Presume-se que o YouTube seja uma plataforma construída para a criatividade amadora. Conteúdos em vídeos com ampla variedade de assuntos são disponibilizados diariamente na internet. No entanto, ser youtuber hoje em dia se tornou um empreendimento rentável. Milhares de jovens sonham em construir uma carreira sólida e ganhar a vida sendo influenciadores digitais. O fato é que a diversão acabou se tornando uma profissão. 

O professor Alan Angeluci, especialista em novas mídias, explica que os primeiros youtubers de sucesso nem imaginavam que um dia iriam trabalhar e ganhar dinheiro postando vídeos de dentro de seus quartos, usando câmeras caseiras. “A maior penetração global da internet, a disseminação das mídias sociais e dos smartphones permitiram que públicos muito específicos se encontrassem e compartilhassem experiências e pensamentos comuns ou antagônicos a partir desses vídeos postados”, afirma.

Murilo Cervi, 37 anos, de São Caetano, mais conhecido como Muca Muriçoca, conta que gosta muito de jogos online e sempre teve facilidade para se comunicar em público. Em 2012, teve a ideia de criar canal voltado a entrevistas com jovens competidores de jogos eletrônicos em lan houses, campeonatos, eventos de games e animes. “Meu canal foi crescendo, pois os jovens do mundo nerd se divertiam com minhas entrevistas voltadas para o humor”, comenta.

Atualmente, Muca Muriçoca possui mais de 3 milhões de inscritos no canal dele. Em fevereiro deste ano, estreou como ator nas telas do cinema com a comédia Internet: O Filme, ao lado de outros influenciadores digitais consagrados, como, por exemplo, Felipe Castanhari e Júlio Cocielo. Ele realiza, quase todo fim de semana, eventos por todo País e está com a agenda cheia de shows até agosto. 

Mas nem tudo foram flores na carreira dele. No início, a trajetória não foi fácil. A maior dificuldade, segundo ele, foi divulgar o canal, pois não conhecia ninguém do mundo digital. “Se você quiser se destacar no YouTube, tem de levar isso como uma profissão, tem de ter uma rotina, responsabilidade e criar conteúdos criativos. Quem sonha em ser youtuber precisa tentar ser o melhor no seu nicho.”

Cíntia Disse, 27, de São Bernardo, possui um canal onde ensina inglês e divulga dicas de viagens. A ideia de criar um canal surgiu em 2010, quando ela ainda morava no Canadá. “Queria mostrar a experiência que era viver em outro país, tudo que aprendia no exterior compartilhava com meus seguidores”, explica.

O negócio evoluiu tanto que Cíntia, ao voltar para o Brasil, abandonou a carreira de professora de inglês particular para se dedicar exclusivamente à carreira de youtuber. “Tive de parar de dar aulas, pois não conseguia criar vídeos e editar o que era produzido tendo um outro trabalho”, explica.

Hoje, chegando a quase 300 mil inscritos em seu canal, ela comenta orgulhosa que o mais gratificante da profissão é receber o carinho dos seguidores. Outro motivo de alegria para ela é ser reconhecida nas ruas, por pessoas que assistem ao canal.

E para quem pretende começar um canal, a dica dos youtubers é encontrar um assunto com o qual a pessoa se identifique, pois é necessário considerar que terá de produzir conteúdos sobre o mesmo tema diariamente, e gostar do que faz, pois os conteúdos têm de ser criativos. Eles lembram também ser necessário saber “lidar bem com as críticas” e entender que o canal corre o risco de não ter continuidade. 

“A partir do momento em que você sai do anonimato é natural as pessoas darem opiniões contrárias às suas, tem de ter a humildade de ir crescendo aos poucos, de lutar e batalhar pelo crescimento”, explica Muca Muriçoca.

Profissão fascina adolescentes

Ser um influenciador digital é uma tendência e, além de tudo, uma forma de as pessoas expressarem as ideias. A questão de ser um youtuber está muito difundida, principalmente, entre os adolescentes. 

“Os millennials, como são conhecidos os jovens de hoje, nasceram em um mundo digital. É natural que os adolescentes se identifiquem com os influenciadores e que desejem fazer parte desse universo”, explica o professor Alan Angeluci.

Kethilyn Nogueira, 14, conta ter o hábito de assistir aos vídeos no YouTube desde os 9 anos. Há dez meses ela criou um canal chamado DDT (Diferente de Tudo), onde posta paródias, desafios, fala sobre o dia a dia dela e de situações que acontecem na escola. 

“O objetivo do meu canal é fazer as outras pessoas rirem. Tenho muita vontade de crescer como youtuber”, relata Kethilyn.

O psicólogo Aurélio Melo explica que os youtubers chamam a atenção dos adolescentes porque é uma fase onde eles estão construindo a identidade. “Essas personalidades servem de espelho para os jovens, eles se encontram nos influenciadores. Inclusive, os youtubers são figuras mais possíveis e mais próximas de se identificar”, analisa.