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Farc se dizem dispostas a aceitar financiamento oficial
Do Diário do Grande ABC
02/07/2000 | 17:52
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A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxista), mostrou-se neste domingo favorável à idéia de seu financiamento pelo governo e pela comunidade internacional, enquanto durar o processo de paz.

"Conseguir isto seria um passo importante, porque é mais rentável financiar a paz do que manter a guerra, e em muitos países civilizados, onde existe a verdadeira democracia, paga-se à oposiçao para que haja oposiçao. Isto significa financiar sua atividade opositora", disse à rede de notícias Radionet o negociador das Farc, Raúl Reyes.

O porta-voz acrescentou que esta seria também um forma da oposiçao ser aceita como uma "alternativa ao bipartidarismo que tem predominado ao longo de nossa história".

"Aqui nunca pudemos fazer isto, porque os opositores sao assassinados e eliminados a tiros", queixou-se Reyes, que disse nao saber se a iniciativa fará parte da proposta de cessar-fogo que o Governo entregará às Farc, como sugeriram alguns órgaos de imprensa.

As declaraçoes do comandante guerrilheiro sao feitas um dia antes de o Governo e as Farc trocarem as respectivas propostas sobre o cessar-fogo e hostilidades, o assunto mais complexo e delicado das negociaçoes de paz.

Diversos líderes empresariais têm concordado que o Estado financie os rebeldes enquanto se tece um tratado de paz e a comunidade internacional fiscalize para que esses fundos nao sejam utilizados na guerra, em troca das Farc terminarem com os seqüestros, libertarem os reféns - civis, policiais e militares - e deixarem de proteger o narcotráfico para obter recursos.

"É preferível que o Estado administre seu sustento, enquanto dura a negociaçao, para que devolvam os seqüestrados. Mas o tema deve estar condicionado a um cessar das hostilidades devidamente acompanhado, disse ao jornal El Tiempo, de Bogotá, o presidente do Conselho Sindical Nacional, Jorge Visbal, um dos mais ferrenhos críticos dos rebeldes.

A proposta também recebeu apoio do presidente da Federaçao Nacional de Comerciantes (Fenalco), Sebas Pretelt, membro de um comitê cívico que promove o diálogo de paz com a guerrilha.

"A Fenalco sempre foi de opiniao de que, em caso de haver um cessar de hostilidades, é preciso buscar um mecanismo de financiamento para a guerrilha durante o período de negociaçao. Temos de aceitar isto como uma negociaçao temporária, porque o país tem de escolher entre o prosseguimento do seqüestro e extorsao, ou que durante um período seja mantido o status da guerrilha", ressaltou Pretelt ao mesmo jornal.

Quanto ao ex-chanceler colombiano Augusto Ramírez, que integrou a missao das Naçoes Unidas que participou do processo de paz de El Salvador, afirmou que a iniciativa é viável dentro de um quadro humanitário, e propôs que a seja incluído um compromisso das Farc, no sentido de nao continuar se financiando por meio da proteçao ao narcotráfico.

Mas o analista Fernando Cepeda opinou que um dos inconvenientes da iniciativa é a sua duraçao porque, segundo declarou a El Tiempo, esta é uma fórmula aplicável para a etapa final do processo de paz e nao para o seu início.

"Isto se faz quando uma guerrilha decide deixar de ser guerrilha. Antes é muito difícil que a comunidade internacional queira financiar um grupo rebelde", explicou.




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