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Superpopulaçao matou peixes, diz Garotinho
Do Diário do Grande ABC
10/03/2000 | 18:07
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O governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), disse nesta sexta-feira que a principal causa da morte de 132 toneladas de peixes e crustáceos durante o carnaval na Lagoa Rodrigo de Freitas foi o excesso de peixes, nao o lançamento clandestino de esgoto. A declaraçao foi feita após reuniao com representantes da colônia de pescadores da lagoa, que ratificam a análise. "O problema ocorreu porque houve um acréscimo muito grande de peixes , causando descontrole e falta de oxigênio para essa superpopulaçao", disse Garotinho.

De acordo com os pescadores, o volume da pesca aumentou 100% de janeiro para fevereiro. De sete toneladas para14,5 toneladas de peixes da lagoa comercializados em fevereiro. "Nossa média histórica - , que é de seis toneladas /mês, aumentou muito esse ano e nao temos estrutura para esse volume", afirma o pescador Ricardo Mantovani, de 40 anos, que pesca desde os 12 na lagoa.

O biólogo Mário Moscatelli, que pediu demissao da Secretaria de Estado do Meio Ambiente após o desastre por discordar da política ambiental do governo, disse nao acreditar na explicaçao. "Nao acredito que o excesso seja a principal causa, houve um acúmulo de fatores, como o lançamento de esgoto, que ocorre porque nao há vontade política desse bando de burocratas para resolver o problema", disse ele, que trabalha há 11 anos na recuperaçao dos manguezais da Rodrigo de Freitas. Para o pescador Mantovani, o derrame de esgoto na lagoa "sempre existiu, mas aumentou este ano".

Esgoto - Segundo Garotinho, a Companhia Estadual de Aguas e Esgotos (Cedae) "nao lança nem um litro" de esgoto na lagoa. "Os dejetos, que nao foram a principal causa da morte de peixes, chegam por ligaçoes clandestinas nas galerias de águas pluviais, que sao da prefeitura", disse. O município alega desconhecer o lançamento de esgoto, mas nao há um controle efetivo das galerias.

"Há uma campanha para desmoralizar a Cedae e vendê-la a qualquer custo", disse Garotinho, que prepara um programa de reestruturaçao da empresa. Nesta sexta-feira ele anunciou um convênio para o acompanhamento das condiçoes ambientais da lagoa, como o nível de oxigênio na água, que será assinado na próxima semana entre os pescadores e técnicos da Universidade do Estado do Rio (Uerj). O oceanógrafo David Zee vai coordenar o trabalho que, segundo Garotinho, nunca foi feito.

Projeto - O presidente da fundaçao municipal Rio Aguas, Carlos Dias, disse que deverá receber em dois meses o estudo encomendado ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa (Lnec) - responsável pelo projeto do Aterro do Flamengo - sobre soluçoes para os problemas da lagoa. Uma das alternativas em discussao para melhorar o nível de oxigênio da água é o alargamento do canal do Jardim de Alah, que liga a lagoa à orla marítima, de 10 para 32 metros, e o aumento da profundidade, de 2 para 3,5 metros.

"Dou o dinheiro na hora que o prefeito quiser, mas para isso ele precisa me apresentar um bom projeto, que seja viável tecnicamente", disse Garotinho. Esse projeto, se for efetivado, causaria uma transformaçao completa do ecossistema da lagoa, que hoje é predominantemente de água doce. "Se nao houver intervençao do homem, a tendência da lagoa é sumir", afirmou Dias.

Multas - O presidente da Cedae, Alberto Gomes, disse que nao vai pagar os R$ 5,58 milhoes que a empresa deve em multas ao município por suposto lançamento de esgoto na lagoa. "A Cedae tem respeito pelo dinheiro público." A empresa terá R$ 40 milhoes este ano para o programa de esgotamento sanitário da zona sul, mas Gomes nao soube detalhar os projetos de engenharia que serao executados.

Promotor - Na terça-feira, o promotor Sávio Bittencourt, da Equipe de Proteçao ao Meio Ambiente do Ministério Público do Estado, deverá ouvir Moscatelli e o secretário de Estado do Meio Ambiente, André Corrêa. "Tanto o Estado como a Prefeitura têm responsabilidade na soluçao global do problema na lagoa", disse o promotor. Também está marcada para sexta-feira uma audiência no Conselho Regional de Arquitetura do Rio para discutir o problema.

Mancha - A mancha amarela que apareceu quinta-feira na orla do Rio já se estende do quebra-mar, na Barra da Tijuca, até a Praia de Copacabana. Novamente, há polêmica entre Estado e município sobre as causas do problema. Para a Fundaçao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), a mancha é um fenômeno natural provocado pela chuva, que traz detritos para o mar. Para o secretário municipal do Meio Ambiente, Maurício Lobo, "é esgoto que vem da Rocinha ou de condomínios da Barra". A secretaria colheu amostras da água para análise.




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