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Klinger diz que leva uma vida normal
Vinícius Casagrande
Do Diário do Grande ABC
03/08/2002 | 20:14
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Após iniciar suas atividades parlamentares, o vereador e ex-secretário de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira Sousa (PT) quebrou definitivamente o silêncio e comentou a decisão do juiz da 1ª Vara Criminal de Santo André, Iasin Issa Ahmed, de aceitar a denúncia apresentada pelo Ministério Público e as investigações feitas, até o momento, tanto pelo MP quanto pela CPI. Klinger falou também a respeito de suas pretensões políticas.

Segundo ele, após um mês da divulgação das denúncias tem levado uma vida normal e não tem sentido hostilidade por parte da população. O petista reafirmou sua inocência e disse ainda que as diligências solicitadas pelo juiz Iasin podem colaborar com sua defesa na Justiça.

DIÁRIO – Como o sr. avalia a decisão do juiz de aceitar a denúncia do MP?
KLINGER LUIZ DE OLIVEIRA SOUSA – Eu não faço nenhuma avaliação técnica dessa decisão do juiz porque não tenho conhecimento técnico para isso. Mas do ponto de vista pessoal, eu estou tranqüilo na medida em que nenhuma das diligências solicitadas causam preocupação. Tem a questão das contas bancárias, tem a verificação sobre imóveis, cartão de crédito e outros tipos de diligências. Acho que todas essas provas vão se somar à minha defesa no sentido de corroborar as minhas alegações de defesas e me sinto tranqüilo para apresentar no transcorrer do processo, no transcorrer da ação penal, a comprovação de que tudo aquilo que está escrito na minha defesa prévia é o que corresponde à verdade.

DIÁRIO – O sr. já avaliou com seus advogados qual será a linha de defesa?
KLINGER – Vamos demonstrar no transcorrer que não tomei nenhuma decisão no exercício do cargo de secretário municipal que não fosse respaldada no interesse público e na boa prática de gestão publica. Não participei e não tive conhecimento da existência de nenhum conluio com o propósito de achacar ou de ter propina de qualquer tipo de empresário, seja para enriquecimento, seja para a questão eleitoral.

DIÁRIO – O sr. tem colocado por diversas vezes sua inocência e que acha estranho esse tipo de acusação. Então, por que o sr. acha que seu nome foi envolvido neste caso?
KLINGER – Porque politicamente eu vinha sendo apresentado pela própria mídia como eventual sucessor político do Celso Daniel e herdeiro político dele, e havia desde a campanha eleitoral de 2000 um interesse de me criar constrangimento no sentido da minha ação administrativa.

DIÁRIO – O sr. disse que não pretende se licenciar porque precisa do subsídio de vereador. Essa é a única fonte de renda do sr.?
KLINGER – Tenho também um apartamento alugado em São Bernardo, sou professor universitário e tenho um salário. Também compõe a renda da minha família a minha mulher, que é médica e tem dois empregos. Mas eu não quero reduzir o meu padrão de vida e preciso também de dinheiro para pagar advogado. Esse é outro ônus que esse processo traz.

DIÁRIO – Para se defender, o sr. contratou o escritório do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. O sr. pode revelar quanto o sr. irá pagar?
KLINGER – Não posso revelar. Não que haja nenhum constrangimento, mas é porque eu não combinei isso com eles e é antiético revelar o custo profissional na medida em que não é uma relação de uma parte só. Tenho um contrato com eles e vou pagar dentro das minhas possibilidades.

DIÁRIO – Mas, de qualquer forma, há muitas especulações de que não deve ser um valor baixo. Como o sr. vai pagar os advogados?
KLINGER – As pessoas acham que é uma coisa proibitiva. As pessoas não sabem que os advogados ganham de outra forma também. Eles ganham sucumbência quando acreditam em uma causa que a vitória é certa. Existem outros ganhos quando eles têm projeção. O fato é que o valor que nós combinamos é um valor compatível com a minha renda e eles me facilitaram. Mas, infelizmente, vou ter de vender um imóvel meu para não só pagar advogado, mas porque tenho outros compromissos que eu pretendo sanar.

DIÁRIO – O sr. tem pretensões de voltar a trabalhar no comando da Secretaria de Serviços Municipais?
KLINGER – Não tenho pretensão de voltar para o governo, a não ser que eu seja convidado pelo prefeito João Avamileno. Hoje, a minha perspectiva é de ser vereador. Essa questão de governo não é uma questão que cabe a mim. Se o prefeito me convidar, vai caber a mim decidir se vou ou não.

DIÁRIO – Após mais de um mês das denúncias, como tem sido o seu dia a dia?
KLINGER – Tem sido normal. Mas agora, depois que saí da Prefeitura, fiquei trabalhando na ONG Iava, da qual participo e tem sede em Santo André. Junto com isso tem um curso novo que vou começar a preparar. Tenho levado uma vida absolutamente normal. Vou à academia três vezes por semana, ao Parque Prefeito Celso Daniel duas vezes por semana e ao curso de inglês. O que acrescentou é que tenho de ir a São Paulo para fazer reuniões com meus advogados.

DIÁRIO – O sr. tem enfrentado muita hostilidade quando é reconhecido nas ruas da cidade? É possível continuar freqüentando os mesmos lugares sem constrangimentos?
KLINGER – Não tenho percebido hostilidade. Isso não chega diretamente a mim. As pessoas que me conhecem vêm trazer solidariedade. Às vezes, a minha família ouve cometários de pessoas que falam a esmo, sem saber que são da minha família. É algo indireto.

DIÁRIO – Na última semana, o sr. estreou na vida parlamentar ao mesmo tempo em que há uma CPI para investigar as denúncias contra o sr. Sua participação pode inibir a atuação dos vereadores que integram a CPI?
KLINGER – Acredito que não. Não faço parte da CPI, não vou às reuniões e não procuro informações com os vereadores. O fato de eu estar na Câmara não terá influência nem a favor nem contra.

DIÁRIO – Que análise o sr. faz dos depoimentos prestados até o momento e dos trabalhos desenvolvidos pela CPI?
KLINGER – Os únicos depoimentos que ouvi e que acompanhei foram do Sérgio (Gomes da Silva), do Ronan (Maria Pinto), uma parte do Duílio (Pisaneschi) e uma parte do (João Antonio Setti) Braga. Dos outros só tive notícias do que saiu no jornal e desconheço os depoimentos. Tenho avaliado que a CPI tem cumprido absolutamente o papel de trazer para o debate outros depoimentos que não foram colhidos no âmbito do Ministério Público e traz à luz esses depoimentos dos empresários e de todos os acusados. Assim, pode fazer comparações. Acho que a CPI tem essa facilidade e é algo que a Justiça vai ter de fazer também.

DIÁRIO – O sr. avalia que neste sentido a CPI tem sido mais eficiente que o Ministério Público?
KLINGER – Acho que o trabalho tem sido mais completo. Não diria mais eficiente, porque senão diria que o trabalho do Ministério Público foi ineficiente, mas acho que é incompleto, já que só ouviu os denunciantes. O Ministério Público se moveu no sentido de montar uma acusação. Então, a CPI, como ouviu todos os lados, fez um trabalho mais completo. Não sei se é mais ou menos eficiente.




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