Viagens ao Exterior, restaurantes badalados, shows e até test drive com BMW no meio de um plantão de vendas. As ações sofisticadas têm sido ponto de partida para incorporadoras e construtoras atraírem clientes da classe A.

Nos últimos dez anos, as medidas para chamar possíveis compradores têm se tornado cada vez mais inusitadas, e o Grande ABC não ficou de fora. Hoje, a região é alvo forte das empreiteiras. Isso porque aproveitam a renda maior da população. "Antes não havia concorrência, mas hoje essas ações simpáticas são essenciais", diz o empresário Aparecido Viana, dono da Viana Negócios Imobiliários.

Ele ressalta que a ideia dos eventos luxuosos é criar interesse desses clientes antes de o empreendimento ser lançado. "Essa mudança brutal tem por objetivo vender o máximo de unidades possíveis num curto espaço de tempo. E é o que tem sido feito em todo o Grande ABC", diz. As ações miram público disposto a pagar, em média, R$ 1,6 milhão em uma unidade.

Foi o que aconteceu no lançamento do empreendimento Premier, localizado no Espaço Cerâmica, em São Caetano, com preços de R$ 1,7 milhão a unidade, Viana conta que a construtora Gafisa promoveu atrações com o personagem Fred Mercury Prateado. Também reuniu clientes em restaurantes famosos para impulsionar as vendas.

Houve ainda test drive com luxuosas BMWs no terreno onde será erguida a obra. A ideia foi unir dois produtos consumidos pela classe A num mesmo evento, aumentando as chances de vendas. Passeios de helicóptero são outros gatilhos acionados pelas construtoras, conforme Viana. Mas muitas incorporadoras vão além. Na Capital, uma empresa chegou a exibir cavalos num plantão de vendas.

SEM FRONTEIRAS - Mimos que transcendem países. É dessa forma que a M. Bugucci decidiu promover o empreendimento Maximus, no centro de São Bernardo. O consumidor faz contrato por unidades de 130 m², no valor médio de R$ 550 mil, até o fim deste mês e, como prêmio, passa uma semana em Paris, na França, com despesas de hotel e passagens pagas, além de acompanhante.

Os valores investidos nas viagens são irrisórios. Saído do caixa de marketing, o investimento é de R$ 9.000 por cada um dos 68 apartamentos, somando R$ 612 mil. "Para compensar é só não gastar com folhetos no fim de semana, divulgação de banners etc", destaca o diretor de vendas da incorporadora, Robson Toneto.

Ele cita ainda outro exemplo para conquistar o freguês com mais dinheiro. Para apresentar edifício andreense, feito em parceria com outra incorporadora, houve jantar luxuoso na churrascaria Babybeef com a cantora de MPB Paula Lima, em novembro. "Tivemos bastante retorno", afirma.

No entanto, muitas empresas têm cautela ao pisar na região. O diretor técnico da Engeprime, Marcus Vinicius Fernandes, diz que irá descartar os mimos de luxo, pelo menos por enquanto. O argumento é que quem desembolsa R$ 4,5 milhões por uma cobertura duplex, característica do empreendimento de luxo Lê Griffe, em São Caetano, pode fazer quantas viagens quiser, além de visitar restaurantes caros com frequência.

Fernandes diz que pesquisou o público são-caetanense e descobriu que o morador da cidade, apesar do alto poder aquisitivo, não se arrisca com marcas pouco conhecidas e características diferentes.

Com apartamentos de 264 m², o consumidor terá opção de mudar paredes na planta, adicionar materiais diferentes do projeto original, embutir móveis. Tudo a um custo de 10% sobre o valor das unidades. O mais barato sai por R$ 1,2 milhão hoje, para os primeiros andares. "Esse é um projeto piloto. Se der certo, vamos considerar campanhas mais agressivas, com todos os mimos e regalias."