O técnico Radamés Lattari assumiu a Seleçao Brasileira após a Olimpíada de Atlanta (1996), quando o sonho do segundo ouro olímpico já havia se transformado em latao e o Brasil, que quatro anos atrás subira na parte mais alta do pódio em Barcelona, nao tinha sequer ficado entre os três primeiros. Desconhecido para a maior parte das pessoas, Radamés passou a investir nas mudanças. Buscou revelaçoes, formou uma nova base e agora se prepara para ir a Sydney, de onde pensa "garimpar" uma nova medalha dourada. Será que tem condiçoes? Ele aposta que sim.

Sem temer as críticas, que nao foram poucas nos últimos tempos, Radamés fala com orgulho dos novos valores que levou à seleçao, como o jovem Dante, titular da equipe com apenas 19 anos, o levantador Marcelinho e o meio-de-rede Gustavo. E ainda mantendo a base, com Nalbert, Maurício, Douglas e agora Giovane e Tande, que foram buscados na praia. "Eles sao fundamentais para a seleçao", elogia Lattari.

E o futuro? Lattari disse ao Diário que nao sabe o que vai "fazer no dia seguinte à Olimpíada", mas acha que seu ciclo à frente da seleçao já terá acabado. Fala também de uma proposta para dirigir uma equipe, que seria montada pelo Banco do Brasil e que poderia ter sede no Grande ABC, mas que nao aceitou por nao dar tempo de contratar jogadores ainda para a temporada 2000. A seguir, os principais trechos.

Diário - Radamés, quais as chances do Brasil na Olimpíada de Sydney?
Radamés Lattari - Eu acho que nós temos muita chances, só que com as mudanças da regra, eu acredito que o Brasil tenha possibilidade de ser um dos oito finalistas. Entre esses oito finalistas há um equilíbrio como nunca houve. Você tanto pode ser primeiro quanto oitavo. Vai depender muito de você estar iluminado, tudo correr bem, para que no momento dos jogos decisivos, principalmente nas quartas-de-final, a equipe possa estar rendendo muito bem, e ter a possibilidade de nao ter acontecido o problema de contusao, nenhum problema físico, nenhum problema de erro de arbitragem e, enfim, que tudo dê certo.

Diário - Qual a importância de Tande e Giovane para a seleçao?
RADAMÉS - Eu acredito que, principalmente agora com o problema da contusao do Carlao, a chegada de Tande e Giovane vai ser muito importante porque eles vao poder auxiliar o Maurício, o próprio Douglas e o Nalbert, que é o capitao do time, no sentido de dividir a tarefa de dar experiência para os jogadores mais jovens na Olimpíada.

Diário - Quando você assumiu, começou a procurar novos jogadores, revelaçoes, e recebeu críticas por todos os lados até de treinadores. O que você pensa disso?
RADAMÉS - Eu acho que as maiores críticas que eu recebi vêm de confronto de todos os regionalismos. Acho que nunca existiu uma uniao tao grande dos treinadores brasileiros. O que eu posso dizer em relaçao aqueles que me criticavam, que quando assumi perdemos uma geraçao, e estamos chegando ao final de um ciclo olímpico com um grupo de jogadores jovens e que se tornaram conhecidos no mundo inteiro e que também mantiveram sempre o vôlei brasileiro entre os quatro primeiros do ranking mundial. Acredito que, ao contrário do que aconteceu comigo, o próximo ciclo olímpico após Sydney começará já com uma base bem adiantada para as próximas competiçoes.

Diário - Você pretende continuar como técnico da Seleçao Brasileira após a Olimpíada?
RADAMÉS - Eu, honestamente, nao sei o que vou fazer da minha vida no dia seguinte da Olimpíada, porque eu estou tao concentrado na minha meta, que é chegar a Sydney bem, que eu nao pensei sobre o meu futuro. Agora, acredito que mesmo com uma conquista eu dificilmente continue na seleçao, porque eu acho que teria cumprido o meu círculo, tenho que deixar o presidente da CBV (Ary Graça) à vontade sobre o que ele queira fazer. Eu também tenho que pensar um pouco na minha família, que foi bastante prejudicada nos últimos anos.

Diário - Hoje o técnico Ricardo Navajas (do Suzano), por exemplo, fala abertamente que quer ser o técnico da seleçao. Como é que você vê essa questao?
RADAMÉS -Eu acho que nao só o Ricardo, mas como todos os treinadores brasileiros deveriam ter a ambiçao de um dia chegar a serem técnicos da seleçao. Eu acho que é uma reivindicaçao mais do que justa, principalmente num país como o nosso, onde nós temos inúmeros treinadores da maior competência, do maior gabarito.

Diário - Entao, depois da Olimpíada, existe a possibilidade de a gente ver Radamés num clube? Há algum tempo circulou um boato de você iria dirigir uma equipe montada pelo Banco do Brasil e que este time ficaria sediado em Sao Bernardo. Qual o fundamento desta história?
RADAMÉS - Eu fui convidado, nao sei te dizer se o convite chegou a ser oficial, mas houve. Aconteceu uma conversa com pessoas do Banco do Brasil, no sentido de formaçao de uma equipe. E conhecendo a seriedade dessas pessoas, eu disse que toparia. Só que essa possibilidade quando surgiu já era um pouco tarde, para esta temporada (2000/2001). E entao, a partir dali eu nao tive mais nenhum contato.

Diário - Essa consulta que você recebeu era para uma equipe em Sao Bernardo?
RADAMÉS - Na época, ainda nao tinha sido decidido qual a cidade. Existia a possibilidade de Rio de Janeiro, Sao Paulo e Brasília.

Diário - Todo mundo sabe que você talvez é o maior flamenguista na praça. O Vasco hoje montou um supertime de vôlei. Contratou muita gente. Se te chamassem para ser técnico do Vasco, você iria?
RADAMÉS - Olha, eu comecei minha carreira como treinador do Botafogo. Você tem que enfrentar duas situaçoes: uma é o teu lance profissional, e o outro lance é a tua paixao. Eu tenho uma paixao pelo Flamengo, tao grande que eu acredito que nenhum vascaíno fosse convidar para ser técnico do Vasco. E fico até contente porque, assim, nao preciso ficar com essa situaçao na minha cabeça.