Política Titulo São Bernardo
‘PSDB apostar no velho em São Paulo será reprovado’

Orlando Morando avalia que partido precisa
garantir a renovação no pleito do ano que vem

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
16/05/2017 | 00:00
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André Henriques/DGABC


Após aparecer em pesquisas eleitorais como cotado para ser candidato ao governo do Estado, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), avalia que o PSDB terá de apostar na renovação no pleito do ano que vem, sob risco de perder a dinastia de 24 anos de governo ininterrupto em São Paulo.

“É inevitável que traga nome que inspire a renovação de gestão. Qualquer nome que represente a velha política, o velho modelo de gestão, será reprovado”, diz o tucano, em entrevista exclusiva ao Diário. Morando, porém,minimiza especulações em torno de seu nome. “Nunca estimulei candidatura. Nunca fiz movimento dentro do partido por candidatura.”

No cenário nacional, o chefe do Executivo de São Bernardo analisa que o tucanato tem boas chances de voltar a comandar o Brasil após 16 anos. “Tenho convicção que o modelo do PSDB é o que a sociedade vai mais almejar. (O ex-presidente) Lula (PT) tem recall, nome, governo com marcas. Mas hoje a maior marca do PT é corrupção. Não dá para desassociar.”

Como o sr. vê as reformas em curso do governo de Michel Temer (PMDB)? É a favor do jeito que elas estão redigidas?

Ninguém nega que as reformas são pautas da década, das últimas duas décadas. Mas acho que elas começaram a ser discutidas de trás para frente. Quando se fala em reformar a Previdência, que dá o maior calor porque impacta toda sociedade, acho que o presidente Temer não pegou no ângulo correto. Primeiro ele precisaria apresentar um plano para deixar a Previdência mais eficiente. Ele quer reformar um piso onde o telhado vaza. Não adianta reformar o piso, teria de reformar o telhado. Foi visto o modelo de eficiência de arrecadação da Previdência? Historicamente se ouvia falar de escândalo na Previdência. Acabou? Todo mundo paga em dia? Foi apresentado plano de recuperação da Previdência? Para mim precisaria ser feito um debate de quanto é possível arrecadar com o atual modelo, não ficar restrito a quanto se gasta. A reforma do jeito que está virou puxadinho. A impressão que tenho é que a reforma, aprovada do jeito que está, é punitiva. Porque você pune uma faixa da sociedade e privilegia uma outra faixa. Não defendo o texto como está. Acho que meu partido deveria aprimorar a discussão do modelo e exigir o que estou falando, debater onde estão os gargalos da Previdência. O gargalo não é só no pagamento.

Para o sr., o PSDB debate pouco essa questão?
Pouco, pouco. Sou crítico à reforma do jeito que ela está.

E nas demais reformas, qual sua visão?
Na trabalhista vejo avanços, mas não creio que o Senado a mantenha do jeito que ela está. Poderia ser colocado avanço melhor. Há clamor que é o fim da contribuição obrigatória sindical, que defendo. Você não pode ser representado por obrigação. Representatividade é por desejo. Represento o povo de São Bernardo porque venci a eleição. Sindicatos são importantes, cumpriram seu papel. Mas a forma de financiamento está errada. Já com relação à reforma tributária, não acredito. (Para atingir) A reforma tributária que o Brasil deseja, precisaríamos ter Congresso constituinte. Nunca vão aceitar, os Estados do Norte, Nordeste ou Sul, pactuar com tributos igual a São Paulo. A reforma tributária seria possível também com governo muito forte. E hoje não temos esse governo muito forte.

Como o sr. acha que o PSDB vai se colocar na eleição presidencial? É possível prever algum nome diante de tanta instabilidade política do momento?

Tenho convicção de que o modelo do PSDB é o que a sociedade vai mais almejar. Sem personificar. Primeiro porque foi o partido que colocou o Brasil de volta ao trilho do crescimento, da estabilidade econômica. A eleição do ano passado mostrou isso, só ver o número de cidades e Estados onde o PSDB venceu. É obrigação do partido colocar um modelo de gestão, governar com programas, com base na austeridade fiscal, governar cortando privilégios. O modelo que implementamos em São Bernardo governa por programas, que andam por toda cidade, há responsabilidade com o Orçamento, corte de privilégios. A sociedade não aceita mais farra com dinheiro público. Com base nisso, o nome é o menos importante. Temos bons nomes. O do governador (Geraldo) Alckmin, que foi governador quatro vezes em São Paulo. Cumpriu todos os ritos que um homem público gostaria. Há também o expoente prefeito da Capital, que é um fenômeno político. O (João) Doria é um fenômeno. O que permeia e impulsiona o Doria é o modelo de gestão. Uma forma muito pró-ativa da política, que é modelo que a sociedade quer. Político precisa tirar um pouco o gerúndio e realizar, fazer. Nomes vão trabalhando. Qualquer nome agora é prematuro. Para nós e qualquer outro partido.

