do mesmo jeito que respeito as pessoas que bebem e fumam, quero que me respeitem também."

Além de não fumar, beber ou usar qualquer tipo de droga, alguns escolhem ser vegetarianos. Mas isso não é regra, cada pessoa adapta a ideia às suas próprias experiências e condições de vida. E mais: straight edge nada tem a ver com religião.

CURTEM MAIS A BALADA - Para Lucas Lopes, 17 anos, de São Paulo, não foi nada fácil se adaptar à vida sem álcool e nicotina. "Acabei percebendo que quando ficava bêbado não aproveitava nada da balada. Hoje me divirto muito mais. Além disso, só de pensar que não vou ficar mais de ressaca no dia seguinte já é um alívio."

O pai de Lucas sempre bebeu e isso fez com que o garoto se interessasse pelo straigh edge. "Pesquisei bastante e descobri que a única certeza que tenho na vida é que quero um futuro diferente do dele."

Seguidor do movimento há dez anos, Denis Veronese, 28, acredita que sua vida mudou muito. "A droga é um prazer momentâneo e proporciona amizades superficiais", explica Denis, que sentiu muito preconceito quando decidiu ser um straight edge."Os mesmos amigos que saíam comigo para as baladas passaram a olhar torto."

Adeptos são mais velhos

Não é à toa que a maioria dos straight edges tem mais de 20 anos. É que, segundo Franco Monteiro, 35, no movimento há 15, é uma decisão importante e difícil. "É complicado um adolescente ter a certeza de que quer seguir a filosofia para o resto da vida. Ainda está em busca de um caminho e nem passou por uma faculdade."

Para Rafael Betti, 22, de Minas Gerais, alguns se tornam straight edges só para seguir uma modinha. "Isso não dura muito e logo cai (termo usado para quem desiste do movimento). Não dá para mudar tanto e tão profundamente da noite para o dia."

Raquel Bittencourt, 15 anos, de Santo André, sabe de tudo isso, mas está certa de que o straight edge é o melhor para sua vida. "Sei que é preciso ter maturidade suficiente, mas tudo é um processo e eu estou indo com calma", afirma.

A garota conheceu o movimento há quatro meses. "Uma amiga que curtia punk e hardcore, me levou a um show e, desde então, sigo os princípios do straight edge." Raquel conta que no início a mãe até aprovava a ideia de ela não beber e fumar, mas não admitia que se tornasse vegetariana. "Ela achava que era preciso comer carne para ser saudável. Agora, está fazendo pratos com soja para mim."

Galera se encontra nas verduradas

A primeira impressão é de que a verdurada é uma balada como as outras. O som alto das bandas de hardcore e punk inspira a galera tatuada e cheia de piercings a praticar o mosh (tipo de dança em que se dá socos e chutes no ar). Depois de dez minutos no local, já é possível notar alguma coisa diferente. Ninguém está com um cigarro ou bebida alcoólica na mão. O ar realmente é mais limpo.

As verduradas - festivais independentes de música hardcore e punk - acontecem de tempos em tempos e reúnem os straight edges e simpatizantes. Eles assistem às apresentações das bandas, dançam e comem muita comida vegetariana. Isso mesmo! Geralmente, no fim, são servidos pratos com alimentos feitos de soja, (como coxinha e hambúrguer) e suco.

E mais: antes dos shows, a galera ainda assiste a documentários sobre política e sobre os maus-tratos aos animais e à natureza. Para Pedro Ogata, 19, de São Bernardo, que não é praticante do straight edge, a verdurada é uma das melhores baladas. "São menos violentas."

As repórteres Marcela Munhoz e Bruna Gonçalves acompanharam a Verdurada do ABC no começo de agosto. Quer saber quando vai ter outra? Acesse www.verdurada.org.

Como tudo começou

O straight edge começou por volta de 1980 em Washington, Estados Unidos. Na época, os integrantes da banda punk Teen Idles - formada por menores de idade - ficaram revoltados porque eram proibidos de entrar nos shows por causa da venda de bebidas alcoólicas.

Ali pertinho, em São Francisco, outra galera do punk também tinha os mesmos princípios. Uma casa de shows aceitava a entrada de menores, desde que marcassem um ‘X' na mão para que não fossem servidas bebidas alcoólicas. Com isso, muita gente que nem queria beber (ou era maior de idade), também marcava um ‘X' para expôr sua postura em relação às bebidas. Resultado? O ‘X' virou o símbolo universal dos straight edges.

No Brasil

O straight edge teve como precursora a banda Minor Threat. No Brasil, o primeiro registro de algo relacionado ao sXe é a foto na contracapa da coletânea punk Grito Suburbano (1982) em que o vocalista aparece com um ‘X' na mão. Em 1989, surgiu Energy Induct, Positive Minds, Personal Choice e em 1996 foi formada a mais conhecida banda de straight edge do País: a Point of No Return. Em 1998, surgiu a Infect, só de meninas. Hoje, destaca-se a Confronto, do Rio de Janeiro.

As bandas têm em comum letras positivas e de protesto. Segundo o baterista Felipe Ribeiro, da Confronto, que lança DVD em novembro, o straight edge é uma escolha pessoal. "Nós passamos a mensagem e levantamos o questionamento."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;