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Livro de Sebastiao Nunes 'desmascara' herói nacional
Nelson Albuquerque
Da Redaçao
24/06/2000 | 15:29
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Nenhum livro escolar de História traria um Rui Barbosa cabeçudo, um Castelo Branco de escasso pescoço, ou um Dom Pedro que açoitava criminosos com as próprias maos. A tarefa inglória, mas, por vezes, cômica, coube ao escritor e artista gráfico Sebastiao Nunes no livro História do Brasil (Altana, 224 págs., R$ 28), que revela ao que veio no subtítulo: Novos Estudos Sobre Guerrilha Cultural e Estética de Provocaçam.

Com tal exposiçao ao ridículo e uma sucessao de informaçoes curiosas reveladas, o autor pretende promover o que chama de "desmascaramento de falsos heróis". Passagens que nao foram contadas nesses 500 anos teriam formado, na sua opiniao, personagens nao merecedores do posto histórico.

Em dois capítulos, sao apresentadas novas facetas de 12 presidentes do Brasil. "Deodoro da Fonseca, marechal (1827-1892) ... bigodes fazendo voltinhas à Salvador Dali, barba densa e escandalosamente eriçada. Devia passar anos sem beijar a mulher. Orelhas de abano." Depois de toda a descriçao de cada presidente, o autor fecha sempre com a frase: "Lá fora, o povo aplaudia, nao sei por quê".

Importantes acontecimentos também aparecem em nova versao. Há capítulos dedicados a Independência, Revoluçao de 1930, Descobrimento, Canudos, Constituiçao Federal, Proclamaçao da República, Lei Aurea e outros. Sobre a Segunda Guerra Mundial, o livro conta o suicídio de um pracinha brasileiro, que teria enfiado o fuzil na boca e disparado. "Foi reconhecido pelos documentos de combate e por uma carta de despedida à mulher. Tinha 21 anos e chamava-se Nicodemus Nunes."

O escritor mistura seus textos a ilustraçoes que fez com colagens de gravuras, pinturas e desenhos antigos. Os efeitos ele garante ter conseguido através de "baixa tecnologia" e falta de melhores recursos. "Todas foram transformadas segundo as velhas técnicas de reproduçao a traço, da colagem e do alto contraste". O resultado - entre ousado e poético - sao figuras distorcidas, com partes do corpo duplicadas, sempre de acordo com o irônico clima do livro.

O autor nao se presta apenas a detonar ilustres personagens. A obra serve também para dar voz aos oprimidos. Por exemplo, no capítulo Academia dos Esquecidos, Nunes lembra pessoas e obras nao valorizadas na história do país. "Magalhaes de Azeredo, poeta, acadêmico e prosador brasileiro./Um dos mais brilhantes talentos literários de sua geraçao (...)". "Comédia dos Deuses, poema em versos livres, por Teófilo Dias (1887)/ É um livro que honra a literatura brasileira".

Os 93 capítulos contêm notas de diversos autores de vários países. Muitas vezes nem falam do Brasil, mas servem para contextualizar o ridículo das pessoas que estao no alvo de Sebastiao Nunes.




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