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Empresários argentinos
aliviados por liberações
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/05/2011 | 07:30
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"O conflito está começando a ser destravado". Com essas palavras, que expressavam alívio, Aníbal Borderes, presidente da Adefa (Associação de Fabricantes de Automóveis da Argentina), afirmou que o Brasil continuava ontem com a liberação, que havia iniciado no fim da tarde de quinta-feira, de automóveis produzidos pelas montadoras argentinas destinados ao mercado brasileiro.

Entre o fim da quinta-feira e a tarde de ontem, cerca de 1.000 automóveis made in Argentina já haviam atravessado a fronteira com o Brasil. Só a Toyota tem 50 carretas paradas na fronteira, com 350 veículos modelos Hilux e SW4. Borderes destacou que as exportações de veículos para o Brasil, por parte das montadoras instaladas na Argentina, são cruciais, já que "80% de nossas exportações automotivas vão para o Brasil".

Como "gesto de boa vontade", o governo brasileiro autorizou a entrada de alguns carros argentinos e o país vizinho permitiu o ingresso de baterias, pneus e calçados brasileiros. O objetivo é permitir um clima mais positivo para a reunião entre o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o brasileiro Alessandro Teixeira, e Eduardo Bianchi, secretário de Indústria argentino, que acontece segunda e terça-feira, em Buenos Aires.

Desde 2008, a Argentina aplica uma série de barreiras protecionistas contra o Brasil, entre as quais licenças não automáticas, valores-critério, antidumping e os denominados acordos "voluntários" de restrição de exportações. De quebra, existem ordens verbais para atrasar a liberação de produtos. No total, segundo a consultoria Abeceb, atualmente 23,9% das exportações brasileiras para a Argentina sofrem algum tipo de barreira. Em 2010, o total afetado era de 13,5%.

Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores mostram a força do comércio entre os dois países. Em 2010, dos veículos exportados pelo Brasil, 63% foram para aquele mercado.

O presidente da Ford Brasil, Marcos de Oliveira ressaltou, por sua vez, a importância do Mercosul, em que há isenção de imposto de importação. A empresa comercializa de 50 mil a 60 mil veículos por ano nos dois sentidos (do Brasil para lá e vice-versa). (com AE)

Medida deve servir para monitoramento

A adoção de licenças não automáticas para a importação de produtos - em que a liberação dos itens fica sujeita a análise, que pode demorar até 60 dias - não deve significar obstáculo ao livre comércio, mas sim forma de monitorar melhorar o que entra no País. Essa é a avaliação da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

Para o vice-presidente executivo da associação, Fábio Martins Faria, os números da balança comercial mostram que o crescimento da importação de carros foi muito forte. No caso das compras de automóveis chineses no mercado nacional, houve aumento de 1.326% em 2010, na comparação com o ano anterior.

No entanto, ele avalia que o que pode funcionar de fato para impedir a invasão dos importados são ações mais agressivas de política industrial para estimular a produção local.

Faria cita que o câmbio valorizado, a carga alta de tributos e a infraestrutura precária não ajudam, e que é preciso desonerar as fabricantes e melhorar portos e rodovias.

Além do monitoramento, a medida, embora o governo não admita, tem também o objetivo de retaliar a Argentina.

O diretor titular da regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo de Santo André, Shotoku Yamamoto, tem avaliação semelhante. Para ele, é uma reação às barreiras impostas pela Argentina.

O dirigente do Ciesp considera que, para enfrentar de fato a competição com os produtores estrangeiros, sobretudo asiáticos, é necessário atuar para desvalorizar a moeda. "O real está supervalorizado e está causando desindustrialização", afirma.




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