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Álbum histórico traz Gonzagão e Gonzaguinha juntos
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
14/09/2003 | 20:27
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Aquela temporada de shows foi histórica. Na sede da gravadora EMI, em 1981, Luiz Gonzaga (1912-1989) e Gonzaguinha (1945-1991) pela primeira vez se desfaziam publicamente de suas diferenças pessoais e ideológicas para dividir o mesmo palco. Os espetáculos renderam um disco de vinil duplo, que agora a BMG recoloca no mercado pela primeira vez em CD, também duplo: Gonzagão & Gonzaguinha - A Vida do Viajante (R$ 30, em média).

As diferenças entre o Velho Lua e seu filho não eram apenas musicais. Luiz Gonzaga Jr. foi fruto da união de Gonzagão com uma dançarina e cantora, Odaléia. Com a carreira em plena ascensão, o sanfoneiro mal teve tempo para o menino, e distanciou-se de vez a partir de 1948, quando casou-se com outra mulher. Assim, Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos – embora recebesse apoio material do pai – e só passou a conviver com ele aos 17 anos.

Nesse período, as divergências se acentuaram. “Ele ficava o dia inteiro com o violão, curvado na cama. Parecia um corcunda”, disse Gonzagão, em uma entrevista. Ele temia que a postura política do filho, sempre de esquerda, trouxesse problemas. E esse rejeitava o comportamento do pai, favorável ao governo.

Quando os dois se uniram profissionalmente, as rusgas pareciam ter se dissipado. Luiz Gonzaga era artista consagrado; Gonzaguinha vivia o auge de sua carreira, então com um repertório essencialmente romântico no lugar das canções de protesto.

A admiração era mútua. A ponto de Gonzaguinha abrir o show dizendo: “Esse show coloca pra fora um pouco da trajetória (...) do artista talvez mais popular deste país, no entanto é uma das pessoas mais marginalizadas através dos tempos”.

Na faixa Boiadeiro, é o pai quem se derrama, revelando ao público o que gostaria de fazer se pudesse nascer de novo: “Eu queria ser o pai de Gonzaguinha. Isso mesmo, quer queira, quer não. (...) Dia 1º de junho, esse dia de hoje, nessa hora mesminha (...) queria estar gravando este LP, com o meu filho Gonzaguinha”.

A diferença de estilos em momento algum compromete o show. Pelo contrário, enriquece. Gonzaguinha mostra algumas canções de protesto, como Achados e Perdidos, e outras mais românticas e alegres, como Grito de Alerta e Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração).

Luiz Gonzaga é festa desde o primeiro momento em que pisa no palco, com a divertida Apologia ao Jumento. É capaz de manter a atenção do público só com sanfona e discurso, como na engraçadíssima Karolina com K. E lá estão também seus clássicos, como Assum Preto, Derramaro o Gai, Baião e Juazeiro. Eles cantam juntos, no final, A Vida do Viajante.




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