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Doença de Lula impulsiona
outras candidaturas petistas

Especialistas afirmam que problema reforça figura de
'mito' daquele que é o principal cabo eleitoral do partido

Cynthia Tavares
Especial para o Diário
07/11/2011 | 07:22
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Candidaturas petistas nas eleições do ano que vem podem ter um ingrediente a mais a seu favor. Especialistas consultados pelo Diário afirmam que a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estará nos palanques das principais cidades do País, reforçará a imagem de mito daquele que é o principal cabo eleitoral do partido.

A notícia que Lula estava com tumor na laringe pegou a Nação de surpresa. O tumor na laringe foi diagnosticado a oito meses do início das campanhas, mas o impacto do fato permanecerá por muito tempo.

O especialista em Marketing Político e professor da Universidade Metodista, Kleber Carrilho, afirmou que a doença torna Lula uma pessoa ainda mais com estigma de mito. "O sofrimento traz ao mito um componente ainda mais mítico", analisou.

O cientista político Rui Tavares Maluf disse que problemas de ordem pessoal como doença ou perda de familiares influenciam na imagem da pessoa pública. "O capital político se acentua, mas no caso do Lula teremos um pouco de dificuldade para diagnosticar esse movimento, pois ele já influenciaria na eleição devido a alta popularidade."

A imprensa internacional possui a mesma avaliação. A revista The Economist publicou artigo na sexta-feira, no qual garante que o combate à doença "dará mais peso a suas escolhas para candidatos e a seus pedidos por unidade na coalizão."

No dia 29 de outubro, o ex-presidente foi diagnosticado com tumor na laringe. O tratamento teve início na segunda-feira com uma sessão de quimioterapia no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. A intenção é que o tratamento dure cerca de quatro meses. A próxima sessão de quimioterapia deve ocorrer em duas semanas.

O ex-presidente interrompeu cronograma de atividades, mas não abre mão de participar ativamente das eleições do ano que vem. São Paulo e Santo André estão entre as cidades que Lula tem como questão de honra reconquistar o comando das Prefeituras. O ministro da Educação, Fernando Haddad, terá tarefa em São Paulo. Já o deputado estadual Carlos Grana (PT) conseguiu unir o diretório de Santo André em torno da sua candidatura.

Carrilho ressaltou que ao colarem suas imagens à de Lula, os atores conseguem agregar mais simpatia na campanha. "Mas a transferência de voto não é automática, pois se não haveria alternância de poder."

Tavares ponderou que somente a simpatia não é suficiente para fazer um candidato decolar. "O candidato tem que falar por si mesmo. O eleitorado começa a analisar os diferentes quadros", salientou.

PROVA
Carrilho destacou que a doença de Lula causou mudanças no PT. A senadora Marta Suplicy (PT- SP) desistiu de concorrer à refeitura de São Paulo. Lula havia feito pedido pessoalmente para que a parlamentar deixasse o caminho livre para Haddad. Na quinta-feira, antes de anunciar para a imprensa sua decisão, ela ligou para o ex-presidente. "Ela mesmo afirmou que não poderia criar empecilhos num momento como esse", lembrou o especialista.

 

Petistas rechaçam explorar a situação

"De jeito nenhum". Essa foi a resposta do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), quando foi perguntado se o PT pretende transformar a luta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra um câncer na laringe em estratégia de campanha no ano que vem.

O professor da Universidade Metodista Kleber Carrilho alertou que a exploração da imagem de Lula precisa ser feita com cuidado. "É preciso ter ética, pois utilizar de forma direta é ruim", disse ele ressaltando que o eleitor "não é idiota".

O coordenador da Macro PT ABC, Humberto Tobé, declarou que não há necessidade em explorar a imagem do Lula doente. "Na campanha da Dilma (Rousseff) não usamos a doença dela. Portanto, nas campanhas do ano que vem não tem porque fazer isso", disse. Em 2009, a presidente foi diagnosticada com linfoma, câncer no sistema linfático, responsável pela defesa do corpo.

O coordenador do PT na região disse ainda que contava com a influência positiva do ex-presidente, independente do problema de saúde diagnosticado. "Nossa expectativa era contar com ele sem essa questão (do câncer). Sempre fiz campanha para ele e sei que essa vitimização é pura tese, pois sabemos do carisma e da liderança natural que ele possui", analisou.

O deputado estadual Carlos Grana (PT), pré-candidato ao Executivo de Santo André, é o principal nome com aval de Lula para reconquistar a Prefeitura. Especula-se que ex-presidente irá ser figura constante nos comícios do amigo. "A vida para ele nunca foi fácil, ele sempre foi um lutador. Vamos explorar o legado dele e o que ele deixou como história", ressaltou. Entretanto, o parlamentar não escondeu o desejo de ter participação efetiva do cacique petista. "Em pelo menos um comício quero ter ele ao meu lado", confessou.

ANIMAÇÃO
Independente da discussão em torno da exploração da sua imagem, Lula está animado para participar da eleição. Antes de ficar doente, ele se dedicava pessoalmente para evitar as prévias no diretório do PT paulistano. O conjunto de prefeitos petista estava ajudando o cardeal. "Ele me falou para cuidar de São Bernardo e o tempo que sobrar para cuidar dos companheiros", contou Marinho, durante visita ao ex-presidente na última sexta-feira.




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