Do outro lado do campo político, como o sr. vê as forças que podem se colocar?

(O ex-presidente) Lula (PT) tem recall, nome, governo com marcas. Mas hoje a maior marca do PT é corrupção. Não dá para desassociar. A maior marca do governo Lula é corrupção, o mais corrupto da história da República. Mas ele vai ter projeção estimada. Só que não acredito na eleição dele. Não sei nem se será candidato, por conta das acusações. A sociedade aprimorou muito. A maior parte do povo brasileiro sabe que o sofrimento que o brasileiro passa, com desemprego, é culpa do PT. A sociedade sabe que o PT faliu o Brasil. O restante, acredito, como balão de ensaio.

Como o sr. enxerga a Operação Lava Jato?
Importante. Tem colaborado para passar o Brasil a limpo. Temos que dar méritos aos quem estão conduzindo. A Justiça tem seu tempo, mas não pode ser muito tardio. Uma das coisas contundentes, graves, é obstrução da Justiça. Pelo que acompanhei de delações, há clara interferência do ex-presidente Lula nas investigações.

No âmbito da política estadual, o PSDB partirá para a eleição carregando 24 anos de gestões ininterruptas. Como fazer o eleitor confiar que o partido pode ficar mais quatro anos à frente do Estado?

Os novos prefeitos do PSDB, automaticamente, renovam aquilo que poderia ser considerado vencido. Não há como negar que um partido que está há 24 anos governado um Estado pode gerar fadiga. Mas as novas gestões, a minha, a do Doria, do Luiz Fernando (Machado) em Jundiaí, do Barjas Negri em Piracicaba, o Paulinho Serra em Santo André, trazem oxigênio, renovação. É nova pauta que é colocada e o PSDB não tinha se utilizado dela. Doria e eu, em prazo recorde, acabaremos com a fila da Saúde. Clamor social quase que generalizado. Isso oxigenou o modelo do PSDB, incorporando a eficiência, a retidão com o dinheiro público e novas propostas, novos programas. Acredito piamente que o PSDB consiga se manter à frente do Estado, por esse motivo. Houve um efeito clorofila, uma reciclada muito grande.

Como o sr. viu quando, em pesquisa, seu nome foi colocado dentre os possíveis candidatos tucanos ao Estado?
Foi surpresa, não vou negar. Quando veio a primeira pesquisa, eu igualado ao senador Aloysio Nunes, próximo do Bruno Covas (vice-prefeito da Capital), vi com bastante surpresa. São Bernardo é muito grande. Parece ter parente de morador de São Bernardo no Estado inteiro. As boas ações refletem. Nossa gestão também transcende fronteiras porque há proximidade com a Capital, fluxo flutuante de pessoas que vêm para cá. Atribuo também a aparição ao meu nome por causa de um modelo de gestão que está sendo aprovado, como mostrou o levantamento do instituto Paraná Pesquisas.

Há alguma vontade sua em ser candidato ao Estado?
Nunca estimulei candidatura. Nunca fiz movimento dentro do partido por candidatura. Estou focado na gestão da Prefeitura, dedicado 16, 17, até 18 horas por dia, sem nenhum exagero, em prol da cidade. Cuido dos meus negócios no domingo à tarde. Nunca pautei minha candidatura para outra esfera, para o governo do Estado. Claro que olho com surpresa e até com sinal de reconhecimento para quem tem quatro meses de gestão. Quero continuar trabalhando muito e muito focado para melhorar a vida do morador.

Há dificuldade quando um governo tenta emplacar seu sucessor. O que o PSDB precisa fazer para superar essas barreiras e continuar à frente do Palácio dos Bandeirantes?

É inevitável que traga nome que inspire a renovação de gestão. Qualquer nome que represente a velha política, o velho modelo de gestão, será reprovado. A gente não pode ser arrogante. Um dos tristes episódios da eleição presidencial de 2014 foi quem o Aécio (Neves, presidenciável à ocasião) escolheu para ser governador de Minas (Gerais). Foi buscar o velho, a velha política (o candidato tucano foi Pimenta da Veiga, derrotado pelo petista Fernando Pimentel). É inaceitável. Aqui temos de ter boa discussão, para trazer ao Estado alguém que simbolize a eficiência de gestão. O Estado precisa passar por seu processo de reciclagem. A mesma gestão pode ser eficiente, mas há algo nocivo em qualquer lugar: a zona de conforto. Não é que todo mudo precisa se sentir ameaçado. Só que a mudança é sempre muito bem-vinda. A iniciativa privada faz isso com toda frequência. A zona de conforto é nociva para o poder público. Infelizmente existe.

Foi superada a discussão de composição na próxima eleição com o PSB, do vice-governador Márcio França?
Isso não existe. Como um partido que pensa em governar o Brasil vai abrir mão de governar um Estado que governa há 24 anos? Nenhuma possibilidade. Essa ideia já está pacificada na executiva do PSDB. A candidatura será própria, não por arrogância. 




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